O OUTRO LADO DA MOEDA
Focus vê IPCA em 4,90%, quase na meta
Publicado em 10/07/2023 às 13:16
Alterado em 10/07/2023 às 13:16
A Pesquisa Focus, encerrada pelo Banco Central na 6ª feira, antes da aprovação da volta do voto de desempate pró governo no CARF, e divulgada hoje, voltou a apresentar dados benignos. A previsão do IPCA de 2023 caiu de 4,98%, na semana anterior, para 4,95%, sendo o que 151 instituições apontaram na revisão de apostas dos últimos cinco dias úteis a taxa de 4,90%. Quase dentro do teto da meta, que é de 3,25% + 1,50% de tolerância = 4,75%. Para 2024 o IPCA foi mantido em 3,92% (mas caiu a 3,83% nos últimos 5 dias úteis, dentro, portanto, do teto da meta (3,00%+1,50%=4,50%).
O mercado, de um modo geral, aposta que o Comitê de Política Monetária promova um corte inicial de 0,25 ponto percentual na taxa Selic na reunião de 2 de agosto, quando ela cairia de 13,75% para 13,50%, seguindo-se três cortes de 0,50 p.p. até 12% em dezembro. Mas, diante da desinflação prevista e da valorização do real (R$ 5,00 é a taxa de câmbio esperada em dezembro), já há apostas (como defendo) de um corte inicial de 0,50%, com a Selic em 11,75% em dezembro. Para 2024, a Selic foi mantida em 9,50%, com 9,00% para 2025.
Itaú reduz IPCA e Selic
O Itaú acaba de divulgar nesta 2ª feira, 10 de julho, suas novas previsões para o cenário de julho. O banco manteve a projeção para o crescimento do PIB em 2023 e 2024 em 2,3% e 1,5%, respectivamente, explicando que, “a despeito dos efeitos do aperto monetário, a atividade econômica e o mercado de trabalho continuam mostrando resiliência”. A taxa de desemprego de 2023 e 2024 foi mantida em 8,0%.
Mas o Itaú revisou para baixo a projeção de inflação em 2023 - de 5,3% para 5,1%, incorporando o corte de preços da gasolina na refinaria anunciado em junho e inflação mais baixa de produtos industrializados. Em maio, antes da nova política de preços da Petrobras, a previsão era de 5,8%. Para 2024, manteve a projeção em 4,4% com a inércia menor compensada pelos efeitos do mercado de trabalho ainda apertado.
Risco fiscal menor
Ao analisar a aprovação, no início da noite de 6ª feira, da volta do voto de qualidade pró governo no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), o Itaú admitiu que “o resultado deste ano pode ser um pouco melhor do que estimamos, dependendo do sucesso da agenda de receitas extraordinárias vindas da renegociação de débitos tributários no Carf”. Antes da votação, o Itaú esperava déficits primários de 1,0% do PIB (R$ 110 bilhões) em 2023 e 0,8% do PIB (R$ 90 bilhões) em 2024 e dívida bruta em 75% e 78% do PIB para esses anos, respectivamente.
O voto de desempate foi invertido a favor do contribuinte desde abril de 2020 pela Lei 13.988/20. Segundo o Ministério da Fazenda, somente nos últimos três anos anteriores a essa lei, a Fazenda Nacional obteve êxito em processos no Carf com o voto de desempate que envolveram cerca de R$ 177 bilhões. A estimativa é de que cerca de R$ 59 bilhões ao ano deixariam de ser exigidos pela via administrativa se persistisse o voto de desempate pró contribuinte. O ganho de 2023 é estimado em R$ 50 bilhões. A decisão foi importante para os planos do governo de atingir as metas de resultado primário fixadas no novo arcabouço fiscal. Para 2024, o resultado primário deverá ser zerado.
O Itaú considera que “o arcabouço fiscal e as medidas complementares de recomposição das receitas reduzem riscos extremos, mas ainda há desafios de implementação significativos à frente. Os ganhos de credibilidade e consolidação da regra podem ser incrementados por tributação que gere ganhos de produtividade e melhore o crescimento de longo prazo da economia”.
Inflação de junho em diante
A divulgação do IPCA de junho, nesta 3ª feira, pelo IBGE, com estimativas de deflação de 0,09%, segundo a Pesquisa Focus, deve mostrar inflação em 12 meses abaixo do centro da meta de 3,25% prevista para 2023. A LCA Consultores prevê queda de 0,10%, o que derrubaria taxa em 12 meses de 3,94% para 3,14% (uma vez que o IPCA subiu 0,67% em junho de 2022.
A trajetória a partir de julho deve voltar a ser ascendente (pois os cortes dos impostos federais e estaduais de combustíveis, energia elétrica e comunicações) até 31 de dezembro de 2022, gerou deflação de 1,32% de julho a setembro), mas a continuidade da deflação no atacado e a melhora da dinâmica das expectativas de inflação devem abrir caminho para o início do ciclo de cortes da Selic já em agosto.
Até lá as apostas vão variar entre 0,25% e 0,50%. Acredito que as aprovações dos nomes de Gabriel Galípolo, para a diretoria de Política Monetária, e de Aílton Santos, para a diretoria de Fiscalização, vão gerar novos debates no Banco Central com relação às taxas de juros reais neutras (o Banco Central entende que a taxa de juros real neutra deve ser elevada de 4% para 4,5%). Entretanto, o juro real está acima de 10%, indicando forte espaço para queda.
São os juros, estúpido!
Os dados sobre comércio e o setor de serviços referentes ao mês de maio vão corroborar a visão do impacto do aperto das taxas de juros sobre os diversos setores da economia. Os números de maio da produção de veículos leves e pesados pela Anfavea comprovam que muito mais que medidas pontuais de estímulos ao consumo (redução temporária de impostos), o que vai fazer o consumidor (ou empresário) a se dispor a trocar de veículo, serão as condições de financiamento. E sem redução dos juros não haverá arranque da produção.
Em junho houve perda de tração, com produção de 189 mil veículos leves e pesados, uma queda de 7,1% ante o mesmo período do ano passado e de 8,1% na margem, na série com ajuste sazonal. Esse resultado refletiu tanto o recuo da produção de leves (-8,1% ante maio) como de pesados (-9,5%).
“Embora o programa de descontos em veículos elaborado pelo governo federal tenha impulsionado as vendas no curto prazo, o cenário prospectivo para a demanda segue desafiador, diante do aperto monetário e da desaceleração da atividade econômica em curso”, sublinha o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco.