Copom: Focus aponta baixa maior

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Por Gilberto Menezes Côrtes

O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista gravada 5ª feira e exibida domingo à noite no “Canal Livre” da TV Bandeirantes, assinalou que “muitos economistas apontam para a aceleração da baixa dos juros” pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central, que se reúne amanhã e 4ª feira. E a Pesquisa Focus, concluída 6ª feira, após a surpresa baixista da inflação de agosto (0,23%), indicou baixa do IPCA de 2023 (de 4,93% para 4,86%, sendo de 4,84% as previsões dos últimos cinco dias úteis) e de 2024 (de 3,89% para 3,86%, sendo de 3,83% as previsões dos últimos cinco dias).

Como o Copom mira o horizonte de 18 meses à frente, no caso, o 1º trimestre de 2025, e as projeções do IPCA de 2025 e de 2026 estão ancoradas em 3,50% (centro do teto da meta, que é de 3,00% + tolerância de 1,50%=4,50% para 2024, 2025 e 2026, estão mais ou menos preenchidas, com a queda dos índices de serviços no IPCA de agosto (0,23% no mês e 4,61% em 12 meses), falta apenas uma queda mais sensível em serviços para o Copom se sentir estimulado a apressar o passo na reunião desta semana e reduzir a Selic em 0,75 ponto percentual.

As reuniões do Banco Central dos Estados Unidos (o Fed se reúne 4ª feira e deve anunciar o fim do ciclo de alta este ano, como fez o Banco Central Europeu, semana passada) e mais as do Banco do Japão e do Banco da China, ambos com tendência baixista, podem dar maior garantia de passos ousados para o Copom.

A última ata do Copom assinalou que a redução seria de 0,50% nas próximas reuniões, mas é crescente, até entre os economistas mais ortodoxos e conservadores em relação ao ritmo de queda da Selic a possibilidade de aceleração ainda este ano. O Departamento de Pesquisas Macroeconômicas do Itaú, que é chefiado por Mário Mesquita, ex-diretor de Política Monetária do Copom, já reduziu de 11,75% (que é a previsão da mediana do mercado para a Selic em dezembro) para 11,50% a sua aposta na taxa básica de juros, acreditando em aceleração no fim do ano.

A economista Ana Paula Vescovi, também de linha ortodoxa, ex-secretária do Tesouro no governo Temer e que comanda o Departamento de Estudos e Pesquisas do Santander, também está revendo suas posições. O Santander projeta a Selic em 11,75% (no começo do ano projetava até aumento dos 13,75% fixados pelo Copom em agosto de 2022, para 14%), acredita que o Copom manterá a velocidade de cortes em 0,50 pontos base.

Setor real X financeiro

Mas já não descarta, “dada a recente melhora nos números atuais da inflação — especialmente nos serviços —, um ritmo mais rápido de cortes à frente”. É, mais ou menos a mesma postura do Itaú. Este ritmo de cautela se ajusta à programação do setor financeiro. Entretanto, a lógica do setor produtivo (a indústria e o comércio que têm seu melhor momento justamente no 3º e 4º trimestre, com as encomendas paras as vendas de fim de ano (dia das Crianças, em 12 de outubro, “Black Friday”, em novembro, e Natal), pede aceleração já no corte dos juros, como vocalizou o ministro Fernando Haddad.

O Santander, no entanto, acredita “que o BCB estará vinculado a uma postura contracionista ao longo de 2024, já que vemos espaço limitado para esse ciclo de flexibilização, devido a fatores locais e internacionais que vão desde expectativas de inflação ainda desancoradas até um mercado de trabalho resiliente. O Santander mantém sua previsão da Selic em 11,75% para 2023, mas reduziu a de 2024 de 10% para 9,50%, acima dos 9% previstos pela mediana da Focus.

Sua previsão de política monetária ainda apertada em 2024 leva à manutenção de um crescimento de apenas 1% para o PIB do ano que vem. Para 2023, o banco espanhol já reviu sua projeção de 1,9% para 2,5%. Ainda está bem abaixo dos 2,89/2,90% previstos pela Focus para este ano.

Preços seguem benignos no atacado

Conforme divulgado nesta manhã pela FGV, o IGP-10 subiu 0,18% em setembro, abaixo do esperado pelo mercado e dos 0,28% esperados pelo Bradesco, revertendo a queda de 0,13% registrada em agosto. Os preços de combustíveis pressionaram o índice para cima, enquanto as principais influências baixistas vieram de produtos agrícolas, com destaque para pecuária. Em 12 meses, o índice registra queda de 6,35%.

A forte alta do petróleo, que chegou a US$ 95 por barril, pode vir a pressionar os preços domésticos se a Petrobras promover reajuste. Se fosse pelo PPI, a alta teria de ser quase imediata. Mas o uso dos fatores domésticos (a produção nacional de petróleo a custos bem mais baixos e a alta ocupação da capacidade instalada do parque de refino, permitem à estatal atenuar os impactos externos.

A Pesquisa Focus ainda não refletiu essas expectativas de alta nos preços domésticos. O IPCA de setembro é estimado em 0,38% (0,37% nas apostas dos últimos cinco dias úteis). Como o IPCA acumulava alta de 4,61% em 12 meses até agosto e taxa foi negativa em 0,29% em agosto de 2022, a taxa em 12 meses subiria a 5,31%. Entretanto comparados aos índices de 2022, o IPCA de outubro (0,39%, contra 0,59% em 2022) e de novembro (0,30% contra 0,49%) apontam desaceleração no IPCA em 12 meses. O que se consumaria em dezembro, se não houver reajuste brusco até lá, já que em 2022 houve alta de 0,62%.