Focus vê IPCA 1% menor até maio

Por

No primeiro dia de reuniões do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), que decide amanhã nova baixa de 0,50 ponto percentual na taxa Selic para 10,75% e anuncia a trajetória da política monetária, a Pesquisa Focus divulgada nesta 3ª feira pelo Banco Central traz boas notícias no horizonte inflacionário. Pelas previsões de 153 de instituições financeiras, consultorias e institutos de pesquisa, o IPCA deve cair quase um ponto até maior, acumulando 1,98%, contra 2,95% em igual período de 2023.

As previsões para o IPCA de março (0,22% a 0,20%, nas respostas dos últimos cinco dias úteis), de abril (0,31% a 0,30%, idem) e de maio (0,21% nas duas bases de previsão) apontam uma queda de quase um ponto frente aos primeiros cinco meses de 2023. Apesar dos sustos com a alta da alimentação desde o fim do ano e do dólar nesta semana, em todas as métricas a taxa acumulada do IPCA segue declinante.

Por isso, o mercado, temeroso com o soluço do dólar (que impacta bens importados e transacionáveis com o exterior) e a pressão nos alimentos promoveu na mediana de 152 respostas até 6ª feira, 15 de março, leve alta na projeção do IPCA em dezembro: de 3,77% para 3,79%. Entretanto, nas análises mais recentes, a mediana de 147 respostas nos últimos cinco dias úteis reduziu a projeção para 3,70%. A alta do dólar elevou as projeções dos preços administrados de 4,07% para 4,16%, com mediana de 4,20% nos últimos cinco dias úteis.

O mercado manteve a projeção de alta de 1,80% no PIB deste ano e de 9% na taxa Selic em dezembro. Para 2025, a previsão é de um IPCA de 3,52% (3,55% nos últimos cinco dias), um crescimento de 2,00% no PIB e a Selic em 8,50% em dezembro.

Os poços sem fundos da Braskem

É realmente impressionante e assusta qualquer pretendente à compra do controle da maior petroquímica da América Latina, o montante dos prejuízos já gerados pela exploração de salgema pela Braskem, em Maceió (AL). No balanço do 4º trimestre da companhia, controlada 50,1% pela Novonor (grupo Odebrecht) e com participação minoritária (47%) da Petrobras, houve prejuízo de US$ 317 milhões, ou R$ 1,6 bilhão. O ano de 2023 fechou com prejuízo líquido de US$ 935 milhões, ou R$ 4,6 bilhões.

Mas só as provisões para cobrir as indenizações com o afundamento dos poços de extração de salgema às margens da Lagoa de Mundaú custaram R$ 997 milhões no 4º trimestre, ampliando as perdas da Braskem Idesa (México). No ano, as provisões no Brasil somaram R$ 1,441 bilhão. Entretanto, muitas indenizações, acordadas em meados de 2023, com a prefeitura de Maceió já estavam em curso, somando desembolsos de R$ 3,826 bilhões. Deduzidas provisões já feitas, houve impacto de R$ 5,240 bilhões no caixa da Braskem.

Até dezembro já foram pagos R$ 15,5 bilhões. Acontece que depois do colapso, em 10 de dezembro de 2023, da cavidade 18, um dos 35 poços em observação e com atividades suspensas desde 2019, choveram ações de indenizações sobre a companhia. Uma delas selou, em janeiro, indenização de três salários-mínimos a 1870 pescadores que atuavam na lagoa, somando R$ 7,520 milhões.

Briga política

Apesar de a empresa garantir que após o colapso do poço 18, as inspeções indicaram que não serão necessárias medidas adicionais de preenchimento com areia daquela cavidade, sendo considerada no grupo das “de preenchimento natural”, o plano de fechamento de suas 35 frentes de lavra segue normalmente. Mas, sempre poderá haver surpresas, sobretudo nas placas tectônicas da política de Alagoas após a instalação CPI no Senado, liderada pelo senador Renan Calheiros, inimigo político do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).

A prefeitura de Maceió é comandada por João Henrique Câmara. Eleito pelo PSB, ele é aliado e protegido político de Arthur Lira. Mas o governo do estado, comandado por Paulo Dantas (MDB), eleito em 2022, é aliado dos Calheiros. É evidente que a campanha para a prefeitura de Maceió vai explorar a adesão precipitada da prefeitura a um acordo com a Braskem em meados de 2023.

Instigado pelos Calheiros, Dantas acionou o Ministério Público Estadual a reabrir acordos bilionários contra a Braskem. Outra ação foi retomada pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), pelos danos causados pela interrupção da linha que cortava a região desocupada depois que residências, edifícios residenciais, comércios, escolas e clínicas foram condenadas pela defesa civil. A CBTU, que é subordinada ao Ministério dos Transportes, comandado pelo ex-governador Renan Filho (MDB-AL), cobra R$ 1,46 bilhão. As duas partes têm prazo até junho para chegarem a um acordo.