O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

[email protected]

O OUTRO LADO DA MOEDA

Dólar determina os juros da Selic

Publicado em 24/07/2024 às 18:30

Alterado em 24/07/2024 às 21:02

O mercado financeiro sempre inventa pretexto para justificar o aumento ou manutenção da taxa Selic em 10,50% pelo Banco Central. Há um mês, quando o dólar subia porque se valorizou em todo o mundo pelo adiamento da redução dos juros nos Estados Unidos, e chegou a R$ 5,70 no Brasil, a justificativa era a descrença sobre o equilíbrio fiscal. O dólar voltou a cair quando boas notícias nos EUA abriram espaço para a redução dos juros pelo Fed em setembro.

No Brasil, o governo, premido por gastos extraordinários de R$ 15,8 bilhões para socorrer o Rio Grande do Sul, determinou bloqueio de R$ 15 bilhões no Orçamento, cuja projeção de déficit subiu de R$14,5 bilhões para R$ 28,8 bilhões pela combinação de aumento de gastos e frustração das receitas. Mas o dólar, que sempre tem impacto na inflação, ao pressionar os preços dos produtos “tradeables” e sobretudo os combustíveis, agora virou a justifica-mor para um (contraproducente) aumento dos juros quando o Fed muda o sinal.

Pelo menos é o que indica um estudo publicado ontem pelo departamento de estudos macroenômicos do Itaú. O estudo lembra que “segue valendo a regra de bolso do regime de metas (da inflação), segundo a qual para cada 0,30 p.p. de desvio da projeção no horizonte relevante (6 trimestres à frente) em relação à meta é necessário um ajuste de aproximadamente 1,00 p.p. da taxa Selic”.

No entanto, frisa o estudo, “é possível que, em momentos de maior incerteza, a taxa Selic mais alta seja insuficiente para alterar as expectativas de inflação e/ou a taxa de câmbio, de modo que a inflação fique mais elevada e mais distante da meta”. [na verdade, o Banco Central foi muito conservador e apostou apenas na alta da Selic para conter o dólar – em vez de swaps – e agora está vendo as oscilações do real diante do dólar de braços cruzados].

O Itaú, “dado o movimento recente de depreciação da moeda, mesmo com a sinalização pelo BC de juros parados, simulou no modelo do BC o impacto da estratégia de manutenção da Selic em 10,50% para diferentes níveis de câmbio e de resposta das expectativas e do câmbio aos juros. Em particular, caso o câmbio se estabilize em patamar próximo das máximas recentes (R$ 5,70), a inflação no horizonte relevante (1º trimestre de 2026) ficaria entre 3,3% e 3,5%, a depender da resposta das expectativas e do câmbio ao choque de juros”.

[No mercado financeiro, previsões ou profecias, por sugestionarem, costumam ser autorrealizáveis: o dólar deu um salto hoje de 0,90% diante do peso mexicano e de 1,21% diante do real, com a taxa a R$ 5,65, o cenário é preocupante até o Federal Reserve definir o horizonte dos juros nos EUA na reunião do dia 31, mesmo dia em que o Comitê de Política Monetária define a política].

A ameaça no câmbio

A regra de três feita pela simulação do Itaú leva em conta a taxa de câmbio de R$ 5,30 projetada no último Relatório Trimestral de Inflação do Banco Central, já com a Selic em 10,50% ao ano. Com a taxa em 10,50%, o IPCA estimado para o 1º trimestre de 2026 cairia de 3,4% para 3,1%.

Se o câmbio melhorar e o dólar baixar a R$ 5,10, haveria espaço para a Selic baixar a 9,9%. Entretanto, se o dólar estacionar em R$ 5,50, a taxa Selic necessária para manter a inflação na meta seria de 10,90%; se piorar para R$ 5,70, a Selic necessária seria de 11,30%; e, finalmente, para uma taxa cambial de R$ 5,90, a Selic teria de subir para 11,90%. Neste caso, “todos aos botes”].

Brasil cai para 18,8% do lucro do Santander

No balanço semestral do Santander Brasil o lucro contábil de 2024 (R$ 6,184 bilhões + 46,9% sobre o do mesmo período de 2023/ 1,141 bilhão de euros + 38,7% de variação no período), a participação da filial brasileira (a maior em clientes e agências) respondeu por 18,8% do lucro global de 6,059 bilhões de euros do conglomerado de Ana Botin.

A Espanha liderou os lucros com 28% do total (1,756 bilhão de euros). O 3º melhor resultado foi do México (840 milhões de euros, ou 13,8% do lucro global. A Europa respondeu por 52,6% (3,187 bilhões de euros). Os Estados Unidos deram o 4º lucro (664 milhões de euros) e o Reino Unido, que tem a 2ª maior rede e clientela do Santander, ficou com 10,4% dos lucros (630 milhões), com perda de 23% em euros, devido às perdas na conversão da libra esterlina.

No 2º trimestre no Brasil, o Santander obteve lucro contábil de R$ 3,332 bilhões, um aumento de 10,3%. Chamou a atenção o apetite do banco para expandir os créditos para as pequenas e médias empresas (+14,0% frente a junho de 2023), contra 8,7% das pessoas físicas e 1,9% das grandes empresas. No mínimo, uma estratégia arrojada.

É que, embora as PEM representem apenas 13,17% dos empréstimos, com R$ 70,922 bilhões (menos da metade dos R$ 143,999 bilhões dos créditos às grandes empresas, a inadimplência das pequenas firmas cresceu de 4,2% para 4,7% em um ano e a inadimplência das grandes é de apenas 0,2%.

Para as pessoas físicas, que respondem por 46,2% dos empréstimos (sem contar avais e fianças), a inadimplência recuou de 5,9% em junho de 2023, para 4,9% em junho deste ano.

Deixe seu comentário