O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Quem voa mais alto: gasolina ou alimentos?

Publicado em 25/07/2024 às 15:00

Alterado em 25/07/2024 às 18:02

A divulgação do IPCA-15 de julho, a prévia do IPCA cheio que o IBGE divulga no dia 9 de agosto, com alta de 0,30%, contra 0,39% no IPCA-15 de junho, surpreendeu para cima o mercado financeiro, que estimava alta de 0,22% (caso do Itaú) a 0,25% (previsão da LCA Consultores). A boa notícia foi a baixa da Alimentação e Bebidas (-0,44% no IPCA-15, após alta de 0,44% no IPCA cheio de junho), que ajudou a contrabalançar a alta de 1,43% na gasolina (o item que mais pesa no IPCA – com 5% a 6% a depender da própria variação de preços - entre os mais de 370 itens pesquisados pelo IBGE).

Mas o Itaú destaca as surpresas altistas em passagem aérea (+19,21%) e serviços para veículos. A Alimentação e Bebidas, com 21,52% no cálculo do IPCA é o índice que mais pesa na inflação, seguido pelos 20,52% da Habitação. Transportes pesa com 15,19% e Saúde e Cuidados Pessoais pesa com 13,50%, sendo as despesas com planos de saúde (4,014%) as mais relevantes.

Os impactos da gasolina

A gasolina é o item que mais pesa e impacta preços de bens e serviços, razão pela qual tanto no governo Bolsonaro (Paulo Guedes) quanto Lula (Haddad) trataram de colocar um representante da Fazenda/Economia no Conselho de Administração da Petrobras para que a alta de preços da gasolina não realimente a inflação. Percebendo que o Banco Central não daria conta de derrubar a inflação e afetaria a reeleição de Bolsonaro, Guedes interveio diretamente nos preços, cortando impostos federais e estaduais em junho de 2022, o que veio a trazer impactos fiscais e inflacionários na reoneração (parcial) dos impostos em 2023.

Mas o fim do PPI, o sistema de paridades de preços internacionais que alinhava os preços domésticos dos combustíveis aos do mercado internacional, ajustado pela taxa de câmbio (sem considerar que o Brasil podia usar o petróleo mais leve – e mais barato – do pré-sal nas refinarias), em maio do ano passado, ajudou a estabilizar preços. Mesmo este ano, quando os preços dos alimentos dispararam com o impacto do El Niño, a evolução da gasolina neutralizou as pressões. Mas a alta recente do dólar trouxe novo desafio que a Petrobras não pode mais segurar os reajustes, que vão pesar no IPCA de julho.

O preço da gasolina funciona como um termômetro particular dos profissionais autônomos para regular os preços dos serviços que realizam. A última alta foi em parte compensada pela baixa do tomate, da cebola, da batata-inglesa, da cenoura e das frutas, mas serão inevitáveis pressões em serviços.

Passagem aérea é a mais volátil

Na leitura do IPCA-15, o Itaú observa que “os itens que repetem a variação do IPCA-15 no IPCA fechado do mês (passagem aérea, cursos, aluguel e condomínio, mão de obra, empregado doméstico, entre outros) vieram 11 bps acima” da projeção do banco. Na média móvel de três meses, com dados dessazonalizados e anualizados, serviços subjacentes aceleraram de 4,2% para 4,3%, enquanto o núcleo de industriais subjacentes desacelerou de 2,4% para 2,1%. Já a média dos núcleos acelerou de 3,4% a 4,1%. A inflação pede vigilância para não estourar o teto da meta (3,00%+1,50%=4,50%).

Um dado curioso, que merece atenção depois que o governo lançou o programa de passagens aéreas baratas para idosos, é a variação dos preços das passagens aéreas. Impactadas diretamente pelos preços do querosene de aviação (paga altos impostos nos voos domésticos, mas é isento nos voos internacionais). Os preços tanto decolam meses seguidos, como baixam por mais de dois dígitos e influem muito no item Transporte do IPCA. No IPCA-15, as passagens aéreas subiram 19,21% após caírem 9,88% no IPCA de junho.

Para o Itaú, o 3º trimestre deve manter “o componente de serviços siga pressionado, refletindo o mercado de trabalho apertado”. O banco “também espera aceleração dos bens industriais, refletindo o câmbio mais depreciado”. A baixa dos alimentos veio em boa hora, mas precisa da ajuda da Petrobras. A desvalorização do dólar hoje também ajudou e o real valorizou 0,57%.


OLM

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