Galípolo pode baixar Selic em setembro

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Se for indicado e aprovado pelo Senado em agosto, para assumir o Banco Central em 1º de janeiro de 2025, como sugeriu o atual presidente, Roberto Campos Neto, o atual diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, pode ter a sorte de já influenciar na queda da Selic, mantida em 10,50% em maio, na reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), em 17 e 18 de setembro.

Este mês, o Copom e o Federal Open Market Committee (FOMC, o órgão que formula a política monetária dos Estados Unidos) se reúnem dias 30 e 31. Em agosto – quando Galípolo seria indicado e sabatinado, segundo informou o colunista Lauro Jardim, de O Globo – não há reunião dos dois colegiados. Mas em 17 e 18 de setembro o FOMC e o Copom voltam a se reunir (o FOMC decide três horas e meia mais cedo e pode anunciar baixa de 0,25%).

Assim, o Copom, com dois presidentes já dividindo o poder (isto, se RCN, cujo mandato expira em 31 de dezembro, junto com os diretores Carolina Assis e Otávio Dalmaso, não antecipar a saída), pode perfeitamente – se o Fed indicar em 31 de julho a possibilidade de baixar os juros em setembro e confirmar a previsão em 18 de setembro – retomar o movimento “interrompido” em maio, que queda da Selic, com uma baixa de 0,25% para 10,25%.

São conjecturas já feitas no mercado financeiro, desde que o real mostre estabilização ou valorização frente ao dólar e a inflação continue dando mostras de desaceleração – o IPCA de junho, que será divulgado 4ª feira, deve ser bem menor que os 0,46% de maio. O mercado espera 0,32%, na mediana da Focus, mesma taxa da LCA Consultores. O Bradesco prevê 0,30%, o que reduz a inflação em 12 meses dos 4,93% de maio para 4,32%.

O círculo virtuoso se completaria com o avanço da reforma tributária e o anúncio efetivo de cortes de gastos do governo, com algo além do pente fino nos encargos da Previdência Social (seguro-desemprego e licença por acidente de trabalho). Que tal cruzar os dados dos diversos programas sociais para evitar duplo ou triplo benefício? Ou seja, o fim de fraudes escancaradas.

Lula deixaria de criticar o BC

Nestas circunstâncias, a indicação de Galípolo, que já estava no radar, será mais bem assimilada. Sobretudo, porque o presidente Lula não precisará criticar publicamente o presidente do Banco Central, como faz com Campos Neto, que leva ao extremo a independência do BC perante o Executivo.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se entende muito bem com Galípolo, que foi secretário-executivo da pasta e está comprometido em ajudar o Arcabouço Fiscal. Manter juros altos, ao contrário, não colabora, pois esfria a economia e o consumo e desacelera a arrecadação tributária e o crescimento do emprego (o que tende a aumentar o rombo do INSS).

Focus eleva inflação com câmbio

Com o câmbio alto (a previsão para a taxa do dólar em dezembro de 2024 subiu de R$ 5,20 para R$ 5,27 nas respostas dos últimos cinco dias úteis), houve aumento da projeção para o IPCA deste ano de 4,00% para 4,02% (que era a previsão nas respostas dos cinco últimos dias úteis – por sinal, este indicador, que vem antecipando a tendência da mediana do mercado, já chegou a 4,04% nos últimos cinco dias). Para 2025, o mercado manteve o dólar em R$ 5,20 (R$ 5,19 nos últimos cinco dias) e o IPCA subiu de 3,87% para 3,88%, chegando a 3,90% nos últimos cinco dias. Para 2024 a Selic foi mantida em 10,50% e em 9,50% para 2025.

A boa notícia é que a previsão do PIB de 2024 subiu para 2,10% (2,16% em cinco dias), mas a taxa de 2025 desacelerou ligeiramente de 1,98% para 1,97%. Porém, nas respostas dos últimos cinco dias, o mercado prevê 2,00%.

Reajuste de gasolina e GLP pressionam IPCA de julho e agosto

Os aumentos, a partir de amanhã, de 7,11% na gasolina vendida nas refinarias da Petrobras e de 9,8% no botijão de gás liquefeito de petróleo de 13 kgs, por pressão da alta do dólar e da variação do Brent, vão pesar na inflação de julho e de agosto. A gasolina é o item de maior peso no IPCA (que mede as despesas das famílias que ganham até 40 salários-mínimos - R$ 56.480), com 6,74%. Já o GPL, usado em mais de 90% dos lares do país pesa 1,41% no IPCA.

Antes do reajuste (o último aumento foi em maio do ano passado, quando a Petrobras abandonou o PPI e abrasileirou os preços, usando mais petróleo leve do pré-sal nas refinarias que operam a plena carga), o mercado esperava alta de 0,20-0,22% para a inflação de julho e de 0,10% para o IPCA de agosto. Ambos vão pressionar os índices dos próximos dois meses, mas sem ameaçar o teto da meta ( a meta de 3,00%+1,50% de tolerância +4,50%).