Itaú vê Selic em 10,50% até fim de 2025

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Ao divulgar nesta sexta-feira, 12 de julho, sua atualização do cenário econômico, o Itaú manteve a projeção de que o IPCA fechará o ano em 4,00% (com o dólar em R$ 5,32, depois da média de R$ 5,36 no 3º trimestre - média de R$ 5,30, antes, R$ 5,15) e o IPCA vai repetir o nível em 2025 (com o dólar subindo de R$ 5,25 para R$ 5,40).

Com as pressões do câmbio, (hoje, embora o dólar continuasse em queda em todo o mundo, antecipando possível baixa dos juros nos Estados Unidos em setembro, o real voltou a cair 0,22% por volta do meio dia), o Banco Central deve manter, segundo o Itaú, a Selic em 10,50% ao ano até dezembro de 2025. O Bradesco vê a Selic igual em 10,50%

O efeito disso será a desaceleração do PIB, cujo crescimento foi mantido em 2,3% este ano, mas cai para 1,8% no ano que vem. Para o Bradesco, que prevê os mesmos 2,3% este ano, o cenário piora em 2025 e o PIB recua para 1,5%. Para o Itaú, a economia mundial cresce 3,2% este ano (China avança 5% e os EUA, 2,5%) e 3,4% em 2025 (China desacelera para 4,5%, EUA para 2,2%, mas a Zona do Euro avança de 0,7% para 1,0%).

A visão do Itaú: 'No limite'

“Com forte alta dos gastos e agenda de receitas próxima ao limite de crescimento, a percepção de risco fiscal piorou. Para sinalizar a sustentabilidade da regra de despesas do arcabouço, julgamos que iniciativas de economia de gastos, como as reportadamente cogitadas pela equipe econômica, são fundamentais, incluindo um anúncio de um bloqueio de despesas de ao menos R$ 20 bilhões, idealmente mais próximo a R$ 30 bilhões. Mantivemos nossas projeções de déficit primário, por ora, em 0,6% do PIB em 2024 e 0,9% do PIB em 2025”.

“Dada a piora dos fundamentos domésticos, com aumento da percepção de risco, revisamos as nossas projeções de taxa de câmbio para R$ 5,30 por dólar em 2024 (de R$ 5,15) e R$ 5,40 por dólar em 2025 (de R$ 5,25)”.

“Mantivemos as nossas projeções de crescimento do PIB para 2024 e 2025 em 2,3% e 1,8%, respectivamente. As enchentes na região Sul do país impactaram alguns setores em maio, mas nosso indicador de atividade aponta para uma retomada já em junho”. A economia está crescendo pela expansão da renda.

“Revisamos as projeções de inflação para 4,0% em 2024 e 2025 (de 3,8% e 3,7%, respectivamente), incorporando o efeito de um câmbio mais depreciado sobre alimentos e bens industriais e o reajuste recente de gasolina. O balanço de riscos para ambos os anos segue assimétrico de alta, com uma moeda mais fraca e um mercado de trabalho ainda apertado, possivelmente pressionando ainda mais a inflação. Além disso, para 2024 vemos risco altista em alimentação, caso não haja devolução dos choques de “in natura” durante o inverno”.

“O Banco Central sinalizou que pretende manter os juros em território contracionista por período prolongado até que se consolide o processo de desinflação e ancoragem de expectativas. Continuamos projetando taxa Selic estável em 10,50% a.a. até o final de 2025, mas com mais risco, especialmente em função da dinâmica recente do câmbio, que pode impactar a inflação à frente”.

“Vale ressaltar, que as projeções apresentadas ao longo desse relatório têm como pressuposto o anúncio de um bloqueio significativo nas despesas (de 20 a 30 bilhões de reais) no próximo relatório bimestral do Tesouro, em 22 de julho. Uma eventual frustração nessa frente traria um relevante dano de credibilidade para o arcabouço fiscal e a política econômica em geral, com impactos potencialmente significativos sobre preços de ativos, quiçá análogos aos observados nas últimas semanas”.

“Por um lado, a arrecadação tem se mostrado mais forte, refletindo o impacto de medidas adotadas pelo governo no ano passado. Por outro, em um país com carga tributária elevada, o espaço para ajuste fiscal predominantemente do lado da receita está próximo de um limite. Além disso, as despesas têm crescido em ritmo elevado, pressionadas pela dinâmica da Previdência e outros gastos vinculados ao salário-mínimo, além de Saúde e Educação, ameaçando o limite de gastos do arcabouço”.

Maio mostra PIB imune a tombo no RS

Assim como os dados de vendas no varejo divulgados ontem, o setor de serviços surpreendeu para cima em maio ao ficarem estáveis, contra previsão de queda de 0,8% do Itaú e do mercado (a LCA Consultores previa -1,1%). Na avaliação do Itaú, com o dado de hoje da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) do IBGE, o carrego estatístico para o 2º trimestre de 2024 ficou em 0,5% (índice cheio) e -0,2% (serviços prestados às famílias).

No PIB, o setor de serviços pesa com 67%, mas na PMS, com amostragem menor, o peso fica em torno de 35%. O Comércio, captado na Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) que teve alta de 1,2% no volume de vendas do varejo, que entra com 13% do PIB, teve carrego estatístico de 2,3% no comércio restrito e de 0,30% no comércio ampliado (que inclui veículos, autopeças e materiais de construção, além do "atacarejo").

Quem tem medo de crescer?

Os dados do PIB estão fortes no 2º trimestre, o que pode fazer o crescimento do ano superar os 2,3% previstos pelo governo e chegar a 2,5%, como prevê o economista Cláudio Considera, do Ibre-FGV. Considera destaca que o forte crescimento do PIB e de outros indicadores pode levar o Banco Central a manter os juros elevados por mais tempo.

[aqui minha observação: se os indicadores da inflação não dispararem – puxados pelo dólar – por que o BC tem de elevar os juros na contramão da baixa dos juros pelo Fed em setembro? O crescimento, com contenção dos gastos, aumenta a arrecadação e equilibra o orçamento público, como persegue o Arcabouço Fiscal].

Uma das surpresas positivas na PMS de maio foram os serviços prestados às famílias (+2,3%), que “recuperaram integralmente a perda de 2,7% no mês anterior, possivelmente explicado por shows e eventos de grande magnitude”. Transporte teve queda de 1,6%, menor que o esperado e especificamente sobre o setor de transportes no sul do país, apesar da queda em termos nominais, o recuo expressivo do deflator (com queda brusca de preços de pedágio), observa o Itaú, promoveu aumento real das receitas do setor e caminhoneiros. “De modo geral, as enchentes do Rio Grande do Sul parecem ter tido efeito menor do que o esperado sobre a atividade econômica em maio e os dados para junho seguem apontando para uma atividade econômica resiliente”, diz o Itaú, que acaba de desativar o monitor especial para o RS.

Em maio, a receita real do setor de serviços ficou estável (0,0%) m/m com ajuste sazonal (0,8% a/a). Em relação às projeções do Itaú, as maiores surpresas positivas foram em 'Outros serviços' (3,3% a/a vs. 0,2% esperado) e 'Serviços prestados às famílias' (6,5% a/a vs. 3,0% esperado). Entre as 5 principais categorias, 2 avançaram e 3 contraíram na margem.

Os destaques positivos esse mês ficaram com 'Serviços prestados às famílias' (+3,0% m/m) e 'Serviços profissionais, administrativos e complementares' (+0,5% m/m), enquanto 'Serviços de informação e comunicação' (-1,1% m/m) e 'Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio' (-1,6% m/m) registraram as maiores contrações.