O OUTRO LADO DA MOEDA
PCE menor nos EUA sobe dólar e pressiona Copom
Publicado em 30/08/2024 às 14:26
Alterado em 30/08/2024 às 14:26
O PCE, o índice de custo de vida ao consumidor mais considerado pelo Federal Reserve Bank, subiu 0,2% em julho, em linha com a expectativa do mercado e caiu a 2,6% em 12 meses (abaixo dos 2,7% esperados) e o índice cheio também subiu 0,2% e 2,5% em 12 meses confirmando que a inflação desacelera nos Estados Unidos sem risco de recessão. Isso consolida a visão de que o Fed baixará os juros 0,25% em 18 de setembro.
O fim das ilusões quanto a uma possível queda de 0,50% nos “fed funds” deixa as moedas dos países emergentes mais pressionadas pelo diferencial entre os juros dos papéis do Tesouro dos EUA e dos tesouros domésticos. O dólar subiu ligeiramente frente ao euro e à libra esterlina e 0,35% frente ao iene, com alta de 0,12% sobre o franco suíço. Na contramão, o peso mexicano valorizou 0,80%.
O real abriu pressionado a R$ 5,6276 e logo subiu à máxima de R$ 5,6910, com os dados ruins de julho na política fiscal, com déficit consolidado do setor público no conceito primário (receitas-despesas, sem considerar o custo da dívida) de R$ 21,3 bilhões (-R$ 40,873 bilhões em junho) e a surpresa da forte deterioração das finanças dos governos estaduais e municipais. Diante disso, o Banco Central fez oferta de US$ 1,5 bilhão de dólar à vista e conseguiu derrubar as cotações à mínima de R$ 5,5528. Mas, mas ao meio-dia, o dólar voltou a subir a R$ 5,6575, alta de 0,46%. E o Copom está diante do dilema de aumentar ou não a Selic em setembro.
Déficits dos estados e INSS assustam
Os estados e municípios acumularam déficit primário de R$ 11,0 bilhões (após saldo de R$ 1 bilhão em junho), invertendo a posição com o governo central, que reduziu o déficit de R$ 40,188 bilhões em junho a R$ 8,618 bilhões em julho.
A melhora das contas do governo central refletiu o fim do pagamento antecipado do 13º pelo INSS, cujo rombo encolheu de R$ 44,899 bilhões, em junho, para R$ 22,456 bilhões. Em 12 meses, o setor público consolidado acumulou déficit de R$ 257,7 bilhões (2,29% do PIB, contra 2,44% até junho). E as despesas do INSS caíram de R$ 346,244 bilhões em maio, para R$ 339,443 bilhões em junho e R$ 318,817 bilhões em julho, sem o 13º.
Juros pesam mais
Mas o que assusta mesmo é a conta das despesas com juros da dívida, incorporados ao montante nas rolagens constantes do Tesouro Nacional. Os juros nominais do setor público não financeiro consolidado somaram R$ 80,1 bilhões em julho de 2024 (R$ 94,851 bilhões em junho e R$ 46,1 bilhões em julho de 2023). O Banco Central perdeu R$ 9,9 bilhões em operações de swap cambial em julho de 2024 (ganho de R$ 15,6 bilhões em julho de 2023).
De janeiro a julho as despesas com juros somaram R$ 534,900 bilhões, um aumento de R$ 151,473 (+39,5%). Em 12 meses até julho, os juros nominais atingiram R$ 869,8 bilhões (7,73% do PIB), aumento de R$ 225,5 bilhões (+35m6%) contra os R$ 641,3 bilhões (6,07% do PIB) nos 12 meses findos em julho de 2023.
Quando se computam os juros da dívida pública líquida do setor público (DLSP), que alcançou R$ 6 trilhões 962 bilhões e 599 milhões em julho, ao resultado primário, o resultado nominal do setor público consolidado apresenta déficit de R $101,5 bilhões em julho. Em 12 meses, o déficit nominal alcançou R$1 trilhão e 127,5 bilhões (10,02% do PIB), ante déficit nominal de R$1 trilhão e 108,0 bilhões (9,92% do PIB) acumulado até junho de 2024.
Segundo o Banco Central, cada ponto de desvalorização do real reduz em R$ 9,8 bilhões os custos da DLSP (que desconta cerca de R$ 1,6 trilhão em títulos na carteira do BC) e em R$ 10,7 bilhões a dívida bruta do governo geral (DBGG), que era de R$ 8 trilhões 862 bilhões e 382 milhões em julho. Já cada ponto a menos na Selic (atualmente em 10,50% ao ano) impacta em R$ 52,4 bilhões a DLSP e em R$ 47,9 bilhões a DBGG. E cada redução no IPCA economiza R$ 19,8 bilhões na DLSP e R$ 19,5 bilhões na DBGG. E vice-versa.
Juros e câmbio dão lucro ao BC
Mas enquanto o Tesouro Nacional amargava contas para rolar e as famílias e empresas penavam com os custos de suas dívidas, o Banco Central teve resultado positivo de R$ 130,396 bilhões em suas contas no 1º semestre. No ano passado, o BC teve déficit de R$ 105,381 bilhões. sofriam
Uma parcela significativa do resultado do período (R$ 177,282 bilhões) foi constituída pelo resultado com reservas e derivativos cambiais, que decorreu principalmente de correção cambial em virtude da desvalorização do real frente ao dólar americano e da apropriação de juros, parcialmente compensadas pelo custo de captação das reservas e pelas perdas de R$ 62,230 bilhões em swaps cambiais, com resultado líquido de R$ 115,052 bilhões).
O resultado de outras operações (R$ 15,344 bilhões) teve saldo positivo frente ao mesmo período, em razão, principalmente, da contração nas despesas com operações compromissadas em decorrência da redução na taxa Selic.
No 2º trimestre de 2024, as reservas internacionais apresentaram rentabilidade positiva de 11,47%, totalizando 8,86% positivo (R$164.009 milhões) quando considerado o custo de captação.
Deve-se salientar que a correção cambial representa a variação decorrente da tradução dos valores dos ativos de reserva para o real, não se configurando resultado realizado do ponto de vista financeiro. Considerando o valor em dólar, as reservas internacionais apresentaram rentabilidade positiva de 0,93% no 2º trimestre de 2024.
O custo de manutenção das reservas cambiais é calculado diariamente a partir da diferença entre a taxa de rentabilidade das reservas internacionais e a taxa média ponderada do passivo do BCB (custo de captação). A rentabilidade das reservas internacionais é composta pela marcação a mercado, pelo resultado de juros e pela correção cambial. O custo de captação é determinado dividindo-se a diferença entre as despesas e receitas do passivo pelo total do passivo e patrimônio líquido na data da apuração.