Ventos nos EUA são de baixa nos juros
Os recentes dados da economia americana – confirmados pela queda de mais de 40% na geração de empregos em julho (114 mil contra 206 mil em junho) e aumento da taxa de desemprego de 4,1% para 4,3% - despertaram o temor entre os investidores de uma desaceleração mais forte do PIB dos Estados Unidos. Esse pessimismo resultou numa reprecificação no mercado de renda de fixa, com as apostas crescentes de que o FED reduzirá sua taxa de juros três vezes neste ano. A dúvida que resta é se esses ajustes serão de 0,25 ou 0,5 ponto percentual.
A nova realidade prevista para setembro já está mexendo com as cotações dos ativos nos diversos mercados do mundo. Os juros dos Treasury Bonds já recuam fortemente. No mercado de ações, predominam as baixas generalizada, face às incertezas em torno das perspectivas das empresas do setor de tecnologia, como a Intel, que caiu 19% após anunciar a demissão de 15 mil empregados. Dólar mais fraco, devido à baixa dos juros, resulta, momentaneamente, em commodities (com preços fixados em dólar) em alta.
Real tem forte valorização
Os mercados de câmbio reagiram de modo desigual em todo o mundo, prevalecendo a desvalorização do dólar, com exceção da lira turca (alta de 0,32% do dólar) e do peso mexicano (dólar subia 0,92 às 11:30). O euro subia mais de 1% frente ao dólar e a libra esterlina avançava 0,70%. O maior movimento foi do iene. Após a alta dos juros a 0,25% ao ano pelo Banco do Japão (a primeira desde 2007), registrava perda de 1,60% do dólar ante o iene valorizado. A Bolsa de Tóquio teve queda de 5,8%, pois a valorização do iene afeta as exportações japonesas. A queda ante o franco suíço era de 1,35%.
No Brasil, as apostas que levaram o dólar a roçar nos R$ 5,80 na quinta-feira estão se desfazendo, pela persistente decisão do Banco Central de realizar leilões diários de “swap” cambial (US$ 15,2 bilhões dia 1º e US$ 12 bilhões hoje, tudo para vencimento em 1º de outubro). Quem apostou na alta do dólar e numa possível elevação da Selic – ou endurecimento do comunicado do Copom - para justificar a especulação, pode amargar muito prejuízo.
O mercado chegou a abrir em alta a R$ 5,7483 e se elevou a R$ 5,7933, depois de fechar ontem em R$ 5,735, mas as cotações não sustentaram. Às 11:30 o dólar era negociado a R$ 5,7183, numa queda de mais de 0,50%. Eu gostaria de esperar as justificativas dos que diziam que as inconsistências fiscais é que causavam a queda do real frente ao dólar (incluindo o Copom). Na verdade, o elemento chave sempre foi o diferencial dos juros entre os Estados Unidos e o Brasil. Quando caem nos EUA, os juros impactam todos os ativos. Prova de resiliência será o Banco Central resistir firme à especulação nos contratos futuros de dólar na B3.
Indústria reage em junho
Depois de quedas em abril e maio (-0,3% pelo impacto da crise climática no Rio Grande do Sul), a produção industrial cresceu 4,1% em junho, segundo o IBGE, puxado pelo bom desempenho de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (4,0%), produtos químicos (6,5%), produtos alimentícios (2,7%) e indústrias extrativas (2,5%).
Outras contribuições positivas vieram de metalurgia (5,0%), de veículos automotores, reboques e carrocerias (3,1%), de bebidas (3,5%), de máquinas e equipamentos (2,4%), de produtos do fumo (19,8%) e de celulose, papel e produtos de papel (1,6%).
Entre as nove atividades que apontaram redução na produção, outros equipamentos de transporte (-5,5%) exerceu o principal impacto em junho de 2024 e interrompeu dois meses consecutivos de taxas positivas, período em que acumulou ganho de 4,8%. Vale destacar também as influências negativas registradas por artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (-4,1%), impressão e reprodução de gravações (-9,1%) e confecção de artigos do vestuário e acessórios (-2,7%).
O PIB de Taiwan
Principal produtor de chips e circuitos eletrônicos do mundo, a economia de Taiwan vai bem, obrigado. Com a demanda doméstica mais forte do que o esperado, a Goldman Sachs Research elevou a previsão para o crescimento do PIB de Taiwan em 2024 de 3,3% para 4%, de 3,3%. O consumo doméstico acelerou mais do que o esperado, impulsionado por ganhos na renda do trabalho e rápidos aumentos nos preços da habitação. O investimento também aumentou acentuadamente com amplos ganhos em construção, investimento em equipamentos e produtos de propriedade intelectual.
Arábia Saudita já recicla o petróleo
Outro dado importante levantado pela Goldman Sachs Research estima que 73% dos investimentos da Arábia Saudita até o final da década serão impulsionados por setores não petrolíferos, acima da previsão anterior de 66%. O que mostra a convicção da maior economia petrolífera do mundo de que a reciclagem mundial em relação aos combustíveis fósseis é inevitável.
Dentro dos estimados US$ 1 trilhão em investimentos totais como parte de um "superciclo de capex", escrevem os analistas da GSR, há um foco maior em energia limpa e diversificação econômica longe do petróleo (com preferência para investimentos em projetos de metais e mineração ligada à reciclagem).