O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

PIB cresce 1,4% e surpreende BC e mercado

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Publicado em 03/09/2024 às 14:11

O BC do Campos Neto errou em mais uma previsão Foto: Reuters/Ueslei Marcelino

Depois de crescer 1,0% no 1º trimestre (o IBGE revisou para cima a taxa anterior de 0,8%), mesmo travado pela taxa Selic (o piso dos juros do sistema financeiro), que ficou parada em 10,50% desde 8 de maio, o Produto Interno Bruto cresceu 1,4% no 2 º trimestre (abril-maio-junho), superando todas as previsões do mercado (que iam de 0,7% do Santander a 1,0% do Itaú e do Bradesco) e do próprio Banco Central, que previa PIB menor que o do 1º trimestre (0,8%) no Relatório Trimestral de Inflação de 27 de junho de 2024, que disse:

“Diferentemente dos dois trimestres anteriores, as atividades mais sensíveis ao ciclo econômico se mostraram mais dinâmicas no começo de 2024. A abertura do PIB pelo lado da demanda também evidencia o dinamismo da atividade no 1º trimestre. Contudo, os indicadores mensais sugerem desaceleração no 2º trimestre, inclusive com impactos negativos das enchentes no RS”.

O RTI vaticinou que “estima-se, com elevado grau de incerteza, que a tragédia climática no RS tenha impacto modesto sobre o crescimento anual do PIB nacional. Efeitos negativos devem ser bastante concentrados no 2º trimestre e compensados ao longo do ano pelos esforços de reconstrução e pela aquisição extraordinária de bens que foram perdidos”.

Apostou e errou o Banco Central, cujo indicador (IBC-Br) cresceu 1,1% no 2º trimestre, com descontos sazonais. A recuperação veio rápida. O avanço no 1º semestre foi de 2,9% e a taxa acumulada em 12 meses foi de 2,5%. O Banco Central reviu em junho, de 1,9% para 2,3%, a previsão para o crescimento do PIB este ano. Bradesco e Itaú já preveem 2,6% a 2,5, com viés de alta.


OLM

O que revelou o IBGE

“No 2º trimestre de 2024, o PIB cresceu 1,4% comparado ao 1º trimestre de 2024, na série com ajuste sazonal. O melhor resultado foi da Indústria @5,5% do PIB), que cresceu 1,8%, seguida pelos Serviços (67,4% do PIB) que avançaram 1,0%. A Agropecuária (7,1% do PIB) recuou 2,3%”.

Como boa parte do povo brasileiro, que precisa fazer das tripas coração para crescer, não só a indústria foi o segmento que mais cresceu, como o setor que puxou o desempenho; foi o conjunto de serviços de utilidade pública que cresceu 4,2% (eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos -, ou seja, coleta e reciclagem de lixo empurraram a expansão.

A Construção avançou 3,5% e as Indústrias de Transformação cresceram 1,8%, compensando a queda de 4,4% nas Indústrias Extrativas. Apesar dos prognósticos pessimistas com os impactos da tragédia climática no Rio Grande do Sul, o crescimento na indústria de transformação veio de fortes atividades do estado gaúcho: Indústria alimentícia; Outros equipamentos de transporte; Máquinas e aparelhos elétricos; Indústria moveleira e Indústria automotiva.

Em Serviços, SFN cresce mais

Nos Serviços, houve altas em Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (2,0% e com peso de 7,6% no PIB) [em relação ao 2º trimestre de 2023 o crescimento foi de 4,0%, o que justifica o aumento da CSLL de 20% para 22% nos bancos e para 16% na área de seguros e atividades afins].

Serviços de Informação e comunicação cresceram 1,7%, Comércio (1,4% e 12% no PIB), Transporte, armazenagem e correio (1,3%), Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (1,0%), Atividades imobiliárias (0,9%) e Outras atividades de serviços (0,8%).

Gastos de família e governo sobem 1,3%

Pela ótica da despesa, a Despesa de Consumo das Famílias (1,3% e 63,3% do PIB), a Despesa de Consumo do Governo (1,3%) e a Formação Bruta de Capital Fixo (2,1%) cresceram em relação ao trimestre imediatamente anterior.

O IBGE citou alguns fatores importantes que impulsionaram o crescimento do consumo das famílias: “Melhora no mercado de trabalho (aumento da massa salarial real); Programas de transferência de renda às famílias; Crescimento nominal de 11% do saldo de operações de crédito do sistema financeiro para as pessoas físicas; embora estacionada, a “SELIC alcançou 10,5% a.a no 2º trimestre de 2024 contra 13,2% a.a no 2º trimestre de 2023; já o IPCA variou 3,9% no 2º trimestre deste ano contra 3,8% no 2º trimestre do ano passado.

No setor externo, as Exportações de Bens e Serviços subiram 1,4%, e as Importações de Bens e Serviços cresceram 7,6% frente ao 1º trimestre de 2024.

O fato positivo no aumento das importações e da produção interna de bens de capital, em conjunto com o desempenho positivo da construção e do desenvolvimento de “software”, foi a expansão de 2,1% no investimento expressa pela taxa de Formação Bruta de Capital Fixo (obras para expansão e instalação e máquinas e equipamentos, inclusive chips importados para modernização do parque produtivo, acima da taxa de consumo das famílias. Isso deve melhorar o equilíbrio estrutural da economia, com produtividade.

A visão do Bradesco

"A economia cresceu 1,4% no 2º trimestre (...), caso a economia tenha crescimento zero na segunda metade do ano, o PIB subiria 2,5% em 2024. Em relação à nossa projeção, o principal desvio ocorreu na agropecuária, que caiu menos do que o esperado. O PIB agropecuário recuou 2,3% no 2º trimestre. Já a indústria cresceu 1,8%, com destaque para a retração de 4,4% da extrativa, compensada pelo forte desempenho da construção civil.

Pela ótica da demanda, a maior surpresa veio do consumo, com crescimento de 1,3%, após alta de 2,5% nos primeiros três meses do ano. A alta de 2,1% dos investimentos também contribuiu para manter a demanda doméstica bastante forte no trimestre. Isso elevou a taxa de investimento de 16,7% no 1º trimestre para 17,0%. O consumo do governo também teve crescimento acelerado: 1,3%, após relativa estabilidade no trimestre encerrado em março.

A economia cresceu em ritmo bastante acelerado na 1ª metade do ano, puxada pela demanda doméstica. O consumo seguiu firme na esteira do mercado de trabalho aquecido que garante ganhos reais de renda. O aumento da confiança tem sido importante para explicar o desempenho dos investimentos.

A expectativa ainda é de desaceleração do PIB na 2ª metade do ano, mas a surpresa com a divulgação (...) sugere que o movimento poderá ser gradual. Mantendo as estimativas para o 3º e 4 trimestres, que deverão ser revisadas em breve, a projeção para o PIB do ano aumenta de 2,3% para 2,6%."

A visão do Itaú

"(...) Do lado da oferta, a principal surpresa foi no setor de serviços, com administração pública mais forte do que o esperado. Os serviços cresceram 1,0% no 2º trimestre depois de registrar um 1º trimestre também forte. O setor industrial também cresceu (1,8% t/t), enquanto a agricultura recuou 2,3%.

Do lado da demanda, a principal surpresa (...) foi o crescimento mais expressivo dos gastos do governo (1,3% t/t). O consumo das famílias seguiu com desempenho positivo (1,3% t/t,), enquanto o investimento, apesar de abaixo das nossas projeções, seguiu se recuperando de um patamar baixo e avançou na comparação trimestral (2,1% t/t).

O consumo das famílias segue sustentado por um mercado de trabalho resiliente e pelo aumento da renda, bem como por um ambiente positivo para o crédito. A formação bruta de capital fixo (FBCF) se expandiu num contexto de importações elevadas de bens de capital e mercado de capitais aquecido.

Nossa visão: O resultado (...) acima da nossa expectativa, com expansão do setor público (gastos do governo do lado da demanda e administração pública do lado da oferta), além de consumo resiliente e alguma recuperação do investimento (que vem de patamar baixo). O aumento da renda (liderado por um mercado de trabalho resiliente), bem como o ciclo de crédito benigno e mercado de capitais aquecido vem contribuindo para o forte aumento do PIB.

Projetamos um crescimento do PIB de 2,5% em 2024 levando em conta alguma desaceleração ao longo do 2º semestre do ano, com menos estímulos fiscais e menor ajuda do ciclo de crédito. Ainda assim, reconhecemos que há um viés de alta para nossa projeção de PIB do ano."

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