O OUTRO LADO DA MOEDA
Inflação cai nos EUA; PIB sobe no Brasil
Publicado em 11/09/2024 às 13:34
Alterado em 11/09/2024 às 13:34
A desaceleração da inflação nos Estados Unidos para 0,2% em agosto, que reduziu a taxa acumulada em 12 meses para 2,5% (2,9% em julho) reforçou a ideia de que o Federal Reserve Bank, se não baixar mais que 0,25% a taxa básica (hoje entre 5,25%-5,50% ao ano), pode anunciar um orçamento maior para o ciclo de redução do que os 0,75% esperados. Isso enfraqueceu o dólar nos mercados globais. E provocou movimentos de vendas, para reformas de contratos em novas bases, em todos os índices futuros de ações nos EUA.
No Brasil, depois de fechar ontem a R$ 5,6582, o dólar abriu hoje a R$ 5,6602, mas não se sustentou e era operado às 12:30 a R$ 5,6500, com queda de 0,15%. Com as falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad lembrando que os efeitos da estiagem sobre os preços da energia e alimentos não deveriam ser combatidos com juros altos, surgiram dúvidas no mercado sobre a disposição do Banco Central de iniciar um ciclo vigoroso de alta da Selic, em 10,50% ao ano desde maio.
A LCA Consultores, ao reavaliar o cenário de setembro, lembra, que, no Brasil, até o momento o mercado de trabalho não dá mostras de distensão. E, como temos apontado, o mercado de trabalho apertado é um dos fatores que leva o nosso Banco Central a cogitar elevar a sua taxa básica de juros, na contramão do movimento dos bancos centrais dos EUA e de outras economias centrais. A consultoria manteve a projeção de que o ciclo de alta da Selic completaria 150 pontos base até janeiro (fazendo a taxa subir de 10,50% para 12,00% ao ano).
Sua argumentação é dividida em fatores de curto, médio e longo prazos. A seca severa deste ano, num contexto em que os níveis de precipitação vêm caindo há mais de uma década, aumenta a incerteza em torno da previsão de inflação (que arrefeceu as pressões no núcleo) e crescimento - uma vez que pode representar um importante choque negativo de oferta, com efeitos, ao mesmo tempo, de aumento da inflação e de redução do crescimento do PIB.
Outro fator são as expectativas de inflação, que vêm piorando desde maio, na esteira da depreciação da cotação cambial; e continuaram a piorar nas últimas semanas, apesar da relativa acomodação recente do câmbio, devido à seca e queimadas que já provocaram mudança nas bandeiras tarifárias de energia elétrica e começam a exercer pressão em preços de alimentos.
Já as expectativas para prazos mais longos continuam descoladas do centro da meta de inflação, em parte pela persistência de incertezas em relação à dinâmica das contas públicas, e constituem um fator de manifestada preocupação para a autoridade monetária, como enfatizado pelas declarações recentes dos principais diretores do Banco Central. Assim, a probabilidade de que um ciclo de aumento da Selic seja implementado no curto prazo passou a preponderar, embora a inflação corrente - mostre alguma descompressão de medidas de núcleo – para um ciclo moderado “num contexto em que a política monetária doméstica já se encontra em terreno restritivo e as políticas monetárias nas economias centrais estão começando a ser flexibilizadas”.
Itaú mede impactos do câmbio
Desde março, o real acumulou uma depreciação entre 10 e 15%, saindo da faixa de R$ 5,00 por dólar para patamares acima de R$ 5,50 desde julho. Com expectativas inflacionárias acima da meta, atividade econômica forte e mercado de trabalho apertado, o movimento acentuou as preocupações sobre a capacidade da inflação de fato convergir para a meta de 3%. Assim o Departamento de Estudos Macroeconômicos fez um estudo para medir impactos de aumentos de preços de produtos sensíveis ao câmbio na inflação para o consumidor.
O Itaú diz que “os efeitos da depreciação cambial já podem ser sentidos no IPCA. No IPCA-15 de agosto, o núcleo de bens sensíveis ao câmbio acelerou para 8,4%, frente 4,2% em julho (na média móvel de 3 meses dessazonalizada e anualizada), enquanto os preços dos demais bens industriais aceleraram de 3,1% para 3,4%, sugerindo que a inflação já está sendo afetada pela depreciação cambial recente. Além disso, (...) o mercado de trabalho mais apertado pode estar contribuindo para um repasse mais acelerado dos choques cambiais”. Assim, o impacto do câmbio mais depreciado pode ser maior este ano do que em 2025.
Para classificar os itens mais sensíveis ao câmbio, o Itaú utilizou duas medidas de pressão cambial: a variação das commodities metálicas em reais e a variação da taxa de câmbio. As classificações dos modelos foram muito similares, e a classificação final inclui apenas os bens identificados como sensíveis ao câmbio utilizando ambas as métricas.
Aproximadamente 40% dos bens industriais avaliados foram incluídos no núcleo dos bens mais sensíveis ao câmbio. Os mais relevantes e sensíveis foram: aparelhos de TV, som, informática, veículos (novos e usados), motos e autopeças, etanol, alimentos para animais e aparelhos telefônicos.
Receita de serviços cresce 1,2% em julho
O aumento do volume de serviços em julho, muito superior ao consenso de mercado, que era de relativa estabilidade no mês (4,3% sobre julho de 2023) deixa um carrego estatístico de 2,1% para o 3º trimestre, após alta de 0,6% no 2º trimestre. Os destaques foram os serviços profissionais, administrativos e complementares e os de informação e comunicação, que cresceram 4,2% e 2,2%, respectivamente, sobre junho. Mas os serviços de transporte recuaram 1,5%, após alta de 1,7% em junho. E os serviços prestados às famílias ficaram praticamente estáveis (-0,2%).
Ao reponderar a pesquisa pelos pesos do PIB, o Bradesco encontrou alta ainda maior em julho: 2,6%. Para o banco, “o crescimento dos serviços foi significativo em julho e sugere que o PIB do 3º trimestre desacelere menos do que o antecipado. Com esse dado, a projeção para o PIB de 2024 segue com viés de alta” (o banco previa 2,3% e elevou a 2,6% após o PIB do 2º trimestre).