O OUTRO LADO DA MOEDA
BC enxerga mal de perto e ao longe
Publicado em 25/09/2024 às 14:29
Alterado em 25/09/2024 às 14:29
O cotejo do resultado do IPCA-15 de setembro, que serve de prévia ao IPCA cheio do mês, com aumento de apenas 0,13%, segundo o IBGE, contra as expectativas do mercado financeiro, levadas em conta pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que apontavam (+0,29% pelo Santander e +0,30% pela LCA Consultores), deixa a sensação de que o mercado e o BC deveriam consultar um oculista. A taxa acumulada no ano chegou a 3,15% e a de 12 meses caiu de 4,35% no IPCA-15 de agosto para 4,12%.
É nítida a dificuldade de mercado e o BC acertarem as projeções de curto prazo. O que lança dúvidas na acurácia das projeções de médio prazo visadas pela política monetária (olhando 12 a 18 meses adiante as metas de inflação). Os números do IPCA-15 foram baixos pela desaceleração em Alimentos e Bebidas (a LCA previa alta de 0,17% e deu +0,05%) e em Transporte (com queda de 0,08%, provocada pela baixa de 0,66% na gasolina (que reduziu em 0,03 p.p, o IPCA-15), após alta de 0,82% em Transporte no índice de agosto).
Um dos fatores que está segurando os preços dos alimentos, a carne, subiu 1,76% no IPCA-15, refletindo os impactos da estiagem e queimadas, mesmo com o gado para abate sendo mantido em processos de confinamento. Ainda assim, a carne baixou 1,17% de janeiro a setembro e aumentou apenas 0,44% em 12 meses. No fim do ano passado houve forte alta, por pressão externa.
Mas o grande impacto se deu em Habitação, que subiu de 0,18% em agosto para 0,50% no IPCA-15. Com o salto na bandeira de energia elétrica (de verde em agosto para vermelha 1 em setembro, a alta da energia triplicou, de -042% em agosto para +0,84% em setembro. As projeções do mercado na Pesquisa Focus do dia 20, divulgadas segunda-feira pelo Banco Central subiram de 0,50% para 0,53%. E alertaram o Copom para subir a Selic a 10,75% ao ano.
Mas os erros das projeções do Relatório Trimestral de Inflação do BC, no último RTI de 27 de junho, fazem crescer as dúvidas. Amanhã o Banco Central divulga o RTI do 3º trimestre. Espero que com menos erros que os de junho:
OLM
Exagero também no fiscal?
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que nos últimos meses saiu alardeando os riscos do descontrole fiscal, o que ajudou a disparada do dólar nos meses de junho a agosto, agora parece que está fazendo “mea culpa” e, em palestra no J. Safra Brazil frisou, ao abordar a correlação entre a política fiscal e a política monetária, que faz o Copom ser mais austero nas taxas de juros que a situação não seria tão grave e urgente:
Fiscal: RCN reconheceu a preocupação do mercado com a política fiscal, tanto em relação à trajetória da dívida pública quanto à transparência das contas públicas; lembrou que, historicamente, choques fiscais positivos no Brasil resultaram em queda nas taxas de juros.; e disse que a questão fiscal pode ser resolvida rapidamente, o que justificaria a decisão do BC de aguardar a evolução do cenário econômico.
Política monetária: Destacou a “coesão do Copom nas duas últimas reuniões, com votos unânimes e uma comunicação clara; BC, neste momento, prefere aguardar os indicadores econômicos antes de sinalizar suas próximas decisões; mas assinalou o desconforto com a desancoragem das expectativas e o prêmio de risco na curva longa de juros, atribuídos às incertezas fiscais.
Juros futuros caem com IPCA-15
Por sinal, com a divulgação do IPCA-15 de setembro abaixo da metade em relação às projeções do mercado, que esperava mais de 0,50% para o índice cheio, os juros futuros despencaram hoje no mercado. Nos Estados Unidos, as apostas de nova baixa de 0,50% nos juros em 6 de novembro cresceram, após queda na confiança do consumidor, mas no Brasil, como numa gangorra, reduziram as apostas de alta de 0,50% na Selic para 11,25% em novembro, com aumento nas apostas mais cautelosas, de 0,25%, sobretudo se o Fed baixar mesmo os juros para a faixa de 4,25%-4,50%.
Apesar dessas expectativas, o dólar se fortaleceu ante o euro, a libra esterlina, o iene e o franco suíço. Nesse cenário, o real também caiu. Depois de fechar ontem a R$ 5,4547, com desvalorização de 1,48% frente ao real, o dólar abriu hoje a R$ 4556 e subiu a R$ 5,4789 às 14 horas, com alta de 0,44% no pregão