Repique dos juros vai custar R$ 500 bilhões

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Por

Itaú

Como diz o nome da coluna, quando o consenso do mercado financeiro é de aumento na taxa Selic, na próxima reunião, dia 18, do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), em pelo menos 0,25%, é hora de ouvir o outro lado (o Itaú espera que a Selic, hoje em 10,50% ao ano, feche dezembro em 11,75% e chegue a 12% em janeiro, para fechar 2025 em 11%). Como são três reuniões até o fim do ano: 18.09, 06.11 e 11.12, isso pressupõe duas altas de 0,50% e uma de 0,25%. Podem ser duas altas de 0,50% e dois ajustes de 0,25%. A LCA Consultores, como dissemos ontem, prevê também alta até 12%.

Por isso é importante saber o que pensa o setor real da economia, que será impactada pela alta da Selic. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) alerta que cada ponto percentual a mais na Selic representa R$ 40 bilhões por ano em despesas, impacta as contas públicas e compromete o crescimento do país.

Juros custam mais R$ 220 bilhões este ano

Na verdade, o impacto nas contas públicas é maior: cada 1% na Selic onera o Tesouro Nacional em R$ 52,4 bilhões ao fim de 12 meses, segundo dados do Banco Central de julho, para uma dívida pública líquida de R$ 6,9 trilhões em julho). Já as dívidas das famílias e empresas somam quase três vezes mais (R$ 18 trilhões). Assim, os custos para a sociedade (incluindo o TN) de um ponto a mais nos juros é superior a R$ 220 bilhões este ano. Com o agravante de travar a economia, criar insônia aos devedores e ampliar a transferência/concentração de renda para o sistema financeiro e a camada mais rica da sociedade que pratica o “rentismo financeiro”.

Vale lembrar que a previsão original da Selic para este ano era fechar em 9%, com queda para 8,5% em 2025. Pelas projeções do Itaú teremos mais 2,75% este ano e mais de 2,50% para 2025. No somatório geral, os custos financeiros aumentariam cerca de R$ 500 bilhões em dois anos. Supera todos os programas sociais do governo para o andar de baixo, mas beneficiando o andar de cima.

Mas a CNI lembra ainda que apesar dos custos suicidas, “o acesso ao crédito no Brasil é uma barreira significativa para empresas e consumidores, uma realidade marcada por altos custos e oferta escassa. A CNI alerta que esse cenário impede o avanço de projetos cruciais para o desenvolvimento econômico do país, afetando especialmente o setor industrial, onde cadeias produtivas mais longas sofrem com o acúmulo de custos financeiros ao longo das etapas produtivas. O resultado é um encarecimento do produto final, comprometendo a competitividade brasileira.

O elevado custo do crédito no Brasil é, em grande parte, consequência de uma taxa básica de juros real muito alta, agravada por um “spread” bancário expressivo. Com a Selic fixada em 10,5% ao ano e a inflação esperada de 3,83% nos próximos 12 meses, a taxa de juros real brasileira alcança 6,42%, significativamente superior à taxa de juros neutra estimada pelo Banco Central, de 4,75%. Isso demonstra que o país adota uma política monetária contracionista, que já se estende desde fevereiro de 2022, impactando o crescimento econômico.

'Não há espaço para novos aumentos'

“Não há mais espaço para novos aumentos da Selic”, destaca o presidente da CNI, Ricardo Alban. “Com os sinais de desaceleração da inflação e o cenário global de cortes nas taxas de juros, o Brasil deve aproveitar o momento para reduzir a Selic. A manutenção de uma política monetária tão conservadora coloca o país em uma posição desfavorável na competitividade global e penaliza o crescimento econômico”, reforça Alban.

“O Brasil ocupa a terceira posição mundial em termos de juros reais, atrás apenas de Turquia (12% a.a.) e Rússia (7,55% a.a.). Esse cenário contrasta fortemente com a realidade de outros países em desenvolvimento, como África do Sul, Índia e China, que possuem taxas de juros reais consideravelmente mais baixas (3,89% a.a., 2,16% a.a. e 1.15% a.a., respectivamente)”.

“Essa diferença também se verifica quando comparamos o Brasil a economias desenvolvidas. O Reino Unido, por exemplo, apresenta uma taxa de juros real de 2,39% ao ano, muito inferior à brasileira, apesar de seu nível elevado de endividamento e crescimento econômico mais modesto”.

Riscos da China exportar deflação

Por fim a CNI adverte que “o Brasil tem mantido sua taxa de juros elevada mesmo em um contexto global que se beneficia da deflação exportada pela China, impulsionada pelos baixos custos de produção e elevados subsídios governamentais. Estimativas indicam que, em 2019, o governo chinês destinou € 221,3 bilhões (1,73% do PIB) em subsídios ao setor produtivo, o que manteve os preços das exportações chinesas baixos, pressionando a inflação mundial para baixo, inclusive no Brasil”.

Mas essa dinâmica pode estar próxima de uma mudança. “Com o aumento do protecionismo em várias economias e a possibilidade de a China enfrentar restrições fiscais, o efeito deflacionário dos produtos chineses pode diminuir ou até desaparecer. Se isso ocorrer, o Brasil deverá estar preparado para enfrentar um cenário de inflação crescente, o que pode resultar em novas altas na taxa de juros”, alerta a CNI. que assinala que a "política monetária conservadora mantém Selic acima do necessário".

Assino embaixo.