RTI: a tragédia dos erros do Copom

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William Shakespeare, sempre genial, escreveu a divertida “Comédia dos Erros”. Pois o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) encena, a cada três meses, geralmente na última quinta-feira do trimestre uma comédia de erros de previsões macroeconômicas que, na verdade, se transforma em tragédia – e quem sofre é a plateia, as famílias, as empresas e a economia real; risos dó dos rentistas e do mercado financeiro - porque as previsões de inflação balizam as decisões do Copom sobre política monetária, ou seja, definem a trajetória das taxas de juros. Desde setembro, o horizonte das projeções do Copom/RTI é de 10 trimestres.

E os sucessivos erros do Copom em suas previsões do PIB (em dezembro de 2023 reviu de 1,8% para 1,7% a previsão do crescimento da economia este ano, que alterou, em março, para 1,9%, elevada para 2,3% em junho e agora reajustada para 3,2%) se repetem nas projeções do Copom sobre o IPCA, levando em conta as medianas semanais do mercado na Pesquisa Focus, que ausculta 150 instituições financeiras, institutos de pesquisa e consultorias.

RTI prevê inflação de 0,57% em setembro

O Relatório Trimestral de Inflação, divulgado esta quinta-feira, 26 de setembro, ficou pronto antes da divulgação, pelo IBGE, do IPCA-15 de setembro, com nível de apenas 0,13%, menos da metade do que previam a LCA Consultores (+0,30%) e o Santander (+0,29%). O Itaú já reduziu em 0,06 ponto percentual a previsão do IPCA cheio de setembro.

Em função disso, a LCA revisou sua projeção para +0,47% no mês, mas o RTI manteve a previsão de 0,57% da última pesquisa Focus. O RTI alterou a previsão de inflação deste ano para 4,3%, o IPCA de 2025 para 3,7% e a taxa esperada até o primeiro trimestre de 2026 (no horizonte de 10 trimestres visado pelo Copom) para 3,5%. A meta de inflação segue em 3,0%.

As projeções do RTI e da LCA para 2024 reforçaram a decisão do Copom de elevar em 0,25% a taxa Selic para 10,75% e anunciar altas nas próximas reuniões (6 de dezembro e 11 de dezembro). Acontece que as projeções nos Estados Unidos (as reuniões do Fed são nas mesmas datas) preveem baixa de 0,50% em novembro e 0,25% em dezembro, voltaram a derrubar o dólar no Brasil, que chegou a cair 1%, mas reagiu e caía 0,68% às 11:30, cotado a R$ 5,4403. A desaceleração do dólar esfria a inflação.

PIB e Balança comercial

Os maiores erros do RTI estão ligados ao PIB e à balança comercial, o mais importante componente das contas externas. No caso do Produto Interno Bruto, as projeções dos RTI erraram feio. No RTI de dezembro de 2023, houve revisão das expectativas para 2024 de 1,8% para 1,7%. Mas, em março, a taxa foi elevada para 1,9%, depois a 2,3% e agora para 3,2%, quase o dobro dos 1,7% esperados em dezembro do ano passado. Isso explica a postura cautelosa do Copom e as surpresas com o bom desempenho da economia.

Como disse o ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy, diretor de Estratégia Econômica e Relações com o Mercado do J. Safra, não há nada de errado na economia se o PIB e o emprego estão crescendo sem desequilíbrio inflacionário. Ajustes nas contas fiscais são mais fáceis, disse. Mas o Copom sempre valoriza os desajustes fiscais, concentrados nos rombos atuariais do INSS e engordados por fraudes em aposentadorias de entes falecidos e no seguro-desemprego e licenças médicas.

Na balança comercial, que teve saldo recorde de US$ 98,8 bilhões, no RTI de dezembro a previsão para 2024 era de US$ 71 bilhões, elevada para US$ 73 bilhões e reduzida em março para US$ 59 bilhões, valor mantido em junho. Agora em setembro, foi elevada para US$ 68 bilhões, com previsão de saldo de US$ 64 bilhões para 2025.