O OUTRO LADO DA MOEDA
Economia é uma caixinha de surpresas
Publicado em 02/10/2024 às 14:52
Alterado em 02/10/2024 às 14:52
Há quase meio século cunhou-se a frase de que “o futebol é uma caixinha de surpresas” para justificar a derrota de favoritos que deixaram mal os comentaristas esportivos. Pois em Economia não é muito diferente: o Banco Central e os críticos da política fiscal do governo devem estar com gosto de cabo de guarda-chuva na boca após a agência Moody’s elevar a nota de crédito do Brasil.
Quase nenhum dos grandes bancos (Itaú e Bradesco ainda não se manifestaram) ou casas de investimento comentaram o fato que vai na contramão das análises dos últimos meses que duvidam do arcabouço fiscal. A notícia só não repercutiu mais na queda do dólar, porque dados econômicos mostraram força da economia nos Estados Unidos em setembro, esfriando as apostas de queda de 0,50% nos juros pelo Fed em 6 de novembro (dia seguinte à eleição) e o dólar voltou a subir, junto com o petróleo, depois que o Irã disparou centenas de mísseis contra Israel em represália à morte da cúpula do Hezbollah, no Líbano, milícia apoiada pelos aiatolás iranianos.
O euro caía 0,20% diante do dólar e a libra esterlina, 0,10%. Já o iene tinha forte queda de 1,60% e o dólar subia 0,37% diante do franco suíço, Em relação ao real, que fechou ontem em R$ 5,4368 e abriu hoje a R$ 5,46, as cotações não se sustentaram e o mercado rondava a faixa dos R$ 5,44 por volta das 13 horas, com alta de 0,6% no dólar, mais branda que nas demais moedas. O Brent para entrega futura em dezembro estava negociado a US$ 73,80, com alta de 0,31%, com redução ao longo do pregão.
A LCA Consultores arriscou breve análise:
“Moody´s eleva rating soberano de Ba2 para Ba1 com a continuidade da perspectiva positiva”
“Esta decisão fez com que o Brasil ficasse a uma nota do grau de investimento. Segundo a Moody´s, a melhora na classificação de risco refletiu um crescimento econômico mais robusto e um histórico crescente de reformas fiscais e econômicas. Ironicamente, a agência classificadora de riscos citou algumas reformas que foram fortemente criticadas pelo governo e seus ministros como a independência do Banco Central, Lei das empresas estatais federais e a reforma trabalhista. Como todos sabem, essas medidas só foram mantidas pelo posicionamento firme do Congresso a seu favor”.
“Embora o Brasil ainda enfrente desafios com o custo elevado da dívida, a continuidade das reformas e a adesão ao arcabouço fiscal podem estabilizar o ônus da dívida no médio prazo. Já a perspectiva positiva indica que o crescimento sustentado e a disciplina fiscal podem fortalecer a credibilidade institucional e reduzir os custos de captação. Se combinada com um crescimento econômico mais forte, essa redução no custo da dívida pode melhorar significativamente a trajetória da dívida”.
“A elevação do rating do Brasil foi surpreendente, uma vez que as agências de classificação de risco costumam adotar uma postura pró-cíclica, ou seja, reagem após mudanças significativas nos prêmios de risco e nos preços de mercado. No entanto, esse cenário não parece se aplicar no momento. Este ano, o CDS do Brasil aumentou de 132 para 153 pontos, e o real sofreu uma desvalorização de pouco mais de 10%. Outro ponto que corrobora a surpresa desse upgrade é que, com a nova classificação, o Brasil passa a integrar um grupo de países, como Omã e Marrocos, que pagam prêmios de risco em torno de 100 pontos, conforme seus CDS”.
Hora de separar investimento de especulação
A medida vem mostrar que a avaliação do mercado financeiro – que pedia alta dos juros e foi atendida pelo Banco Central – era um pouco exagerada. O país ainda está longe de alcançar o grau de investimento que é o sinal verde para grandes fundos de investimento e especialmente fundos de pensão internacionais participem de grandes projetos de investimento em infraestrutura no Brasil (ferrovias, rodovias, portos, aeroportos, hidroelétricas) e transição energética.
Mas a presente disposição do Banco Central de elevar os juros – e operar com o diferencial entre os juros americanos (em queda) e os nossos (em alta) para atrair capitais especulativos, apenas comprova a falta de entrosamento entre o BC e o governo Lula. A Moody’s parece ter compreendido que o melhor caminho para reduzir o endividamento é fazendo a economia crescer com equilíbrio. A elevação dos juros trava a economia e reduz a arrecadação, o que agrava a relação dívida/PIB.
O cassino das apostas
Realmente, quando o governo Temer, cedendo à pressão do “lobby” da jogatina no Congresso, aprovou, no final de 2018, as operações dos sites de apostas, não se sabia o tamanho da boca do inferno. Em quatro anos, Bolsonaro deixou a jogatina correr solta, sem qualquer regulamentação, apesar de servir para lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e evasão de divisas, pois a maior parte dos “bets” (controlados por brasileiros ou não) está em paraísos fiscais no exterior.
No último dia 30 de setembro, data final para ajuste, dos 650 “bets” em atuação no Brasil, 189 se habilitaram junto ao Ministério da Fazenda e mais seis no Paraná. Há sites importantes, que patrocinam grandes times, como o Esporte da Sorte, anunciante do Corintians, do Bahia, do Athletico do Paraná e juventude, além de oito times da série B, que não se enquadraram. O Esporte da Sorte está sob investigação da Polícia Federal, o que pode trazer enormes prejuízos a clubes e órgãos de comunicação.
Mas há cara de pau nos sites, já enquadrados pelo MF, que não disfarçam a jogatina no nome fantasia: PlayPIX, 1XCassinos, WJ Casino, CassinoPIX, MonteCarlos(sic)bet e MonteCarlos(sic), além de Caesar’s, leo Vegas e o máximo da caradura: BichoPIX.