O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Nova trava do Fed agita mercados

Publicado em 16/10/2024 às 15:25

Alterado em 16/10/2024 às 15:25

A três semanas da eleição americana, em 5 de novembro, e da decisão do Federal Reserve sobre juros no dia seguinte, as apostas de que o Federal Open Market Committee (Fomc) reduza o ritmo de baixa dos 0,50% de setembro para 0,25% ou até interrompa o processo de queda, provocaram baixas nas cotações do petróleo e amplificou os movimentos de venda nas bolsas americanas face os fracos resultados das empresas de microprocessadores (Chips).

O mercado estava super alavancado nessas ações. A frustração nos lucros e a mudança de rumo na baixa dos juros geraram ação preventiva de liquidação dos contratos futuros de ações, títulos, moedas e commodities para esperar a definição do novo cenário.

Com a trajetória de baixa dos juros americanos mais lenta que a das economias rivais (o banco da China, o Banco Central Europeu e os bancos da Coreia do Sul, Japão, Tailândia, Filipinas, Austrália e Nova Zelândia estão cortando juros), o dólar deu uma recuperada. A moeda americana subia hoje próximo ao meio-dia (horário de Brasília) em 0,10% frente ao euro, a libra esterlina caía 0,51%, o dólar subia 0,28% frente ao iene e +0,30% frente ao franco suíço. No meio deste ajuste, o dólar, que subiu ontem 1% diante do real, volta a operar com alta de 0,35%, cotado a R$ 5,6700.

Há ainda expectativa no mercado sobre a real disposição do governo Lula de enfrentar os desequilíbrios fiscais com cortes de gastos de R$ 30/50 bilhões, com foco na previdência social (seguro-desemprego). Com o mercado de trabalho aquecido tem havido muitas demissões e aumento dos gastos com o seguro-desemprego (deveriam encolher com a redução do desemprego). Muita gente faz trabalhos informais e fica pendurado o quanto pode no seguro-desemprego, aumentando o faturamento.

FGTS para custear seguro

Por isso, uma das ideias sensatas é segregar o dinheiro para multa de 40% paga pelos patrões nas demissões dos funcionários para custear o seguro-desemprego. Hoje o dinheiro das multas fica no caixa do FGTS, gerido pela CEF e vai financiar o mercado imobiliário.

Já prevendo uma redução de aportes (como o eventual bloqueio do dinheiro das multas do FTGS dos demitidos sem justa causa), a Caixa Econômica Federal já anunciou que vai exigir mais poupança prévia dos pretendentes a financiamentos imobiliários, com o crédito reduzido de 80% para 70% do valor do imóvel.

Especulação com terrenos estreita mercado

Tendo feito cobertura do BNH nos anos 70, quando o limite de financiamento era de 2.500 UPCs (de 1º de outubro a 31 de dezembro, cada UPC, a moeda reajustada trimestralmente do SFH, vale R$ 24,49. Isso equivaleria hoje a R$ 61.225. Mal daria para comprar os imóveis mais baratos do MCMV. Quando o BNH foi extinto no governo Sarney e suas funções assumidas pela Caixa, o limite de financiamentos em UPCs tinha subido para 4.500 UPCs. A preços de hoje seriam R$ 110.205. Também só compraria imóveis modestos no subúrbio.

A espiral de preços do mercado imobiliário reflete a escassez de terrenos nos centros urbanos. Se o SFH e a CEF financiam 80% do imóvel, em vez de o crédito habitacional estar estimulando a construção civil, a indústria de material de construção e a mão de obra, está alavancando a especulação imobiliária.

Muitas cidades do país (no Nordeste, no Sul, em São Paulo e no Centro-Oeste) têm procurado atenuar o valor da cota do terreno no preço final do imóvel, com o aumento dos gabaritos. Tirando a aberração de Balneário Camboriú (SC), é comum fora do Rio prédios residenciais de 20 a 30 andares. Na Zona Sul do Rio de Janeiro, o desastre do paredão imobiliário na praia de Copacabana, levou à limitação de gabaritos em outros bairros, salvo sem ocupação integral da área do terreno, para circulação de ar e não cortar o sol da praia.

Na Barra da Tijuca e no Recreio, há restrições a prédios muito altos na orla, mas liberação de gabaritos em áreas internas que não afetem os banhistas. A polêmica está instalada no momento em Ipanema e Leblon, com pressão dos incorporadores para derrubar imóveis menores para dar lugar a espigões de 20 a 30 andares nas ruas intermediárias, sem projeção para a praia.

O recado de Mrs. Daly sobre juros

Mary Daly, a presidente do Federal Reserve Bank de São Francisco e uma das integrantes do Fomc, destacou a importância de vigilância contínua por parte do banco central dos Estados Unidos, à medida que a inflação diminui e o mercado de trabalho esfria. Daly expressou otimismo de que as autoridades conseguirão manter a expansão econômica atual no caminho certo. Ela observou que os trabalhadores estão se beneficiando de um mercado de trabalho forte, que atraiu mais pessoas para a força de trabalho e reduziu as disparidades de renda.

Em um evento na NYU Stern School of Business, Daly mencionou que a participação da força de trabalho para trabalhadores em idade produtiva atingiu novos máximos. Daly também destacou que o mercado de trabalho está próximo dos níveis pré-pandêmicos e não é mais uma fonte significativa de pressões inflacionárias.

Daly reiterou a necessidade de equilibrar os objetivos de inflação e emprego do Fed. Ela enfatizou que, apesar do recente corte de meio ponto percentual na Fed Fund rate, as taxas ainda são restritivas e mais cortes são prováveis neste ano.

Ou seja, além de mostrar que o mercado de trabalho aquecido nem sempre é ruim, a senhora Mary Daly já se coloca como uma voz poderosa contra o Fed pedir “mesa” em 6 de novembro.

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