Pós-Moody’s, Itaú vê riscos fiscais e IPCA no teto

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Mudo até agora em relação à evolução da nota de risco de crédito do Brasil pela agência Moody’s, o Itaú divulgou, nesta sexta-feira, seu “Cenário de Outubro” que intitula de “Riscos crescentes - Fiscal: aumento da percepção de risco”. O banco elevou a projeção do IPCA deste ano de 4,2% para 4,4% (quase batendo no teto da meta, de 4,50%), reajustou a previsão do PIB de 3,00% para 3,20% e manteve a previsão da Selic em 11,75% em dezembro, que chegaria a 12% em janeiro e fecharia 2025 em 11,00%. Vejam o Cenário:

“Mantivemos a projeção de resultado primário de -0,4% (R$ -50 bilhões) em 2024 e de -0,8% do PIB (R$ -100 bilhões) em 2025. Apesar do crescimento elevado da receita, refletindo a resiliência da atividade econômica e as medidas adotadas no ano passado, não esperamos uma trajetória decisiva de consolidação fiscal devido à alta expressiva das despesas”. [em análise publicada hoje a LCA Consultores prevê déficit primário do governo central em 2024 é de -R$ 51 bilhões (-0,4% do PIB) e de -R$ 26 bilhões (-0,24% do PIB) para fins de apuração da meta de primário].

“Para o cumprimento do limite inferior da meta de resultado primário deste ano (-0,25%), o governo ainda dependerá de receitas extraordinárias e/ou incertas, como as medidas de compensação da desoneração da folha, e uma desaceleração dos gastos obrigatórios. A redução da contenção de gastos no último relatório bimestral (de R$ 15 bilhões para R$ 13 bilhões), a despeito de um maior déficit projetado pelo próprio governo, sugere um ajuste fiscal limitado e contribui para elevação da percepção de risco. O aumento das exclusões e abatimentos das regras fiscais, o volume significativo de receitas extraordinárias e a incorporação de medidas de receitas incertas ou de natureza duvidosa representam uma piora na transparência da política fiscal. Em particular, a meta de resultado primário tem perdido importância na real caracterização do esforço de consolidação fiscal, o que tende a contribuir para uma percepção de maior risco fiscal”.

A nota da Moody’s

“A redução da contenção de gastos no último relatório bimestral sugere um ajuste fiscal limitado e contribuiu para aumento da percepção de risco doméstico. Avaliamos que houve uma piora na transparência da política fiscal. Por enquanto, mantivemos nossa projeção de déficit primário de -0,4% do PIB em 2024 e de -0,8% do PIB em 2025. Ainda assim, o crédito soberano recebeu um upgrade, para Ba1, um nível abaixo do grau de investimento pela Moody’s, com perspectiva positiva (graças em especial às sucessivas surpresas com a atividade econômica)”.

Câmbio – “O aumento de prêmio de risco atrapalha a moeda, mas tem sido compensado pelo aumento do diferencial de juros, por ora. Mantivemos as nossas projeções de câmbio em R$ 5,40 por dólar ao final de 2024 e R$ 5,20 por dólar ao final 2025”.

PIB – “Revisamos a nossa projeção de PIB para 3,2% (de 3,0%) em 2024 e mantivemos em 2,0% em 2025. Esperamos alguma desaceleração da atividade no segundo semestre do ano, porém menos intensa em função do consumo das famílias sustentado pela resiliência do mercado de trabalho e o ciclo ainda positivo de crédito. Para a taxa de desemprego, nossas projeções permanecem em 6,9% em 2024 e 7,0% em 2025”.

Inflação – “Revisamos nossa projeção de inflação para 4,4% (de 4,2%) em 2024. Incorporamos bandeira tarifária amarela em dezembro e uma alimentação no domicílio mais pressionada em função da alta recente dos preços de proteínas. Para 2025, revisamos nossa projeção para 4,2% (de 4,1%) via inércia maior”.

Selic – “Projetamos um ciclo de alta da taxa Selic de 150 p.b., alcançando 11,75% a.a. ao final de 2024 e 12,00% no início de 2025. A manutenção dos juros em patamar contracionista ao longo do 1º semestre de 2025 deve resultar numa desaceleração da atividade econômica, além de alguma apreciação da taxa de câmbio, permitindo cortes de juros a partir da 2ª metade do ano, para 11,00% no final de 2025”.

“Caso a economia se mostre ainda mais resiliente, quiçá por conta da expansão creditícia, ou caso ocorra um aumento significativo do prêmio de risco com impacto sobre a taxa de câmbio, o ciclo atual de alta pode ser mais extenso, o que ameaçaria os cortes ao longo do ano que vem”.