Na sabatina de Galípolo, mercado sobe dólar

Por

No dia em que a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado realiza a sabatina para a aprovação da indicação do nome do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, para suceder a Roberto Campos Neto na presidência, a partir de janeiro de 2025, o mercado financeiro deu um recado duro para forçar a elevação da taxa de juros, com nova alta do dólar.

Depois de fechar ontem a R$ 5,49, com alta de 0,63%, o dólar abriu hoje cotado a R$ 5,5094 e escalou rapidamente a R$ 5,5339 (alta de 0,80%) tão logo Galípolo começava sua exposição, num recado claro dos operadores do mercado de que não aceitam afrouxamento da política monetária, ao contrário do que disse o presidente Lula, que “espera que a Selic caia (no tempo); já o mercado quer altas da taxa Selic em 0,50% em 6 de novembro e em 11 de dezembro, nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

Entretanto, assim que Galípolo começou a responder às perguntas, com vistas à aprovação da CAE e posterior votação no Plenário, as cotações começaram a ceder, com boa recepção aos conceitos expostos pelo presidente indicado do BC. Às 11:40 as cotações tinham descido a R$ 5,52, com alta de 0,70%. Mas o pano de fundo era de pressões altistas, pois o mercado financeiro internacional está convicto de que o Fed só baixará em 0,25% nos juros no dia 6 de novembro e o processo de baixa nos juros americanos será lento, o que obrigará o Copom a não baixar a guarda por aqui.

Óleo e carnes substituem soja na exportação

Os efeitos do El Niño, que se prolongam este ano, afetaram as safras de soja e milho em 2023/24 e reduziram em US$ 8,7 bilhões as exportações de soja (US$ 8,4 bi) e milho (US$ 300 mi) até a primeira semana de outubro. Mas o lugar vem sendo ocupado pelo aumento das vendas de petróleo bruto (+US$ 4,5 bilhões), pelo açúcar (+US$ 3,7 bilhões) e pelas vendas de carne bovina.

No ano, até a 1ª semana de outubro as exportações de soja, ainda líderes nas vendas do país, somaram US$ 47,3 bilhões, mas os embarques de petróleo acumularam US$ 35,6 bilhões, compensando parte das perdas com a soja. As exportações caíram 0,6% em relação ao mesmo período do ano passado, somando US$ 261,03 bilhões, enquanto as importações cresceram 7%, alcançando US$ 200,84 bilhões.

Com isso, o saldo comercial encolheu de US$ 80,791 de janeiro a outubro de 2023 a US$ 60,138 bilhões em igual período de 2024. A Secretaria de Comércio Exterior do MDIC não detalhou os dados da exportação de carnes na 1ª semana de outubro, mas os dados até setembro, fornecidos pelas associações de carnes bovinas, de suínos e de frangos, apontam um total de US$ 18,318 bilhões de exportações. A liderança é da carne bovina (US$ 9,160 +20% sobre o mesmo período de 2023), seguido por US$ 7,273 bilhões em frangos e US$ 1,835 bilhão em suínos. A China lidera as compras em carne bovina, de frango e de suínos.

O ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Sempre dizia que um frango exportado era a conversão de milho e soja em carne com 40 a 45 dias de prazo e ganho de valor agregado; no caso do porco, o prazo até o abate chega a 180-200 dias. Nada compensa melhor, portanto, a perda na soja em grão que a maior venda de carne de frango, de suínos e até de bovinos, que aproveitam sobras de cereais e grãos nos confinamentos de Mato Grosso e Goiás, dois dos maiores produtores de bois do país.

Mas a importação revela um forte crescimento nas compras de componentes eletrônicos (incluindo chips) para a modernização e transição energética do parque industrial e do comércio, o que tende a gerar ganho de produtividade. Combustíveis e adubos e fertilizantes continuam em baixa, desde o pico de 2022, quando os preços dispararam com a invasão da Ucrânia pela Rússia.