IPCA acumula 4,42% e segue dentro do teto

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O IPCA de setembro teve alta de 0,44%, segundo o IBGE. Com o impacto das tarifas de eletricidade (bandeira vermelha nível 2 e dos alimentos), a taxa foi 0,46 pontos percentuais acima dos -0,02% de agosto e ficou abaixo das últimas projeções do mercado (0,46%, segundo a mediana das expectativas do mercado e do Itaú e os 0,48% da LCA Consultores). Em 12 meses, o IPCA acumula alta de 4,42%, ante 4,2% em agosto, (5,19% em setembro de 2023) dentro do teto da meta de inflação, de 4,50%, (no radar, salvo um cataclisma).

Mas cabe observar que o resultado de setembro significou o quarto erro seguido nas projeções do Relatório Trimestral de Inflação. Publicado pelo Banco Central em 27 de junho e que serve de balizamento para as decisões do Comitê de Política Monetária, o RTI, com base nas expectativas do mercado, apuradas na pesquisa semanal Focus do BC, apontava uma inflação de 0,57%.

Nos últimos quatro meses, o RTI errou todas as previsões, acumulando 0,16 ponto percentual acima do verificado pelo IBGE, o que pode ter levado o Copom a balizar a taxa Selic acima do necessário. Roberto Campos Neto, o presidente em fim de mandato (um trimestre) até ser substituído pelo atual diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, em 1º de janeiro de 2025, já disse que o juro real (descontado a inflação) está muito alto no Brasil.

Descontando a inflação de 4,42%, a Selic em 10,75% representa juro real de 6,06%. A taxa de juro real considerada neutra pelo Banco Central está entre 4,50% e 4,80%. Portanto, o juro real atual está contraindo a economia em 1,56 p.p. Como cada ponto a mais de juros na Selic onera em R$ 55 bilhões a dívida pública, pode-se dizer, grosso modo, que o excesso de juros está custando cerca de R$ 85 bilhões em 12 meses. E o juro real de longo prazo é de 6,50%.

BC precisa melhorar suas previsões

A necessidade de maior acurácia nas projeções do Banco Central, expressas nos RTIs e levadas às mesas de discussões do Comitê de Política Monetária deve ser uma das prioridades do novo presidente eleito pelo Senado para o comando da autoridade monetária nos próximos quatro anos – até 2028. Com a indicação de Galípolo à presidência, abrem-se três vagas na diretoria do BC até 31 de dezembro: a de Política Monetária, a de Cidadania, ocupada por Carolina Assis, e a de Regulação, dirigida por Otávio Damaso.

Parece claro que a gestão de Diogo Guillen à frente da diretoria de Política Econômica, responsável pelo RTI e pelos relatórios ao Copom (como se fosse um secretário-executivo), não foi das mais eficazes. O economista Paulo Pichetti, que no Ibre/FGV, cuidava de contas nacionais e acompanhamento da inflação e está ocupando a diretoria Internacional e de riscos, é mais talhado para o cargo que Guillen, cujo mandato expira em 31 de dezembro de 2025. Na dança das cadeiras do BC (e do Copom) parece necessário, além de uma mulher, a inclusão de experiente operador em câmbio na área Internacional, diante do cenário externo de turbulências previsto para os próximos dois anos.

O que se combate com juros?

Da abertura do IPCA de setembro, além do salto de -2,77% na energia elétrica em agosto para +5,36% em setembro, que contribuiu com 0,21 ponto percentual no IPCA de 0,44% (com a bandeira vermelha 2 cada 100 kwh consumidos a mais custa R$ 4,46) e para a alta de 1,80% em Habitação, com a ajuda do reajuste de 2,40% no botijão de gás, chamou a atenção o forte aumento da Alimentação e Bebidas (+0,50%) depois de dois meses de índices negativos. Um dos fatores de pressão foi a carne, que subiu 2,97% e tende a subir no fim do ano, com aumento dos custos com os bois em confinamento, pelo impacto da estiagem e incêndios nos pastos.

O Itaú chamou a atenção para as surpresas baixistas em despesas pessoais e cuidados pessoais. E impactos benignos nos núcleos de serviços subjacentes (“em linha com as expectativas, enquanto industriais subjacentes vieram abaixo do esperado, puxados por higiene pessoal”), os mais afetados pelos juros.

Segundo o Itaú, “na média móvel de três meses, com dados dessazonalizados e anualizados, os serviços subjacentes desaceleraram de 5,4% para 4,8%, enquanto o núcleo de industriais subjacentes acelerou de 2,6% a 3,0%. Na mesma métrica, a média dos núcleos acelerou de 4,6% para 4,9%”. O banco assinalou ainda que “os serviços ligados a mão de obra e alimentação fora do domicílio seguem comportados, a despeito do mercado de trabalho apertado”.

Importante notar que o índice de difusão de alta dos 377 itens pesquisados pelo IBGE se manteve em 56%, como em agosto. Os itens alimentícios em alta subiram de 49% para 59%, mas a elevação dos bens não alimentícios recuou de 62% para 55%. O que chama a atenção é a persistência altista dos bens e serviços regulados por reajustes indexados à inflação passada (caso dos planos de saúde, que acumulam alta de 6,10% no ano, contra 3,31% do IPCA e 8,55% em 12 meses, contra 4,42% do IPCA, e da Educação, com alta de 6,58% no ano e de 6,91% em 12 meses. Esses não são atingidos pelos juros.

Neste caso, parece que acurácia dos efetivos custos precisam ser mais bem examinadas pelas agências reguladoras, o que se aplica à energia elétrica e outros preços críticos. Nos combustíveis, a troca do PPI pelo abrasileiramento dos preços, desde maio de 2023, mesmo com a reoneração dos impostos cortados em 2022 e que se completou este ano, certamente economizou-se de 1,00% a 1,30 p.p. na inflação. Ou seja, gerou economia indireta de R$ 74 bilhões na dívida pública.