Cuidados do Fed que o Copom devia seguir

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O aumento de 0,2% em setembro, no CPI, o índice de preços ao consumidor que mais baliza as decisões do Federal Open Market Committee (Fomc), o órgão formulador da política monetária do Federal Reserve Bank, o Banco Central dos Estados Unidos, repetindo a taxa mensal de agosto, levou a inflação em 12 meses para nova baixa, dos 2,5% de agosto para 2,4% em setembro, confirmando o pouso suave da inflação para a meta de 2,00%.

Junto com a leitura da Ata do Fomc, divulgada ontem, quando ficou explícito que não foi apenas a diretora Michelle Bowman, que divergiu do corte de 0,50% nos “fed funds” em 18 de setembro (Bowman preferia 0,25%), encaminha um cenário de que na reunião de 6 de novembro deve prevalecer um corte de 0,25%, com risco até mesmo de a taxa ficar estável.

Mas a entrevista da presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, em sessão de perguntas e respostas na Boise State University, fornece mais pistas para a decisão e os passos futuros. Daly disse estar confiante da convergência da inflação para a meta de 2% ao ano, em meio ao mercado de trabalho mais equilibrado. Segundo sua visão, o corte de 50 pontos-base na “fed funds rate” (equivalente à Selic) “se fazia necessário para recalibrar a taxa de juro nominal à queda da inflação, de modo a evitar que juro real aumentasse ainda mais e sufocasse a economia”.

[Ah, que recado ao nosso Comitê de Política Monetária que se espelha no FOMC! Nos Estados Unidos, além do controle da inflação e do fomento ao pleno emprego, que são mandatos do Federal Reserve, a autoridade monetária se preocupa em não fazer o juro real dar um salto e sufocar a economia. Aqui no Brasil o juro real deu um salto desde 2023 e a inversão deste ano já travou as vendas do comércio em agosto – ver abaixo)]

Daly reforçou, no entanto, que o corte agressivo inicial não projeta para a próxima reunião do Fomc reduções de mesma magnitude, e que tal decisão - cortar 50 pontos-base em setembro - foi adequada para aquela reunião. Também citando o Sumário de Projeções Econômicas divulgado mês passado, mencionou que a projeção mediana é de um ou dois cortes adicionais, mas que as decisões do Comitê dependerão dos dados a serem divulgados.

Vejam abaixo como o Copom elevou os juros reais tarde, em 2022, quando Bolsonaro e Paulo Guedes resolveram passar o “bisturi” na inflação, sem esperar pelo BC, cortando impostos federais e estaduais dos preços críticos (combustíveis, em especial a gasolina, energia elétrica e comunicações) de 1º de julho a 31 de dezembro de 2022. O BC, sem trocar informações com o novo governo, manteve os juros elevados prevendo a imediata reoneração dos impostos em 1º de janeiro de 2023 – o que só veio a completar (em menor patamar de impostos) em 2024. O efeito disso foi o aumento brutal do juro real, mesmo descontando o fato de que o Copom olha a meta do IPCA 18 meses além. Por isso, o presidente Lula critica tanto o Banco Central.

Alta dos juros freia o comércio

A interrupção do processo de baixa da Selic em junho e as informações de alta na reunião de setembro, por pressão da alta do dólar, que fizeram as financeiras antecipar a alta de juros, tiveram forte influência no fraco resultado do volume de vendas do comércio em agosto. E deve esfriar o PIB do 3º trimestre, adianta o Itaú.

Segundo o IBGE, o volume de vendas do comércio varejista encolheu 0,3% em agosto, com fraco movimento no Dia dos Pais, após avanço de 0,6% em julho. No acumulado do ano as vendas cresceram 5,1% em volume e 4,0% em 12 meses.

No varejo ampliado, que inclui veículos, motos e autopeças e materiais de construção, ambos dependentes do crédito, além do atacarejo, o volume de vendas caiu 0,8%, acumulando aumento de 4,5% no ano e de 3,7% nos últimos 12 meses. Em agosto, a atividade de Veículos e motos, partes e peças caiu 5,2%, ao passo que o setor de Material de construção teve alta de 0,3%.