Fazenda acaba com farra das ‘bets’

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Demorou, mas chegou a hora. Enfim, depois de quase seis anos de jogatina desenfreada, sancionada, no fim do governo Temer, em 2018, da proposta de autorização feita pelo “lobby” dos jogos de azar no Congresso, e que correu solta, sem qualquer regulamentação, nos quatro anos de governo (?) Bolsonaro, o governo Lula, através do Ministério da Fazenda, fez uma limpeza no saloon: baniu 2040 sites de apostas e autorizou apenas 96 empresas no âmbito federal, com 193 sites (algumas com dois ou três sites de apostas) e 20 no âmbito Estadual (12 do RJ; seis do PR, três do MA e um de MG).

Não se sabe qual será o efeito na redução da elisão fiscal e na evasão de divisas. Boa parte das “bets”, de controle nacional ou estrangeiro, está registrada em paraísos fiscais do Caribe, na ilha de Malta, no Mediterrâneo, em Liechtenstein, em Andorra ou nas ilhas do canal da Mancha (Alderney, Guernsey, Jersey, Sark e Man). Nem se a febre da jogatina vai baixar.

Muito menos se os investidores que tinham apostas vencedoras a receber ou créditos junto aos sites que tiveram ordem de suspensão das atividades pela Anatel às operadoras vão ficar a ver navios. No jogo do bicho, vale o que está escrito. Nas apostas via celular, para sites que operavam de forma clandestina, as garantias são quase semelhantes à dos que investiram em “pirâmides” financeiras ou de bitcoins. De qualquer modo, um pouco de ordem é benvinda.

Copom já esfriou a economia

A inflação ainda não cedeu desde que o Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu, em maio, reduzir o ritmo de baixa da taxa Selic, de 0,50% para 0,25% - em 10,50% ao ano, nível mantido em junho e julho e elevado para 10,75% em 18 de setembro.

A inflação medida em 12 meses estava em 3,93% em maio, quando a meia-trava do Copom, seguindo a suspensão da baixa de juros do Fed, provocou alta do câmbio. Saltou para 4,23% em junho, 4,50% em julho (pelo reajuste da gasolina), voltou a 4,24% em agosto e atingiu 4,42% em setembro, com projeções do mercado de que fechará 2024 em 4,4% (previsão do Itaú, Bradesco e da LCA Consultores).

O dólar continua oscilando no mercado internacional à medida que se aproxima o desfecho (incerto) da eleição americana (Kamala Harris lidera no voto direto, mas a definição nos colégios eleitorais dos estados pêndulos segue apertada, pela recuperação de Donald Trump nas duas últimas semanas). E o Fed se mostra cauteloso em repetir a dose ousada de redução de 0,50% nos juros em 6 de novembro, dia seguinte à eleição.

Assim, o real que ontem tinha se recuperado frente ao dólar, hoje opera em baixa acentuada. Depois de abril a R$ 5,5841, o dólar escalou rapidamente até R$ 5,6460, por volta do meio-dia, numa desvalorização diária de 0,74% do real e de 3% em uma semana.

Serviços, motor do PIB, tem pane

Após revelar ontem que o comércio varejista teve queda de 0,3% em agosto e -0,8% no volume de vendas do comércio ampliado (veículos, motos, autopeças e materiais de construção, bens sensíveis aos juros bancários que anteciparam a alta da Selic em setembro), o IBGE informou hoje que o volume de vendas do segmento de serviços, na Pesquisa Mensal de Serviços, recuou 0,4% frente a julho e teve avanço, em ajuste sazonal, de 1,7% sobre agosto de 2023.

O setor de Serviços representa 67% do PIB e as pesquisas do IBGE sobre comércio (PMC) e a PMC representam mais de 50% do desempenho do maior segmento da economia. Para o Itaú, que desatacou o recuo de agosto já reflete a tendência de desaceleração no PIB do 3º trimestre, após o crescimento de 1,4% no 2º período. “Com o dado de hoje, o carrego estatístico para o 3º trimestre ficou em 0,8% (índice cheio) e 2,0% (serviços prestados às famílias).

Mas o banco chama atenção de que houve uma forte revisão para cima da série de 'Serviços profissionais, administrativos e complementares' desde 2023, provavelmente incluindo uma empresa do setor de agenciamento de espaços de publicidade que não vinha reportando adequadamente suas receitas. Entre as 5 principais categorias, 2 avançaram e 2 contraíram na margem. Os destaques positivos mensais foram de 'Outros serviços' (+1,4%) e 'Serviços prestados às famílias' (+0,8%), enquanto 'Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio' (-0,4%) e 'Serviços de informação e comunicação' (-1,0%) registraram as maiores contrações.