Para Haddad, juro real está muito alto

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Como homem sensato que é, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tocou num ponto que esta coluna focalizou na quinta-feira da semana passada: o nível de taxa de juro real de 6% a 7% (descontada a inflação) pago pelo Tesouro Nacional aos investidores que aplicam nos títulos da dívida pública é “irracional”. A fala do ministro foi dita hoje no Itaú BBA Macro Vision, quando também abordou a inflação e o arcabouço fiscal. Por sinal, o Itaú tem a maior carteira do país com investidores nos títulos públicos.

“A inflação, mesmo com o choque de oferta importante por falta d’água, que impacta produção de alimentos e energia elétrica, o desastre que aconteceu no Rio Grande do Sul, mesmo com esses choques todos… há alguma perspectiva de a inflação ficar dentro do teto”, disse Haddad.

Focus prevê IPCA de 4,45%, no teto

[De fato, a Pesquisa Focus, divulgada hoje pelo Banco Central e captada até sexta-feira junto a uma centena e meia de instituições financeiras, consultorias e institutos de pesquisa, elevou ligeiramente a previsão do IPCA deste ano, de 4,38% para 4,39%, sendo de 4,45% a previsão mediana dos últimos cinco dias úteis – dentro do teto da inflação de 2024 (4,50%, sendo 3,00% a meta e 1,50% de tolerância). O mercado manteve para este ano a Selic em 11,75%.

As projeções para a inflação de outubro, com os efeitos da falta de água nos alimentos e energia subiram de 0,35% para 0,40% e 0,46% nas respostas dos últimos cinco dias úteis. Para novembro, a previsão ficou estável em 0,20% e a taxa de dezembro se elevou de 0,44% para 0,47%, repetida nos últimos cinco dia (o IPCA subiu 0,54% em dezembro de 2023).

Para 2025, o mercado revisou ligeiramente para baixo a previsão do IPCA, de 3,97% para 3,96%, enquanto as previsões dos últimos cinco dias úteis recuavam para a mediana de 3,94% (a meta é de 3,00%+1,50% de tolerância). Mesmo com a inflação na meta (3,80% para os preços administrados) o mercado elevou a Selic de 2025, de 10,75% para 11,00%. Já a mediana dos últimos cinco dias úteis, junto com a menor inflação recuou a Selic aos 10,75% da semana anterior. Para 2026 o IPCA ficou em 3,60% e a Selic em 9,50%

Calibrar despesas para crescer mais

Para o ministro da Fazenda, “se o governo tiver a inteligência de calibrar e restringir despesas públicas e garantir receitas” - mantendo o equilíbrio previsto no arcabouço fiscal – “o país terá capacidade de crescer de forma sustentada”. Ou seja, se a inflação estiver na meta e gastos equilibrados com as receitas, não há necessidade de elevação dos juros que tanto trava a economia e transforma o crescimento em voo de galinha, de fôlego curto e intermitente.

Haddad adiantou que o governo está se preparando para revisar para cima a última previsão de crescimento do PIB deste ano, que começou em 2,5% e subiu para 3,2%. Na Pesquisa Focus a mediana do PIB deste ano foi elevada1 de 3,00% para 3,01% e as respostas dos últimos cinco dias úteis situaram em 3,07%. Para 2025, a previsão ficou inalterada em 1,93%, mas subiu a 1,97% na mediana das respostas dos últimos cinco dias úteis.