Com estouro da meta, Selic sobe em 2025

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A 15 dias da eleição americana, com projeções que apontam a vitória de Donald Trump e folgada maioria republicana no Congresso, o dólar avançou em relação a todas as moedas e ao real. Isso reforçou a aposta do mercado financeiro, na pesquisa Focus, divulgada hoje pelo Banco Central, de altas do dólar no fim do ano e do IPCA, que estaria batendo no teto da meta: 4,50%, enquanto a mediana das previsões dos últimos cinco dias úteis prevê o estouro da meta, com inflação de 4,54%.

Com os aumentos nas previsões de inflação de outubro (de 0,40% para 0,49% e 0,51% nos últimos cinco dias – há um mês, a previsão era de 0,31%), de estabilidade em novembro (0,20%) e de alta em dezembro (de 0,47% para 0,48% e 0,51% na mediana dos últimos cinco dias úteis, contra 0,45% há 30 dias), e da elevação do IPCA de 2025 (de 3,96% para 3,99% e 4,00% na mediana dos últimos cinco dias), o mercado elevou a projeção da taxa Selic.

Para dezembro de 2024, a taxa foi mantida em 11,75%. Mas, para 2025, com as crescentes apostas de alta na Selic até o fim do primeiro trimestre para 13%, o mercado reajustou de 11,00% para 11,25% a previsão do fechamento da taxa Selic em dezembro de 2025. Há um mês, a taxa prevista era de 10,50%. Para 2026 a Selic foi mantida em 9,50% e, em 9,00% para 2027.

Dólar segue pressionado

No mercado de câmbio, o dólar seguiu em forte alta frente ao euro, que caía 0,0,34% depois do meio-dia (horário de Brasília). A libra esterlina cedia 0,42% ante o dólar. O iene perdia 0,50% e o franco suíço desvalorizava 0,03%. Já o real, depois de abrir a R$ 5,6894 e escalar até R$ 5,7350, o dólar não se sustentou ante o real e às 12:20 era cotado a R$ 5,6075, com alta de apenas 0,09%.

Depois de amargar queda de 7% na semana passada, a cotação do Brent futuro para entrega em dezembro subia 0,78%, cotado a US$ 73,61 por barril.

Por que inadimplência rural tem perdão?

Toda atividade econômica está sujeita a altas e baixas. A boa gestão deve resguardar os lucros para os momentos de aperto. Nas atividades rurais, sujeitas às intempéries, mais precavidos devem ser os gestores, pois nem sempre o ciclo de colheita pode caminhar com preços na mesma direção do plantio. Quando os ganhos da colheita superam largamente os custos da produção, é uma festa. Mas é preciso, como a formiga, se precaver para o período inverso: os insumos encareceram, mas apesar da quebra da safra, os preços dos mercados internacionais estão favoráveis.

No comércio, na indústria e nos serviços – salvo numa grande pandemia, como a da Covid - não há tratamento preferencial às empresas em dificuldades financeiras. Os remédios são amargos e nem todos têm condições de se entender com os credores ou obter a recuperação judicial.

Entretanto, estamos assistindo, mais uma vez, uma pressão vinda do campo para que os bancos oficiais promovam uma moratória na dívida de produtores rurais. Creio que esse realejo já cansou. Com exceção dos agricultores familiares de pequeno porte (não confundir com grandes empreendimentos familiares), os segmentos da agricultura não dependem mais exclusivamente dos bancos oficiais (BB, BNDES, Banco do Nordeste). A própria rede bancária, que entrou firme no apoio ao agronegócio, deixou de ser a única fonte alternativa de crédito aos grandes produtores do agronegócio.

Além de créditos dos fornecedores de sementes, adubos e fertilizantes, os grandes produtores dispõem há alguns anos de novas fontes de financiamento de safras, como contratos de hedge com os compradores e outros instrumentos creditícios, com troca de posição entre os credores. Levantamento recente indica que mais de 1,5 milhão de investidores participam ativamente desse mercado, que já movimenta quase R$ 1 trilhão em ativos, distribuídos entre Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs), Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagros).

Por que, então, o choro só vale para sensibilizar os bancos oficiais? Alegar que não teriam recursos para tocar a nova safra, não passa de recurso barato. No passado, fazia eco. Assim como uma carreata de tratores e máquinas, sensibilizava o Congresso. Agora, o agronegócio – como gostam de encher a boca as novas lideranças rurais – tem de ser tratado com menos condescendência e a bancada do agro precisa ter mais responsabilidade e coerência.