O OUTRO LADO DA MOEDA
Alta da carne fortalece o dólar
Publicado em 08/11/2024 às 16:04
Alterado em 08/11/2024 às 16:04
Se o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fosse nutricionista, e não professor de ciência política com graduação em Direito, mestrado em Economia e PhD em Filosofia, poderia receitar para a população - assustada com a alta das carnes, que subiram, em média 5,81% em outubro, mais do que todo o ano até setembro (0,44%), quando tiveram alta de 2,97%, refletindo a especulação com os efeitos da seca e os incêndios sobre a engorda de bovinos - uma dieta à base de frutas. É que estas caíram 1,06%, puxadas pelas quedas nos preços da manga (-17,97%) e do mamão (-17,83%).
Influenciados pela alta das carnes, que bateram recorde de exportação em outubro, com o estímulo da maior remuneração em dólar, os preços dos alimentos e bebidas subiram 1,06% e impactaram em 0,23 ponto percentual a elevação de 0,56% no IPCA, superando os 0,44% de setembro, na 2ª maior taxa mensal de 2024, só inferior aos 0,83% de fevereiro, quando houve forte impacto dos reajustes anuais da educação.
No acumulado do ano o IPCA está em 3,88% e a taxa de 12 meses saltou para 4,76%, a maior do ano. O movimento estourou o teto da meta de inflação (3,00%+1,5) de tolerância=4,50%), porque a taxa subiu 0,24% em outubro de 2023, quando o IPCA acumulava alta de 4,82%.
Devido a seu maior peso tanto no IPCA (que mede as despesas das famílias com renda até 40 salários-mínimos - R$ 56.480) e do INPC (até 5SM -R$ 7.060), que subiu 0,61%, a Alimentação e Bebidas teve o mesmo impacto no IPCA que o da Habitação (0,23 p.p.), apesar de subir 1,49%, com a forte alta de 4,74% da energia elétrica residencial (bandeira vermelha 2 em outubro).
A contrapartida foi a baixa de 0,38% no item Transporte, em função da baixa de 11,50% nas passagens aéreas e das eleições. Com o 1º e o 2º turno, houve gratuidade de transportes em várias cidades nos dias de eleição e o que gerou baixas nos diversos modais de transporte público: trem (-4,80%), metrô (-4,63%), ônibus urbano (-3,51%) e integração transporte público (-3,04%). Já os combustíveis baixaram 0,17%, com queda no etanol (-0,56%), no óleo diesel (-0,20%) e na gasolina (-0,13%), enquanto o gás veicular aumentou 0,48%.
A pressão dos alimentos está afetando a renda das famílias que recebem até o limite do INPC, que subiu 0,61% em outubro, com alta de 1,11% nos produtos alimentícios (0,49% em setembro), acumulando um salto de 2,60% em dois meses após dois meses de baixas (julho e agosto).
Nos últimos 12 meses, o IPCA, com alta de 4,76%, ainda sobe mais que o INPC (4,60%). A cidade com maior inflação no Brasil é Belo Horizonte (6,23% no IPCA e 6,48% no INPC) e a menor inflação é do Recife (3,48% no IPCA e 3,17% no INPC).
OLM
Dólar volta a subir e estoura meta de inflação
Infelizmente, além da especulação com a seca, que amplifica os impactos da quebra de produção e oferta de alimentos hortigranjeiros, o mundo vive um ioiô nas cotações do dólar nos dias anteriores e posteriores à eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos. Hoje, depois da decisão cautelosa do Fed, de reduzir o ritmo de queda dos juros nos EUA, de 0,50%, em setembro, para 0,25% e deixar em aberto os próximos passos, tendo em vista as promessas de Trump de elevar as tarifas (medida que tem impacto inflacionário), o dólar voltou a subir em todo o mundo.
O euro registrava às 11:30 (hora de Brasília) queda de 0,43%, acumulando baixa de 0,70% na semana e a libra esterlina tinha perda de 0,35% no dia e alta semanal de 0,9%. O dólar caía 0,12% ante o iene, com baixa de 0,17% na semana, comportamento inverso ante o franco suíço: alta de 0,11% na sexta-feira e de +0,43% na semana. Diante do peso mexicano o dólar subia hoje 0,77%, mas acumulava queda de 1,54% na semana.
Já o real, depois de fechar ontem com alta de 0,23%, revertendo parcialmente a baixa de 1,24% na quarta-feira, o dólar abriu a R$ 5,6926 nesta sexta-feira e escalou para R$ 5,7541, às 11:40, com alta diária de 1,09%. Na semana, o comportamento do real mostrava valorização de mais de 2%.
Mercado aguarda corte de gastos
O comportamento errático do dólar no Brasil se prende às dúvidas sobre a extensão dos cortes de gastos públicos em discussão no governo Lula, que já foi adiado para a semana que vem, pois o presidente quem ter uma conversa com os presidentes da Câmara e do Senado para ter suporte do Congresso às medidas que vierem a ser adotadas e exigirem aprovação das duas casas.
Paralelo a isso, crescem no mercado as apostas – diante da provável parcimônia do Federal Reserve em cortar juros em dezembro, a um mês da posse de Trump (20 de janeiro), quando se espera para janeiro medidas de impacto inflacionário na economia americana com reflexos mundiais – de que o Copom, além de elevar a Selic em 0,50% em 11 de dezembro, para 11,75%, carregue em aumentos até 13% nos juros básicos do país até maio.