Após Trump, Copom e Fed na mira

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Confirmada a vitória de Donald Trump, com larga margem republicana na Câmara e no Senado, o que facilita a implementação das medidas prometidas em campanha, os mercados financeiros de todo o mundo reagiram com forte alta do dólar. Isto porque a crença geral é de que as medidas protecionistas de Trump (elevação de tarifas de importação) irão gerar inflação e podem frear, por isso, a trajetória de queda de juros programada pelo Federal Reserve.

O dólar tinha forte alta diante do euro, que perdia mais de 2% diante do dólar às 10:30 (horário de Brasília), enquanto a libra esterlina desvalorizava 1,41%. O dólar subia 1,77% frente ao iene e +1,60% perante o franco suíço. As moedas emergentes sofriam ainda mais. O dólar subia 1% diante do yuan chinês e +2,57% diante do peso mexicano (com temor de medidas protecionistas contra o México em janeiro de 2025). T

No Brasil, após fechar ontem a R$ 5,7508, com baixa de 0,70%, o dólar abriu o dia a R$ 5,7512 e escalou para R$ 5,8605, mas as cotações não se sustentaram e desceram a R$ 5,7822, às 10:43, com alta de 0,55%, devolvendo parte da perda da véspera. No mercado circulam apostas de que o dólar irá escalar para a faixa de R$ 6,00. Por ora, só especulação.

Mercado aguarda Copom e Fed

Há muita expectativa no mercado sobre o comunicado do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), que decide hoje, às 18:30 o nível e a trajetória das taxas de juros após a vitória de Trump. A expectativa é de uma alta de 0,50% na taxa Selic, para 11,25%. Mas o Copom deve assinalar maior dependência dos dados para suas decisões futuras.

Os dados domésticos sobre a inflação tornam quase irreversível o estouro do teto da meta de inflação este ano (3,00%+1,50% de tolerância+4,50%, com as pesquisas de projeções apontando entre 4,55% e 4,60%. Mas o que deve condicionar os passos futuros do Copom é a decisão, amanhã, dia 7 (devido à eleição) do Federal Open Market Committee (Fomc).

O Fomc previa baixa de 0,25% nos juros, mas, com a vitória de Trump e o impacto das promessas de campanha na inflação – que tinha descido a 2,1% em 12 meses, praticamente na meta de 2% - o Fed pode anunciar cautela para as decisões futuras, condicionadas ao rigor e ao ritmo das medidas protecionistas prometidas. O mercado de moedas já começou a precificar uma nova trajetória mais contracionista dos juros americanos.

Cortes fiscais ganham relevância

Por isso mesmo, ganhou relevância do ataque do governo Lula ao crescimento dos gastos que se manifestam acima das receitas em duas contas importantes: no INSS, incluindo seguro-desemprego, e no Benefício de Prestação Continuada (BPC). Um reforço na clivagem dos beneficiários cadastrados no Bolsa Família também está no radar. Se o Brasil tivesse cadastro único a identificação de fraudes no recebimento de benefícios (a pessoa morreu e o dinheiro segue pago como se vivo fosse), o seguro-desemprego já ultrapassou o prazo legal, e a pessoa já tem renda suficiente e deve ser excluída do BF.

Mas uma questão conceitual é o da indexação das aposentadorias e do BPC ao salário-mínimo. O cálculo do reajuste do salário-mínimo leva em conta a atualização monetária pelo INPC (que mede as despesas de quem ganha até cinco salários-mínimos) + a variação do PIB. Trata-se de um princípio claro de justiça social repartir o ganho do crescimento do PIB para quem contribuiu com seu trabalho na ativa.

Entretanto, faz sentido atribuir a quem está aposentado (e teoricamente não influi mais na produção e no crescimento do PIB, bem como exige menos despesas de vestuário e pode desfrutar da gratuidade do transporte) ser beneficiado nos proventos da aposentadoria com o índice integral de variação do PIB?

O mesmo se aplica a quem precisa do BPC e os aposentados pelo Funrural, que nunca contribuíram com a previdência, era inicialmente contemplados com meio salário-mínimo e na Constituinte, decidiu-se que ninguém poderia receber menos de um salário-mínimo (o que dobrou o rombo do Funrural e foi estendido ao BPC. Um aumento de 3% a 3,3% do PIB (esperado para 2024) pode aguçar mais os estouros dos gastos. É uma corajosa discussão de política pública, que defende a ministra do Planejamento, Simone Tebet.