Refluxo do dólar no mundo e no Brasil
A vitória folgada de Donald Trump, com 4,6 milhões de votos de vantagem na eleição popular e por 295 a 226 votos no Colégio Eleitoral, foi comemorada pelos bolsonaristas e economistas ortodoxos no Brasil, que defendiam uma autonomia extrema do Banco Central em relação ao Executivo. Por isso, criticavam duramente o presidente Lula quando este tecia críticas à rigidez do BC e pedia mais flexibilidade (para baixo) na taxa Selic.
O mundo gira e a lusitana roda. Lula já indicou o atual diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo para suceder a Roberto Campos Neto, remanescente do governo Bolsonaro, em janeiro de 2025. E ontem, o Comitê de Política Monetária do BC (Copom) elevou novamente a Selic, desta vez em 0,50% para 11,25% ao ano e deu indicações duras sobre a trajetória futura da política monetária e reafirmou que “uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”.
Em outros tempos, a turma da Faria Lima estaria bradando: “não disse”. Mas acontece que nos Estados Unidos, onde o Federal Open Market Committee -Fomc, adiou para hoje, quinta-feira, 7 de novembro, a decisão que deveria ter tomado ontem sobre as taxas de juros (porque na terça-feira foi dia de eleição), está enredado com as medidas prometidas por Trump, como o drástico aumento das tarifas de importação, em especial sobre os produtos chineses.
É uma medida que gerará inflação e iria afetar – em condições normais de temperatura e pressão – a trajetória de baixa dos juros, levando o Fed a ser mais cauteloso. Mas acontece que Donald Trump já declarou em alto e bom som que “quer opinar sobre as taxas de juros, e a política do Federal Reserve, que podem alterar as perspectivas de crescimento e inflação. Vale lembrar que como dono de grande patrimônio imobiliário – depreciado desde a crise financeira global de 2008, com o estouro do mercado de hipotecas, Trump, está incomodado com o fato de que os juros das hipotecas tenham resistido à baixa do Fed. Imagina se o mesmo pensamento fosse manifestado por Lula, aqui.
À espera do Fed, invertendo o comportamento altista da véspera, o dólar cai em todo mundo, embora reduza a pressão baixista após o meio-dia (horário de Brasília), O euro, após subir 1%, registrava alta de 0,65% às 13 horas, enquanto a libra esterlina valorizava 0,84%. O dólar chegou a perder mais de 1,23% frente ao iene na parte da manhã e caía 1% às 13 hs, com queda de 0,45% diante do franco suíço. Diante do peso mexicano o dólar caía 1,13%.
Já a relação do dólar com o real, que ontem fechara em queda de 1,25%, tem um comportamento de ioiô esta quinta-feira. Depois de abril a R$ 5,6767, subiu até R$ 5,7160, desceu à mínima de R$ 5,6360 e voltou a subir depois do meio-dia, com notícias de que há entraves para o anúncio dos cortes de despesas. Às 13:20 o dólar era cotado a R$ 5,7049, com alta de 0,45%.
Genial vê influências da onda republicana
Para o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, “a vitória folgada do candidato republicano, Donald Trump, (...) aliada à formação de uma ampla maioria no Senado assim como uma provável maioria na Câmara, deve dar muito mais força política para ele nesse segundo mandato em relação ao que ele obteve na sua primeira passagem pela presidência”.
“Esse novo equilíbrio de forças deve levar a um cenário de expansão fiscal modesta, menores taxas de imigração e tarifas de importação mais altas “(principalmente sobre a China)”.
Tal contexto permitiria uma total renovação do corte de impostos instituído no primeiro governo Trump em 2017 que expira no final do ano que vem, além de um aumento de gastos federais com defesa nacional, que já vem se expandindo em um ritmo forte nos últimos trimestres. Essas medidas acarretariam num aumento do déficit primário que, por sua vez, deveria ser contrabalançado pelo aumento das tarifas de importação. Além do efeito sobre a arrecadação, as tarifas resultariam em um efeito único de nível sobre os preços e um impacto negativo sobre a atividade econômica”. (...)
“Já no que diz respeito as medidas de desregulamentação, que tendem a gerar mais competitividade e ganhos de produtividade da economia, elas devem se concentrar nos setores financeiro, de energia e tecnológico (abrandamento de políticas antitruste)”.
“Em relação aos impactos sobre o Brasil, essa remodelagem do cenário americano e global vem num momento ruim para a economia brasileira, no qual as principais variáveis macroeconômicas (juros e câmbio) estão estressadas em decorrência da demora do governo em apresentar um pacote fiscal de contenção de despesas”.