Comércio indica PIB fraco no 3º tri

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Puxadas pelo crescimento de 2,3% no volume de vendas de combustíveis, bem superior ao avanço de 0,5% no volume de vendas de hiper e supermercados, as vendas no varejo restrito avançaram 0,5% em setembro. Já o volume de vendas do varejo ampliado avançou 1,8% em setembro sobre agosto (+3,9% ao ano, com ajuste sazonal), abaixo da mediana das expectativas de mercado (+2,3% mês).

Na visão do Itaú, as vendas no varejo de setembro vieram mais fracas do que o esperado pelo mercado, com o varejo restrito abaixo das expectativas e o ampliado com surpresa positiva em “Veículos e autopeças”. A maior surpresa negativa no varejo restrito foi em "Outros artigos de uso pessoal, doméstico" (5,7% vs. expectativa de 13,8% na comparação interanual), enquanto a boa, no varejo ampliado, foi em "Veículos e autopeças" (18,0% vs. esperado de 11,5% na comparação interanual).

Dos 10 setores, 6 avançaram e 4 contraíram na margem. O destaque positivo no mês foi "Veículos e autopeças" (+6,6% no mês), enquanto o destaque negativo foi "Móveis, eletrodomésticos" (-2,9% no mês).

No 3º trimestre de 2024, o varejo restrito subiu 0,3%, enquanto o varejo ampliado expandiu 1,0%. Com o dado de hoje, segundo o Itaú, o carrego estatístico para o 4º trimestre ficou em 0,3% (índice restrito) e 1,0% (índice ampliado). Os dados corroboram a expectativa de desaceleração da economia no terceiro trimestre deste ano, quando o Banco Central reforçou o aumento de juros no dia 18 de setembro (e elevou ainda mais no dia 6 de novembro).

Copom promete sangue suor e lágrimas

Com alerta de que a principal ameaça que sacode os mercados e a economia global – as promessas protecionistas do presidente eleito dos Estados Unidos, de elevar tarifas, em especial sobre produtos chineses, o que tende a gerar pressões inflacionárias nos EUA e levar o Federal Reserve Bank a ser mais conservador na baixa de juros - faz “o ambiente externo permanecer desafiador, em função, principalmente, da conjuntura econômica incerta nos EUA, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed”, o Banco Central divulgou nesta 3ª feira a Ata do Comitê de Política Monetária (Copom), de 6 de novembro, quando a taxa Selic subiu 0,50% a 11,25% ao ano.

Na visão do Itaú, a Ata manteve o balanço de riscos (altistas): i) desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado; (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada; e de riscos baixistas: (i) desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; (ii) os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.

Em outras palavras, sem ser eloquente quanto Winston Churchill, quando assumiu o cargo de primeiro-ministro na 2ª Grande Guerra e conclamou os britânicos à defesa da democracia contra o nazismo, afirmando “só lhes prometo sangue, suor e lágrimas”, o Copom acenou para um cenário duro à frente, traduzida pelo Itaú com o título:

'Ata do Copom: mirando 50 p.b. – até quando?'

Na visão do Itaú, cujo diretor de Estudos Macroeconômicos, Mário Mesquita, foi diretor de Política Monetária do Banco Central, “a Ata do Copom indicou que as autoridades podem prolongar o ciclo de aperto monetário se as expectativas de inflação continuarem a se deteriorar. Também sinalizou que a manutenção de um ritmo de 50 p.b. é apropriada, considerando as condições econômicas atuais e as incertezas prospectivas”.

“Portanto, o comitê parece inclinado a manter o ritmo atual de aperto, por enquanto. No entanto, em nossa visão, há chances de que as condições econômicas e expectativas de inflação – que dependem de importantes decisões fiscais à frente – possam exigir uma aceleração do ritmo em breve”.

Isso significa que as expectativas do mercado de Selic a 13% podem se materializar no começo da gestão de Gabriel Galípolo no 1º trimestre de 2025. Dois fatores foram decisivos para a piora das expectativas: 1- os impactos da seca e dos incêndios sobre a produção agrícola, em especial sobre a carne, cujos preços estão subindo cerca de 10% nos últimos três meses com forte aumento da demanda de exportação; e 2- a escalada do dólar, que voltou a ficar no horizonte com a eleição de Donald Trump.

O efeito disso é principalmente a disparada do dólar e dos preços administrados previstos para o final de 2024 e 2025, o que acelera a inflação. A alta de juros pouco efeito tem sobre os preços dos alimentos, mas terá de ser firme para sustentar diferencial de juros entre o Brasil e os EUA, em patamar mais alto sob a gestão Trump, para tentar neutralizar a alta do dólar.