Itaú vê dólar alto e Selic em 13,50% em 2025
Com os feriadões no Rio de Janeiro para a realização do G-20, atropelados pela divulgação, autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, da estarrecedora trama golpista que pretendia sequestrá-lo, quando presidia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e ao presidente eleito, Luís Inácio Lula da Silva, e ao vice, Geraldo Alckmin, que seriam mortos, criando um vácuo de poder que seria ocupado por uma junta militar governativa comandada pelos generais Augusto Heleno e Braga Neto, com eventual convocação de novas eleições, passou ao largo, sem muito alarde o cenário de novembro, divulgado pelo Banco Itaú no dia 18.
Com o título “Recalculando a rota” e o subtítulo “Fiscal: risco de descumprimento do arcabouço aumenta necessidade de ajuste de despesas”, o maior banco privado do país defende um ajuste fiscal de “pelo menos R$ 60 bilhões até 2026 (R$ 25 bilhões em 2025 e R$ 35 bilhões em 2026) como indispensável para enfrentar o tranco das novas medidas tarifárias do governo Trump, que tende a apreciar o dólar (o Itaú reviu para R$ 5,70 a taxa do dólar no final de 2024 e de 2025 (antes de R$ 5,40 e R$ 5,20, respectivamente). O dólar teve forte alta na manhã de hoje, chegando a R$ 5,8276, mas era operado às 11hs em R$ 5,8220, com alta de 0,82. Por isso, o Itaú elevou a projeção do IPCA deste ano de 4,4% para 4,8% (estourando o teto da meta).
Para piorar o quadro que vai desacelerar a economia desde o 2º semestre deste ano, com menor impulso fiscal e piora do cenário de crescimento externo, o Itaú reviu de 4,2% para 5,0% a previsão do IPCA de 2025, com aumento nos preços das proteínas e ajuste do ICMS dos combustíveis em fevereiro. Em função disso, prevê duro aperto da política monetária, com a taxa Selic atingindo o “patamar de 13,50% a.a. no decorrer de 2025 (anteriormente, 12,00%) e permaneça nesse nível até o final do próximo ano”.
De olho no fiscal
“Com o aumento da percepção que o crescimento das despesas obrigatórias dificultaria muito o cumprimento do limite de despesas do arcabouço fiscal até 2026, estimamos ser necessário um ajuste de pelo menos R$ 60 bilhões, sendo R$ 25 bilhões em 2025 e R$ 35 bilhões em 2026. Para o ano que vem, avaliamos que o montante pode ser obtido caso haja sucesso nas medidas já anunciadas de “pente-fino” de benefícios sociais, implicando em uma desaceleração do crescimento de beneficiários da Previdência e do Benefício de Prestação Continuada (BPC)”, que paga um salário-mínimo a pessoas com mais de 65 anos e incapacidade de subsistência. O governo quer reduzir benefícios na previdência dos militares.
Para 2026, o Itaú ainda considera “necessário um ajuste adicional de ao menos R$ 35 bilhões, que, dada a necessidade de aprovação de medidas legislativas, é importante que seja endereçado nos próximos meses, como pretendido pelo governo no pacote fiscal sendo discutido e a ser enviado ao Congresso nos próximos dias”.
O banco entende “ser importante conjugar essas medidas com impacto de curto prazo que garantam o cumprimento do arcabouço em 2026 com mudanças estruturais que garantam um crescimento menor de despesas no médio prazo, com redução de indexações [dos benefícios do BPC e das aposentadores ao salário mínimo, mantendo apenas a correção da inflação pelo INPC e excluindo o ganho referente à variação do PIB] e vinculações das despesas públicas, além de reforçar a transparência e credibilidade das regras fiscais”.
“A percepção de risco doméstico tem aumentado com a expectativa que o crescimento elevado das despesas obrigatórias dificultaria muito o cumprimento do arcabouço fiscal em seu formato vigente até 2026. Estimamos que, para cumprir o arcabouço em seu formato original, é necessário um ajuste de despesas de pelo menos R$ 60 bilhões, sendo R$ 25 bilhões em 2025 e R$ 35 bilhões em 2026”.
Por isso, o Itaú manteve “a projeção de resultado primário de -0,4% do PIB em 2024” e revisou “a projeção de 2025 para -0,7% (de -0,8%), incorporando receitas recorrentes devido ao mercado de trabalho aquecido. Sem a perspectiva de convergência a resultados primários compatíveis com a estabilidade da dívida pública, a apresentação de medidas que assegurem o cumprimento do arcabouço ganha ainda mais importância. Essas idealmente deveriam incluir iniciativas tópicas, bem como estruturais”.
Dólar a R$ 5,70
“As incertezas fiscais somadas às externas, com perspectiva de um dólar mais forte globalmente” levaram o Itaú “a revisar a projeção de câmbio para R$ 5,70 por dólar em 2024 e 2025 (de R$ 5,40 e R$ 5,20, respectivamente) – a despeito do aumento do diferencial de juros”.
O banco manteve a projeção de crescimento do PIB para 2024 em 3,2%, porém revisou “a projeção de 2025 para 1,8% (de 2,0%). Esperamos alguma desaceleração da economia no 2º semestre desse ano e no ano que vem, em função da taxa de juros mais elevada, impulso fiscal menor e revisão baixista no crescimento global. Enxergamos riscos simétricos para a projeção de crescimento de 2025”.
IPCA estoura teto em 2024 e 2025
O Itaú revisou para cima “as projeções de inflação para cima neste ano e no próximo. Em 2024, projetamos inflação em 4,8% (de 4,4%) incorporando uma alimentação no domicílio mais pressionada em função do aumento do preço de proteínas. Em 2025, revisamos nossa projeção para 5,0% (de 4,2%), incorporando principalmente o efeito do real mais depreciado sobre bens industriais, serviços subjacentes mais pressionados e o anúncio do aumento de ICMS sobre combustíveis em fevereiro”.
BC recalcula aperto monetário
Para o Itaú, “com câmbio mais depreciado, atividade ainda resiliente, expectativas desancoradas (por um período prolongado) e riscos crescentes, o Banco Central precisará recalcular o grau de aperto monetário e avançar ainda mais, e com maior celeridade, em território contracionista”. O banco passou “a esperar que a taxa Selic atinja patamar de 13,50% a.a. no decorrer de 2025 (anteriormente, 12,00%) e permaneça nesse nível até o final do próximo ano”.
Bets afetam conta corrente
Um dado interessante é que o Itaú, que já vem pesquisando o impacto das apostas eletrônicas no consumo fez revisão – para cima – na “projeção de déficit em conta corrente para US$ 56 bilhões em 2024 (de US$ 50 bi) e manteve em US$ 58 bi o de 2025”.
Segundo explicações do banco, “a revisão deve-se principalmente a uma maior saída de recursos através da balança de serviços. Parte dessa piora é explicada pela atividade doméstica ainda aquecida, mas parte parece ser estrutural, ligada ao uso maior de serviços de “streaming”, aplicativos de celular e apostas “online”.
“Além disso, nossa revisão para 2024 inclui uma deterioração adicional da conta de rendas, com maior pagamento de juros e remessa de lucros e dividendos ao exterior. A piora da conta corrente também ajuda a explicar a reação até aqui tímida da taxa de câmbio à política monetária”, diz o Itaú.
PIB desacelerando no 2º semestre
O banco manteve “a projeção de crescimento do PIB para 2024 em 3,2%. Os indicadores mensais para o 3º trimestre começam a mostrar sinais de desaceleração da atividade, que seguirá mostrando crescimento, porém menor do que o registrado no 1º semestre do ano. Contribuem para a desaceleração uma redução gradual do impulso fiscal e uma menor, embora ainda positiva, contribuição do ciclo de crédito”.