Goldman mantém queda de juros com Trump

Por

Embora as mudanças de política esperadas no governo de Donald Trump sejam significativas, a partir de 20 de janeiro, o economista-chefe da Goldman Sachs Research, o departamento de estudos macroeconômicos de um dos maiores bancos dos Estados Unidos, David Mericle, não prevê que elas “alterem substancialmente a trajetória da economia ou da política monetária”. A Goldman espera que o Federal Reserve continue a reduzir os “fed funds” a uma faixa terminal de 3,25-3,5% (a atual é de 4,5% a 4,75%).

"Os temores de recessão diminuíram, a inflação está voltando para 2% e o mercado de trabalho se reequilibrou, mas permanece forte", escreve David Mericle, no relatório da equipe, intitulado "Perspectivas econômicas dos EUA em 2025: novas políticas, caminho semelhante".

O relatório prevê que três mudanças políticas importantes após a varredura republicana em Washington afetem a economia:

1.Os aumentos tarifários sobre as importações da China e sobre automóveis podem aumentar a tarifa efetiva em 3 a 4 pontos percentuais.

2.Uma política mais rígida pode reduzir a imigração líquida para 750.000 por ano, moderadamente abaixo da média pré-pandêmica de 1 milhão por ano.

3.Espera-se que os cortes de impostos de 2017 sejam totalmente estendidos em vez de expirar e haverá cortes de impostos adicionais modestos.

Baixa nos EUA alivia Selic

Se as previsões da Goldman estiverem certas, as apostas de juros mais elevados no Brasil (para manter o diferencial entre os juros americanos e o piso da taxa Selic) poderão estar um pouco exageradas, imaginando cautela do Fed para reduzir os juros à espera de solavancos inflacionários causados pelas medidas protecionistas do novo governo republicano.

Os humores do mercado brasileiro mudaram com a proximidade do anúncio de cortes e com a possibilidade de ser mantido o calendário (com alguma troca no início de 2025) de baixa de juros nos EUA. Coincidência, enquanto o dólar continuava a se valorizar contra o euro, libre esterlina, iene, franco suíço e moedas emergentes, o dólar que estava em alta diante do real - abriu hoje a R$ 5,8142 e chegou a R$ 5,8323 - baixou após o meio-dia, sendo cotado a R$ 5,8042, às 13:50, com baixa de 0,18%.

Pacote de cortes ganha reforço da Petrobras
O governo deve anunciar no começo da próxima semana (até terça-feira), o desenho dos cortes de gastos para ajuste do Orçamento Geral da União para 2025 (quando se estima cortes de pelo menos R$ 25 bilhões) e 2026 (a estimativa de cortes é de R$ 35 bilhões).

Em 2024, a arrecadação de R$ 247,9 bilhões em impostos federais em outubro (com aumento real de 9,8% sobre o mesmo mês de 2023), mostra que o desempenho da arrecadação segue o planejado pelo Ministério da Fazenda e desmente o ceticismo do mercado mês a mês. Mais uma vez, o destaque foi o crescimento real de 20,9% na COFINS e de 18% no PIS/PASEP, decorrentes da reoneração de combustíveis (frente ao mesmo período de 2023), do vigor da atividade econômica e por menores compensações tributárias. Já a alta do dólar levou a crescimento de 64,2% no Imposto de importação.

No acumulado do ano, a arrecadação somou R$ 2,217 trilhões, com aumento real de 9,7% sobre os primeiros dez meses de 2023. Um dos destaques foi o crescimento real de 7,4% do Imposto de Renda, influenciado por recolhimentos extraordinários sobre fundos exclusivos e offshore.

Apesar do bom desempenho, o governo deve anunciar contingenciamento de R$ 5 bilhões até o fim do ano para assegurar o resultado primário (receitas menos despesas, sem considerar os juros da dívida pública) dentro dos parâmetros do Arcabouço Fiscal.

E o caixa do Tesouro Nacional vai receber um reforço extra com a decisão da Petrobras de pagar R$ 20 bilhões em dividendos extraordinários, no dia 23 de dezembro. Como o governo federal detém 28,67% do capital da empresa, receberá R$ 5,7 bilhões, que serão considerados como receita primária. BNDES e BNDESPar receberão cerca de R$ 1,6 bilhão.

Já os detentores de ADR da empresa (20,69%) receberão pouco mais de US$ 700 milhões a partir de 03 de janeiro. Este pagamento impactará a conta de dividendos e lucros do balanço de pagamentos e, possivelmente, o mercado cambial, pois a empresa terá de remeter os valores para o exterior.

FGV: PIB cresce 1% no 3º trimestre
O Monitor do PIB-FGV Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) teve crescimento de 1,0% na economia no 3º trimestre frente ao 2º. Em setembro, na comparação com agosto, o PIB cresceu 0,7%. Os resultados foram obtidos na série com ajuste sazonal. Na comparação interanual a economia cresceu 4,2% no terceiro trimestre e 4,1% em setembro. A taxa acumulada em 12 meses até setembro foi de 3,0%.

O grande destaque foi o forte crescimento da indústria, que ocorreu de forma disseminada. O setor de serviços também cresceu, com alguma desaceleração, e a agropecuária teve retração. Pelo lado da demanda, o consumo das famílias cresceu 4,5% no 3º trimestre e os investimentos avançaram 9,7% no período, pelo quarto trimestre consecutivo. O segmento de máquinas e equipamentos (nacionais e importados) liderou a modernização do parque produtivo, mas o segmento da construção também ampliou a sua contribuição positiva, segundo Juliana Trece, coordenadora da pesquisa.

A exportação cresceu 2,4% no trimestre, liderada pelos bens de consumo. Na comparação com 2023 pesou o forte crescimento das exportações de produtos agropecuários e da extrativa, que encolheram este ano. Já a importação avançou 20,2%, no maior crescimento trimestral desde outubro de 2021 (21,3%).

A importação de bens intermediários e de serviços seguem sendo as principais para esse desempenho, mas também apresentaram trajetórias ascendentes as contribuições de bens de capital e de produtos da extrativa mineral, o que indica a modernização da economia. Isso se refletiu na taxa de investimento de 17,4% no terceiro trimestre de 2024, acima da taxa de investimentos média desde 2015 e um pouco abaixo da taxa de investimentos média desde 2000.