Juro alto não combate impacto da seca
O resultado do IPCA-15 de novembro, com alta de 0,65$, acima dos 0,54% de outubro e vinte pontos acima da expectativa do mercado, devido à forte elevação de 1,23% na Alimentação e Bebidas (0,83% em outubro, levando a taxa acumulada do ano a ,35% e a taxa de 12 meses a 4,77%, acima do teto da meta de inflação (4,50%), comprova a incapacidade de a alta de juros, como instrumento de política monetária, neutralizar impactos decorrentes de aspectos climáticos.
A estiagem prolongada até setembro provocou, junto com os incêndios, uma escalada nos preços dos alimentos, liderados pelas altas de 7,54% nas carnes, item de maior peso na Alimentação e Bebidas, que subiu 1,34%. A alimentação no domicílio acelerou de 0,95% em outubro para 1,65% em novembro, por influência nos aumentos do óleo de soja (8,38%) e do tomate (8,15%). As quedas da cebola (-11,86%), do ovo de galinha (-1,64%) e das frutas (-0,46%) não foram suficientes.
O segundo item que mais pesou no IPCA-15 foi Transporte, com alta de 0,82% influenciada pelo aumento de 22,56% em passagem aérea (impacto de 0,14 p.p.). O subitem ônibus urbano aumentou 1,34%. Em combustíveis (0,03%), houve aumentos nos preços do gás veicular (1,06%) e da gasolina (0,07%), enquanto o etanol (-0,33%) e o óleo diesel (-0,17%) reduziram os preços.
Em Despesas Pessoais (0,83% e 0,08 p.p.), o resultado foi influenciado principalmente pela alta do cigarro (4,97%), devido ao aumento da alíquota específica do Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI incidente sobre cigarros, a partir de 1º de novembro. Nada disse pode ser contido com juros.
No grupo Habitação (0,22% e 0,03 p.p.), a energia elétrica residencial desacelerou de 5,29% em outubro para 0,13% em novembro, com a vigência da bandeira tarifária amarela, a partir de 1º de novembro, que acrescentou R$ 1,885 a cada 100 kWh consumidos.
Itaú vê alta em itens voláteis
Ao analisar o comportamento do IPCA-15, o Itaú destacou a surpresa altista em itens mais voláteis e que não compõem os núcleos de inflação, como passagem aérea e pacote turístico. O item alimentação no domicílio, por outro lado, veio abaixo das expectativas. Em relação aos núcleos, serviços subjacentes vieram abaixo das expectativas puxados por alimentação fora do domicílio, enquanto industriais subjacentes vieram em linha com as expectativas.
Os itens que repetem a variação do IPCA-15 para o IPCA fechado do mês (passagem aérea, cursos, aluguel e condomínio, mão de obra, empregado doméstico, entre outros) vieram 12 bps acima da projeção do Itaú. Na média móvel de três meses, com dados dessazonalizados e anualizados, serviços subjacentes aceleraram para 5,7% (de 5,1%), enquanto o núcleo de industriais subjacentes ficou estável em 2,9%. Na mesma métrica, a média dos núcleos acelerou para 4,6% (de 4,4%).
Para o Itaú, “assim como nas últimas leituras, o qualitativo de inflação seguiu piorando na margem (ainda que um pouco menos do que o esperado), com aceleração em serviços subjacentes. Os industriais subjacentes também seguiram em patamar mais elevado do que o observado no 1º semestre do ano, em função da taxa de câmbio mais depreciada.
Fora as chuvas, Porto Alegre tem menor inflação
Nos índices regionais, as 11 áreas pesquisadas no IPCA tiveram alta em novembro, com a maior variação em Recife (0,94%), por conta da alta da gasolina (6,34%) e da passagem aérea (21,12%). Já a menor subida foi em Porto Alegre (0,25%), que teve queda nos preços da energia elétrica residencial (-1,67%) e da gasolina (-1,31%).
Porto Alegre foi muito castigada pelas chuvas de abril e maio deste ano, que atingiu uma boa parte do Rio Grande do Sul. Mas, em compensação, segundo o IPCA-15 de novembro do IBGE, a capital gaúcha é a que apresenta a menor inflação acumulada no ano (3,41%, contra a média nacional de 4,35%) e de 3,71% em 12 meses (quando a média nacional chegou a 4,77%, acima do teto da inflação, de 4,50%).
A maior inflação é de Belo Horizonte: 5,77% no ano e de 6,13% em 12 meses, seguido de Goiânia (5,3%) e Fortaleza (5,26%). No Rio, a taxa acumulada no ano é de 4,29% e em 12 meses, de 4,91%. São Paulo tem IPCA-15 de 4,36% no ano e de 4,82% em 12 meses.