O OUTRO LADO DA MOEDA
Juro derruba indústria em outubro e pode piorar
Publicado em 04/12/2024 às 17:22
Alterado em 04/12/2024 às 17:22
A queda de 0,2% no desempenho da Indústria em outubro, segundo a Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE, depois de ter crescido 1,1% em setembro, revela como a alta dos juros da Selic em setembro (de 10,50% em que estava estacionado desde maio, para 10,75%, subindo a 11,25% em 18 de novembro), elevou os juros bancários e, depois de afetar o comércio, está travando a indústria, que crescera 4% no 3º trimestre, comparado a igual período de 2023.
E a expectativa, agora, diante da forte subida do dólar – que hoje apresenta ligeiro recuo de 0,04%, mas continua acima de R$ 6,00, a R$ 6,0389 - é de que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) eleve a Selic em 0,75% para 12,00% na reunião da próxima quarta-feira, 11 de dezembro. A LCA Consultores, em cenário divulgado ontem, tendo e vista a confusão causada pelo mercado financeiro em reação ao anunciado aumento do teto de isenção do IR acima de R$ 5 mil – que seria compensado com aumento de 10% no IR de quem tem renda mensal acima de R$ 50 mil, já prevê nova alta de 0,75% da Selic em janeiro e teto de 13% em março, a ser mantido por muito tempo.
Para a Consultoria, a “desconfiança fiscal faz câmbio disparar e requer novos ajustes de projeção”. A LCA esperava que “o anúncio das tão esperadas medidas fiscais poderia trazer algum alívio, ainda que moderado, aos mercados domésticos de ativos” (dólar, juros e ações). Mas, “essa expectativa não só se frustrou como o anúncio das medidas acabou por renovar a desconfiança em relação à política fiscal” gerando “forte pressão adicional sobre a taxa de câmbio”.
A LCA observa que “as medidas fiscais, em si, vieram em linha com o esperado - e parecem capazes de entregar o suficiente para preservar o arcabouço fiscal e aumentar as chances de cumprimento das metas de resultado primário”. Entretanto, o anúncio, simultâneo ao pacote de corte de gastos da isenção do IR, mesmo com a promessa do governo de impacto fiscal zero, foi entendido nos mercados como “um enfraquecimento do compromisso do governo com a solidez fiscal”. Nas contas da consultoria “o aumento da desconfiança acrescentou cerca 25 centavos à cotação cambial desde o anúncio das medidas fiscais, levando o câmbio a superar o valor nominal inédito de R$ 6 por dólar”.
Apesar dos percalços, a LCA avalia que “continua a haver espaço para uma descompressão do câmbio” e vê exagero na reação dos mercados. Até porque , em termos reais, o câmbio está em nível bastante depreciado em relação à média histórica; e, portanto, pode apresentar alguma revalorização, num quadro em que as contas externas continuam bem sólidas”. Isso sem falar no “elevado e crescente diferencial de juros doméstico-externo e a perspectiva de recuperação da safra e das exportações agrícolas” – [um cenário de descompressão, a depender dos impactos das medidas do governo Trump].
'Estrago reputacional'
Entretanto, como o “estrago reputacional provocado pelo atrapalhado anúncio do pacote fiscal tende a se revelar mais persistente - ou não refluirá de maneira rápida e integral” é “conveniente promover novo ajuste, moderado, em nossa curva projetada para a cotação do câmbio - o que nos levou a revisar para cima, também em intensidade moderada, as projeções de inflação”.
Como consequência, em lugar de “altas consecutivas de 50 pontos-base por reunião do Copom até 19 de março, o que levaria a Selic a 12,75% ao ano”, a LCA projeta agora “um ajuste mais rápido e um pouco maior (...) com o Banco Central promovendo mais dois aumentos de 75 pontos-base (em 11 de dezembro e em 29 de janeiro) e encerrará o ciclo de flexibilização com um aumento de 25 pontos-base em 19 de março, o que levará a Selic para 13% ao ano”.
“A princípio, as mudanças não nos levarão a reduzir a projeção para o crescimento do PIB - mas poderemos retirar o viés de alta que adotamos na projeção de PIB para 2025, que está sob revisão”, conclui a consultoria. A desaceleração do comércio e da indústria já está em marcha e a recuperação da Agropecuária em 2025, embora deflacionária, não tem força para sustentar o PIB.