O OUTRO LADO DA MOEDA
Itaú vê Selic a 15% com fiscal insuficiente
Publicado em 13/12/2024 às 13:23
Alterado em 13/12/2024 às 13:23
Na reavaliação do cenário econômico de dezembro, o Itaú, mesmo prevendo recuo do dólar para a faixa de R$ 5,70 em 2025 e 2026, vê estouro no teto da meta de inflação (4,50%) para 2024 (4,9%) e 2025 (5,0%). Por isso e por considerar o pacote fiscal insuficiente, prevê que o Banco Central terá de continuar a subir a Selic até 15%% ao longo de 2025, mas com queda para 13% em 2026, quando o IPCA recuaria para 4,3%, voltando a ficar dentro do teto da meta.
O lado positivo é que a diretoria de Pesquisas Macroeconômicas do Itaú revisou para cima “as projeções para o crescimento do PIB de 2024 para 3,6% (de 3,2%), com o desempenho positivo do setor de serviços no 4º trimestre” e elevou para 2,2% (de 1,8%) a taxa de 2025, “diante do carrego maior e PIB agropecuário forte no 1º trimestre”.
Hoje o Banco Central divulgou o IBC-Br de outubro, que funciona como prévia do PIB, com avanço de 0,1% e alta acumulada de 1,2% de agosto a outubro. O crescimento de 0,4% no Comércio em outubro foi neutralizado pela queda de 1,9% na produção da indústria automobilística em novembro.
O Itaú ainda espera para 2025 alguma desaceleração em relação ao forte crescimento observado em 2024 em função da redução dos impulsos fiscal (via transferências) e monetário (com juro avançando em território contracionista)”
Para 2026, quando projeta crescimento de 2,0%, a avaliação é que “as despesas com transferências e o aumento da faixa de isenção do imposto de renda devem contrabalancear o efeito defasado da taxa de juros mais elevada”.
Pacote fiscal insuficiente
Ao analisar o impacto de cada medida e as suas chances de aprovação/desidratação no Congresso, o Itaú considerou que o Pacote Fiscal apresenta “poucas mudanças estruturais frustra e mantém incertezas” e “pode ser insuficiente para garantir cumprimento do arcabouço fiscal até 2026”.
O banco estima “economia potencial de R$ 56 bilhões em dois anos com o pacote fiscal. Para 2026, o impacto é de R$ 32 bilhões, abaixo da necessidade estimada de corte de gastos de R$ 40 bilhões”.
Diante dos números insuficiente, o Itaú espera “resultado primário [receitas menos despesas, sem considerar os juros da dívida pública] de -0,4% PIB em 2024, -0,7% em 2025 e -0,7% em 2026. O quadro fiscal segue sem melhora estrutural e com riscos crescentes tanto de receitas, com a tramitação da reforma do imposto de renda, quanto de despesas, com a dificuldade de cumprimento do limite de despesas do arcabouço”, sentencia o Itaú.
BRL: espaço de apreciação limitado
“Projetamos taxa de câmbio em R$ 5,70 por dólar em 2025 e 2026. Apesar do diferencial de juros elevado, o cenário global de dólar forte, o aumento prêmio de risco doméstico e a deterioração das contas externas pressionam o real”.
O lento recuo da inflação
“Projetamos inflação de 4,9% em 2024, 5,0% em 2025 e 4,3% em 2026. A depreciação do real e o mercado de trabalho apertado seguem sendo os principais riscos altistas, apenas parcialmente compensados por chance de alimentação menos pressionada (proteínas)”, [devido à forte recuperação de 7% na safra de grãos em 2025].
Selic: avançando mais em território contracionista
“Diante da piora relevante das expectativas de inflação, do câmbio mais depreciado e da atividade ainda resiliente, esperamos que o BC siga elevando a taxa de juros até 15% ao ano. Esperamos que a taxa Selic atinja o patamar de 15,00% a.a. no decorrer de 2025 (anteriormente, 13,50%) e permaneça nesse nível até o final do ano.
“Com relação ao ritmo, esperamos mais duas altas de 100 p.b. – conforme indicado pelo comitê – e uma alta final de 75 p.b na 3ª reunião do ano (em 7 de maio). Naturalmente, diante do balanço de riscos assimétrico para inflação, há possibilidade de um ciclo ainda maior”, destaca o Itaú, que para 2026, projeta “queda da taxa de juros para 13,00% a.a. ao longo do ano”.
Juros altos derrubam Arcabouço Fiscal
A escalada dos juros põe em xeque o principal pressuposto do Arcabouço Fiscal, que era fazer o PIB crescer – sem desequilíbrios macroeconômicos -, o que aumentaria o emprego, a renda e o consumo, permitindo crescimento da arrecadação (com cortes de subsídios e aumento da tributação de isenções para aplicações financeiras dos mais ricos, bem como na tabela do IR). Crescendo o PIB, com juros em baixa, os níveis de endividamento/PIB cairiam naturalmente.
Mas, dois choques exógenos abalaram os pressupostos do arcabouço: o adiamento da redução de juros nos Estados Unidos em maio, começou a germinar uma alta do dólar em todo o mundo, com forte reflexo no Brasil. E questões climáticas (enchentes no Rio Grande do Sul em maio e seca e incêndios no Sudeste, Centro-Oeste e Amazônia no começo do 2º semestre) começaram a pressionar a inflação dos alimentos.
Para piorar, a campanha eleitoral nos EUA acelerou a alta do dólar, diante do crescente favoritismo (confirmado) de Donald Trump e suas promessas de elevação de tarifas de importação, com impactos inflacionários que levam o Fed a protelar a baixa de juros para medir a extensão dos impactos. Nesse contexto, diante da demora de aprovação do pacote fiscal, o Comitê de Política Monetária teve de engrenar tração 4 x 4 nas taxas de juros e pode a anular a economia prevista no pacote, pois cada alta de um ponto percentual onera a dívida em R$ 55 bilhões ao longo de 12 meses. E a alta será de quatro pontos em 2025, ou seja, mais de R$ 220 bilhões.