O OUTRO LADO DA MOEDA
Dólar sobe em todo mundo e real cai mais
Publicado em 23/12/2024 às 14:05
Alterado em 23/12/2024 às 14:05
Depois da baixa da sexta-feira, quando o Banco Central entrou pesado no mercado vendendo reservas, o dólar iniciou a semana em forte alta em todos os mercados e o real apresenta a maior desvalorização do dia, com alta de 1,53% às 13 horas, quando o dólar era cotado a R$ 6,1792. A segunda maior alta do dólar foi contra o peso argentino (+0,71%). Em relação ao peso mexicana subia 0,07%, mas tinha alta de 21% contra o dólar canadense, de 0,34% contra o euro, de 0,47% contra a libra esterlina e de 0,51% frente ao iene e de 0,78% frente ao tradicional franco suíço.
Os bancos centrais dos países emergentes não sabem o que fazer para conter a valorização do dólar e a desvalorização de suas respectivas moedas depois que a eleição de Trump e suas promessas de forte elevação tarifária e deportação em massa de imigrantes provocaram alta de preços e da mão de obra, forçando o Fed a manter os juros para enfrentar o repique inflacionário.
Só que o caminho natural para compensar o aumento das barreiras tarifárias é deixar as moedas se desvalorizarem. A alternativa – combatida por Trump – é os países emergentes que têm forte comércio com a China, a 2ª economia do mundo, abandonarem o dólar como moeda de referência nas trocas comerciais. Enfim, até Trump mostrar as garras, os mercados de moedas estarão muito voláteis.
O que pensa um futuro membro do Copom
O atropelo da agenda do Congresso, que deixou para as duas semanas o esforço concentrado para aprovar a reforma tributária (que estava amarrada há oito meses e foi recheada de jabutis na últimas semanas) o pacote fiscal (enviado pelo governo no fim de novembro) e a aprovação do Orçamento Geral da União (OGU) de 2025, acabou deixando sem tempo para a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado apreciar a indicação de três novos diretores do Banco Central, em especial o sucessor de Gabriel Galípolo na diretoria de Política Monetária (Dipom), porque Galípolo assume a presidência em 1º de janeiro, após o término do mandato de Roberto Campos Neto, em 31 de dezembro. Como o Congresso entrou em recesso e só volta em 1º de fevereiro, a sabatina vai demorar pelo menos 45 dias.
É possível que alguns diretores como Carolina de Assis Barros (a ser substituída por Izabella Correa) e Otávio Damaso (por Gilneu Vivan) estendam seus mandatos, e até que Galípolo acumule a Dipom com a presidência. Ou outro diretor cumpra essa função na reunião do Copom de 19 de janeiro. De qualquer forma, é interesse comparar o que pensa o mercado nas projeções da Pesquisa Focus divulgada hoje, com o pensamento do futuro diretor de Política Monetária, o atual diretor de Tesouraria do Bradesco, Nilton David.
Na pesquisa Focus, o mercado joga a toalha para o estouro do teto da meta de inflação deste ano (3,00%+1,50%=4,50%), prevendo IPCA de 4,91% (4,94%) nas apostas dos últimos cinco dias úteis e o dólar fechando o ano em R$ 6,00 (R$ 6,05 nos últimos cinco dias) e o PIB evoluindo 3,495 (3,50% na mediana dos últimos cincos dias). Mas o que importa são as previsões de 2025: IPCA de 4,84% (5,00% nas respostas dos últimos cinco dias úteis), estourando o teto da meta (4,50%); do câmbio (R$ 5,90/R$ 6,00) e a Taxa Selic em 14,75% (15,00% ao ano na mediana dos últimos cinco dias). Para 2026, a Selic fecharia em 11,75%. Em função dos juros altos, o crescimento do PIB encolhe para 2,00% em 2025 e 1,90% em 2026, quando o IPCA ficaria em 4,00%.
O que pensa o Bradesco
Em análise da semana passada, ainda não atualizada após as medidas do pacote fiscal aprovadas pelo Congresso (a Fazenda nega a desidratação contabilizada pelo mercado), o Bradesco passou “a trabalhar com a hipótese de uma taxa de câmbio constante, próxima aos últimos níveis, de R$ 6,00 daqui em diante”. Neste cenário, o banco espera “que a taxa de juros chegue a 15,25% na primeira metade de 2025. O corte de juros se iniciará na última reunião de 2025, levando a Selic a 11,25% em 2026. Ainda assim, os riscos são para juros ainda mais elevados do que esses, se o objetivo for a firme busca pelo centro da meta”.
PIB encolhe para 1% em 2026
O Bradesco ajustou o crescimento do PIB de 2025 para 2,2%, após alta de 3,6% em 2024.
Para o ano eleitoral de 2026, em função dos juros altos, que enfraquece o consumo e os investimentos e sem expectativa de grande salto na agropecuária, o crescimento deverá ser de 1%. O IPCA deverá ter alta de 4,9% em 2024 e em 2025, chegando ao centro da meta de 3% em 2026.
Como pensam os membros do Fomc sobre juros
Depois de o Federal Open Market Committee (Fomc), o órgão formulador da política monetária do Federal Reserve Bank, cortar em 0,25% os juros americanos e anunciar dois cortes em 2025, os mercados financeiros de todo o mundo, ansiosos para antecipar as reações do Fomc às políticas tarifárias protecionistas de Donald Trump - que tendem a gerar inflação e provocar lenta baixa dos juros - passaram a acompanhar as falas dos 12 membros que atual em rodízio no Fomc, representando os diversos bancos regionais da Reserva Federal.
A presidente do Federal Reserve de São Francisco, Mary Daly, declarou estar "muito confortável" com a projeção de dois cortes de juros no próximo ano. Daly destacou que o banco central pode adotar uma abordagem mais gradual. "Agora, sinto que deixamos para trás a fase de recalibração e entramos em uma nova etapa," afirmou. "Essa fase envolve observar as informações recebidas e retornar a um padrão mais típico de gradualismo."
A presidente do Fed de Cleveland, Beth Hammack, que votou contra o corte de juros na última quarta-feira, argumentou que as taxas deveriam permanecer estáveis até que haja mais progresso no combate à inflação. Hammack afirmou que as taxas estão próximas ao nível neutro e devem ser mantidas em um patamar restritivo por mais tempo.
Auston Goolsbee, presidente do Fed de Chicago, ajustou suas projeções de juros para 2025, mas manteve a perspectiva de quedas nos próximos 12 a 18 meses. Ele elogiou os recentes dados de inflação e acredita que os preços caminham para a meta de 2%.
Já John Williams, presidente do Fed de Nova York, admitiu ter considerado políticas propostas pelo novo governo em suas projeções. Apesar das incertezas, ele classificou a economia como sólida, projetou crescimento moderado e inflação em queda. Williams destacou que a postura atual do banco central é restritiva, e bem-posicionada para responder às novas informações econômicas[do governo Trump, que toma posse em 20 de janeiro].