O OUTRO LADO DA MOEDA
BC perde R$ 115,5 bilhões em ‘swap’ cambial
Publicado em 31/12/2024 às 14:02
Alterado em 01/01/2025 às 11:31
O Banco Central perdeu mais de R$ 100 bilhões em operações de “swap cambial” (venda de dólar contra juros futuros) para tentar estabilizar as cotações do dólar no ano passado. Os movimentos se intensificaram em abril, quando as mudanças de rumo nos juros dos Estados Unidos, anunciadas em fins de março, quando o Federal Reserve Bank adiou o início da baixa dos “fed funds” a partir de maio, provocou alta geral do dólar frente às principais moedas. A situação se agravou no 2º semestre, com o crescente favoritismo de Donald Trump e seus planos de aumentos tarifários, que geraram valorização ainda maior do dólar.
Com exceção de abril, quando o Banco Central ganhou R$ 14,2 bilhões em “swaps”, as perdas se intensificaram de junho (-R$ 28,6 bilhões) em diante, com o recorde já anunciado de -R$ 30,3 bilhões em outubro. Os dados de dezembro ainda não foram divulgados, mas as operações de vendas de dólares pelo BC somaram R$ 30,3 bilhões. De junho a novembro, as perdas acumuladas do Banco Central somaram R$ 115,5 bilhões. Descontando os ganhos de R$ 14,2 bilhões em abril, de R$ 1 bilhão em maio e de R$ 9,9 bilhões, em junho, o BC tinha perda líquida de R$ 90,4 bilhões em 11 meses.
No ano passado foi o inverso: os ganhos prevaleceram sobre as perdas. O Banco Central teve prejuízo em fevereiro (-R$ 10 bilhões) e abril (-R$ 11,2 bilhões), somando – R$ 21,2 bilhões. Mas teve ganhos de R$ 77,9 bilhões entre julho e novembro. Descontando as perdas no começo do ano, houve saldo de R$ 55,7 bilhões em 2023.
Assim, a se confirmarem os resultados negativos de dezembro, o Banco Central pode fechar a gestão de Roberto Campos Neto como um grande causador de déficits ao Tesouro Nacional em 2024. Todo resultado negativo do Banco Central acaba sendo coberto pelo Tesouro no exercício seguinte. Já o lucro líquido (descontando os custos operacionais do BC) é transferido ao TN.
Até setembro, segundo os balanços trimestrais do BC, as operações cambiais tinham acumulado ganhos de R$ 44,686 bilhões. Mas as perdas de outubro e novembro, no valor de R$ 50,6 bilhões engoliram o ganho. Se confirmados os resultados negativos em dezembro, as perdas de 2024 nas operações de “swap” podem superar os R$ 40 bilhões.
Mas a escalada de juros gerou ganhos extras ao Banco Central. De qualquer forma, os altos e baixos no resultado do BC sepultaram a ideia da independência financeira da autoridade monetária.
OLM
O 'prejuízo' das estatais
Está muito mal explicado o tal prejuízo das estatais federais até novembro, com o nítido viés de demonizar o que é estatal e valorizar a privatização. Primeiro que a lista exclui as estatais rentáveis como Banco do Brasil, Petrobras, Caixa Econômica, Banco do Nordeste e BNDES. Com elas, o que era vermelho passa largamente para o azul.
Segundo porque entre as estatais que dão prejuízo estão as redes de hospitais públicos federais - que são mantidos pela União. Isso não anula dizer que há estatais ineficientes e que podiam onerar menos o Tesouro Nacional. Mas a regra geral de analisar o desempenho das estatais bancadas pelo Orçamento Geral da União pela mesma régua de uma S.A está totalmente errada.