Copom sobe juro neutro a 5% e prevê inadimplência
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Em 27 pontos, com mais português do que “coponês”. O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) explicou, na Ata do dia 11, divulgada hoje, o agravamento das pressões inflacionárias e do câmbio que o levaram a elevar em um ponto a taxa Selic a 12,25% ao ano, anunciar duas altas de 1% em 29 de janeiro e 19 de março, e a subir a taxa de juro real neutra (descontada a inflação) de 4,75% para 5,00%. Foi a 2ª alta do juro neutro no ano: em 25 de junho, o Copom já tinha subido o juro real neutro de 4,50% para 4,75%.
Hoje, o dólar sobe em quase todos os mercados, à espera de uma decisão moderada do Federal Reserve Bank, em sua reunião de amanhã (o mercado espera corte de apenas 0,25%, apesar do forte desempenho do setor de serviços em novembro, diante das elevações de tarifas anunciadas por Trump). Curioso que o dólar sobe 0,24% diante do dólar canadense e do peso mexicano, moedas dos dois parceiros da Alca, que não serão poupados por tarifas. No Brasil, o dólar era cotado às 11 hs a R$ 6,1641, com alta de 0,24%.
Com o cenário de juros reais altos por muito tempo, o Copom fez advertência (Item 8) aos riscos da inadimplência no crédito. [Vale lembra que a nova regra de contabilidade que entra em vigor em janeiro de 2025 obriga as instituições financeiras a reforçarem as provisões para devedores duvidosos].
Nos 27 itens examinados e destacados pelos membros do Copom, além de não haver ressalvas quanto a possíveis efeitos passageiros da alta nos preços dos alimentos (fim dos efeitos climáticos de 2024 e a grande safra de 2025) não há qualquer referência ao efeito bumerangue da alta dos juros no comprometimento das metas fiscais: o aumento dos custos da dívida superam largamente o esforço de ajuste fiscal e, ao esfriar a economia e o consumo, reduz o ritmo de crescimento do PIB e da receita, piorando a relação dívida/PIB.
Itaú: 2025 fecha com Selic em 15%
Ao analisar a Ata do Copom, o Itaú ressaltou a “unanimidade em torno da sinalização dura”. E diz que a Ata “apresenta, de forma bastante clara, um cenário de inflação muito desafiador, que motivou a resposta forte de política monetária, embutida tanto na decisão como na sinalização”. (...) Curiosamente, o Copom indica que aumentou mais uma vez sua estimativa da taxa neutra, de 4,75% para 5,00% ao ano. Também é digno de nota que a ata emite um alerta sobre as condições de crédito”.
O banco acredita que “o Copom valorizará tanto sua credibilidade nas próximas decisões que é muito improvável que se desvie do que foi sinalizado, especialmente na direção de uma decisão mais branda”. E repisou sua expectativa de que “a Selic termine o ciclo em 15,00% ao ano, com dois aumentos adicionais de 100 p.b. e um final de 75 p.b., na reunião de maio de 2025”. E crê que mais “detalhes sobre o racional do Copom aparecerão no Relatório Trimestral de Inflação e na coletiva de imprensa, nesta quinta-feira”.
Destaques entre os 27 pontos da Ata
3. Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo, com destaque para a divulgação do PIB do 3º trimestre, que indicou abertura adicional do hiato.
4. A inflação cheia e as medidas subjacentes têm se situado acima da meta para a inflação [4,50%] e apresentaram elevação nas divulgações mais recentes. As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus elevaram-se de forma relevante e encontram-se em torno de 4,8% e 4,6%, respectivamente.
8. (...) Ressalta-se que, apesar da resiliência da atividade, um ambiente de alta de juros, com nível de inadimplência e comprometimento de renda elevados, requer cautela e diligência adicionais na concessão de crédito.
12. (...) Enfatizou-se que os vetores inflacionários se intensificaram desde a reunião anterior, como hiato do produto mais positivo, o mercado de trabalho ainda mais dinâmico, a nova depreciação cambial, a inflação corrente mais elevada e as expectativas de inflação mais desancoradas, tornando a convergência da inflação à meta [3,00%] mais desafiadora.
14. O Comitê debateu as estimativas sobre a taxa neutra de juros que seriam utilizadas como hipótese para as projeções. (...) o Comitê reforçou que a taxa neutra não é uma variável que deve ser atualizada em frequência alta e que tampouco deveria ter movimentos abruptos, salvo em casos excepcionais. (...) o Comitê elevou a taxa de juros real neutra em seus modelos de 4,75% para 5,00% a.a. e seguirá avaliando essa hipótese.
18. Em função da materialização de riscos, o Comitê avalia que o cenário se mostra menos incerto e mais adverso do que na reunião anterior. Riscos à alta da inflação, tais como a resiliência da inflação de serviços, a desancoragem das expectativas e a depreciação cambial se materializaram. Assim, um cenário que até então se mostrava bastante incerto tornou-se mais adverso.
19. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
21. O Comitê avaliou que houve uma deterioração adicional no cenário de inflação, como refletido nas expectativas e projeções de inflação. Concluiu-se que os determinantes de prazo mais curto, como a taxa de câmbio e a inflação corrente, e os determinantes de médio prazo, como o hiato do produto e as expectativas de inflação, se deterioraram de forma relevante. Tal piora demanda uma política monetária ainda mais contracionista.
22. O Comitê então decidiu, unanimemente, pela elevação de 1,00 ponto percentual na taxa Selic e pela comunicação de que, em se confirmando o cenário esperado, antevê ajuste de mesma magnitude nas próximas duas reuniões. (...) a magnitude da deterioração de curto e médio prazo do cenário de inflação exigia uma postura mais tempestiva para manter o firme compromisso de convergência da inflação à meta. (...) vários riscos se materializaram tornando o cenário mais adverso, mas menos incerto, permitindo maior visibilidade para que o Comitê oferecesse uma indicação de como antevia as próximas decisões.
24. O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação, dinamismo acima do esperado na atividade e maior abertura do hiato do produto, o que exige uma política monetária ainda mais contracionista.
25. O Copom então decidiu realizar um ajuste de maior magnitude, elevando a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 12,25% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. (...) essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
26. Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões. A magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.
27. Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.