BC: com modo GG dólar cai 4,12% em uma semana
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Roberto Campos Neto fará “live” logo mais, às 15h, sobre sua gestão como presidente do Banco Central de janeiro de 2019 a 31.12.2024, mas a verdade é que, desde a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), dia 11, que elevou em um ponto a taxa Selic para 12,25% e anunciou duas altas seguidas de um ponto nas reuniões de 29 de janeiro e 19 de março, o manche da Autoridade Monetária já estava com o futuro presidente e atual diretor de Política Monetária, como reconheceu Campos Neto em café da manhã, ontem, com os jornalistas. E Gabriel Galípolo, repisou no encontro que prefere operar com “guide”. Ou seja, antevendo os passos do BC para o mercado operar com mais informações e segurança.
E o efeito da volta da política de “guidance” – motivo de um racha na reunião do Copom de maio, quando Galípolo e mais três diretores defenderam o corte de 0,50% na Selic, como prometido na reunião de março, mas Campos Neto e os outros quatro diretores prevaleceram com o corte de 0,25%, que desencadeou onda de dúvidas no mercado (nas reuniões seguintes o Copom sempre decidiu de forma unânime) – além da antecipação dos passos nos juros, marcou fortes intervenções do Banco Central no mercado de câmbio, naturalmente pressionado em dezembro, mês de remessas de dólares das filiais às matrizes e pressões em viagens internacionais.
Desde o dia 12, quando o BC iniciou intervenções no câmbio, que se intensificaram esta semana, somando uma injeção de mais de US$ 35 bilhões, a cotação do dólar caiu 4,12% até a mínima de R$ 6,6001, nesta sexta-feira, 20 de dezembro. Isso foi feito com três leilões de oferta de câmbio, entre 9:15 e 11:00, somando US$ 7 bilhões, depois dos US$ 8 bilhões vendidos ontem. Mas mesmo com a aprovação do pacote fiscal – com economia de pouco mais de R$ 40 bilhões para 2025 e 2026, desidratado em 43,6% frente aos planos do Ministério da Fazenda (que prometeu buscar novos cortes em 2025), o dólar ainda resistiu em era negociado após as 12 horas a R$ 6, o dia 12, quando o dólar atingiu o recorde de R$ 6,0732, com baixa de 1,34% no dia.
Juros futuros também caem
É verdade que apesar de considerar o pacote insuficiente, o mercado de juros, que chegou a apontar apostas de que a Selic chegaria a 17,5% ao longo de 2025, também caiu fortemente depois que o modo GG mostrou as garras.
Mas vale a pena conferir a interpretação da LCA Consultores, do Itaú e do Bradesco para o conteúdo do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) divulgado ontem com as projeções do Copom para 2025 em diante.
LCA: “o RTI de dezembro mostrou que a inflação converge lentamente para meta sem atingir a meta de 3,0% até a segunda metade de 2027. Este cenário para o IPCA utiliza a seguinte trajetória da taxa Selic: 13,8% para 2025, 11,5% para 2026 e 10,0% para 2027. Assim, se justificou a mensagem “hawkish” do comunicado e da ata. Por certo, a taxa Selic terá de ser elevada de forma relevante ao longo do primeiro semestre e permanecer fortemente restritiva por um período longo para garantir que o hiato do produto retorne ao terreno negativo mais rapidamente que o projetado atualmente, junho de 2026. Nossa avaliação, é que os 3 pontos de aumento da Selic (1 já dado e 2 prometidos), que conduzirão o juro básico a 14,25% em março/2025, ainda serão insuficientes. Nossas simulações mostram que a Selic precisará ir a 15,0% e aí ficar até o fim do ano”.
Já para o Itaú “o cenário reforça a leitura e a sinalização já colocada na última reunião do Copom, de que o movimento de alta de juros ainda deve avançar de forma significativa. Nossa projeção de elevação da taxa Selic para 15,00% a.a. ao final do ciclo é consistente com esse quadro. Porém, caso o movimento recente da taxa de câmbio não seja revertido, enxergamos riscos assimétricos para cima”.
Para o Bradesco, “As projeções de inflação e a comunicação do Banco Central indicam que os juros ainda devem subir significativamente no ano que vem. Nossa projeção é que a Selic alcançará 15,25% na primeira metade de 2025. Ao final do ano esperamos que a taxa esteja em 14,75%”.
Como se vê, a batalha do BC de GG contra o câmbio é crucial para evitar uma elevação ainda mais drástica das taxas de juros, que derrubaria o consumo, a economia e o emprego. Mas a chave da questão depende dos passos do governo Trump, a partir de 20 de janeiro. As encrencas no Orçamento já dividiram até os republicanos no Congresso.