O OUTRO LADO DA MOEDA
Dólar pressiona yuan, libra e euro; real sobe
Publicado em 02/01/2025 às 12:33
No primeiro pregão do ano, e a pouco mais de duas semanas para a posse de Donald Trump (20 de janeiro), o dólar continua a se valorizar e pressionar as principais moedas. Uma das exceções era o real, que apresentava valorização de 0,20% às 11 horas (horário de Brasília). No mesmo horário, o euro tinha perda de 0,39% para o dólar, a libra esterlina caía 0,93%, o dólar subia 25% frente ao dólar canadense e 0,20% frente ao franco suíço. Mas, caía 0,20% frente ao iene e ao peso mexicano e 0,12% em relação à lira turca.
Já contra o peso argentino o dólar valorização de 0,19%. E diante do yan subia 0,47%, num indício de que o Banco do Povo pode deixar a moeda chinesa depreciar para tornar seus produtos mais competitivos para enfrentar o aumento de até 35% nas tarifas alfandegárias pelo governo Trump.
Alguma coisa está fora de ordem
O desempenho das três empresas de supermercados listadas na B3 foi péssimo em 2024.
As ações ON de Assaí amargaram desvalorização de 58,37%, superando as perdas de 55,83% do Carrefour, a rede francesa, que sofreu boicote de consumidores e fornecedores de carne, quando o CEO da matriz francesa pôs em dúvida a qualidade sanitária do rebanho bovino brasileiro. Mas o Pão de Açúcar, controlado pelo grupo francês Casino também não escapou dos problemas causados pela disparada de alimentos (pelas influências climáticas e pelo impacto da alta do dólar sobre os artigos transacionáveis com o exterior) e pelo ônus causado pela alta de juros sobre o giro dos estoques, que ficou mais lento e oneroso. As ações ON do Pão de Açúcar caíram 41,42% na B3. Pior resultado teve a rede atacadista Assaí, com queda de 58,27% nas ações ON.
Entretanto, o paradoxo do mau resultado da alimentação para os humanos se contrapõe ao bom resultado da Rede Petz de alimentação para pequenos animais. As famílias de classe média alta que têm apego por gatos, cachorros e pássaros não medem despesa para cuidar destes “entes queridos”.
E o déficit, hein?
Chega a ser engraçado acompanhar o contorcionismo das análises macroeconômicas das principais casas financeiras sobre a questão fiscal.
Aqui nesta coluna sempre atribuí mais peso às pressões externas, causadas pelas ameaças protecionistas de Donald Trump à escalada do dólar, do que a supostos desequilíbrios fiscais.
Pois o ano de 2024 chegou ao fim – faltam os resultados de dezembro – mas os números até novembro desmentiram as cassandras que alardearam descalabro fiscal para justificar suas apostas especulativas contra o real.
Como as profecias (interessadas na alta dos juros para conter o dólar) dos gestores de carteiras acabam sendo autorrealizáveis, o Banco Central teve de elevar os juros.
Mas a causa era externa (com nome e sobrenome: Donald Trump) e não motivada pelo desequilíbrio fiscal.
Os dados até novembro mostram vigor no crescimento da arrecadação – uma das apostas do Arcabouço Fiscal (o crescimento da economia geraria um círculo virtuoso e melhoraria os indicadores de endividamento – tese oposta à ideia da alta de juros e da contenção de gastos para gerar equilíbrio fiscal (sempre insuficiente para cobrir os gastos de juros, com as altas da Selic).
As últimas análises dos bancos e consultorias já admitem que o resultado primário será cumprido na meta inferior em 2024. Mas não haveria um estouro, razão da alta do dólar?
Para 2025, já não se fala tanto, mas ainda insistem em dizer que o pacote fiscal aprovado pelo Congresso não vai cumprir o volume de economia de R$ 70 bilhões em dois anos (R$ 2 bilhões a menos que o prometido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad). Mas agora, o que se põe em dúvida é a meta de 2026, quando até lá há muito tempo para aprovação de novas medidas de reforço fiscal, como prometeu o ministro Haddad e como prevê as metas flexíveis do Arcabouço.