O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Trump pisca nas tarifas e dólar cai

Publicado em 06/01/2025 às 15:02

Alterado em 06/01/2025 às 15:02

Os planos radicais de Donald Trump de aumentar as tarifas contra produtos chineses, dos parceiros da Alca (Canadá e México), dos europeus e dos asiáticos, sem deixar de lado concorrentes como o Brasil, puxaram o dólar nas alturas. Mas a duas semanas da posse, informa o jornal “The Washington Post” que seus assessores econômicos pediram moderação para não gerar um choque inflacionário, já antevisto pelo Federal Reserve Banco, que reduziu os planos de baixa de juros em 2025. A notícia foi suficiente para derrubar o dólar contra as principais moedas às 12 horas (horário de Brasília).

O euro subia 0,80%, a libra esterlina valorizada 0,75%, o dólar ainda avançava o,04% contra o iene, mas caía 0,42% contra o franco suíço. Mas a maior reviravolta era em relação às moedas dos parceiros da Alca: depois de semanas de alta, o dólar caí hoje 0,82% contra o dólar canadense e 1,30% de baixa perante o peso mexicano. A crise política do primeiro-ministro Justin Trudeau, explica o pior desempenho da moeda do Canadá.

Mas, em mais uma prova de que o que movia a alta do dólar no Brasil eram forças externas em peso bem maior do que desconfianças fiscais (como alegavam economistas e operadores da Faria Lima), o real experimenta uma das maiores recuperações do dia contra o dólar. Depois de fechar sexta-feira a R$ 6,1798 e abrir a segunda-feira a R$ 6,1811, a pressão de alta dos operadores, que chegou a elevar as cotações a R$ 6,1901, não se sustentou diante das notícias externas. Às 12:15 o dólar já era negociado abaixo de R$ 6,15 a R$ 6,1441, com queda de mais de 0,50%. No sentido oposto, o peso argentino tinha perdas: o dólar subia 0,22% no mesmo horário e o dólar avançava 0,18% contra o yuan chinês.

Mercado previu dólar e juros em alta

Sem que os agentes econômicos tivessem conhecimento das dúvidas dos assessores econômicos de Trump, a Pesquisa Focus colhida pelo Banco Central até sexta-feira e divulgada hoje seguiu mantendo previsão de alta do dólar, do IPCA e, em consequência, da taxa Selic em alta.

Na visão atrasada do mercado, o dólar fecha 2025 em R$ 6,00, pouco abaixo dos R$ 6,05 esperados para 2024 e o IPCA, depois de fechar em 4,89% em 2024 (4,85% nas respostas dos últimos cinco dias úteis) caminha para 4,96% (4,99% nas respostas de 5 dias) em 2025. Por isso, o mercado elevou a meta da taxa Selic de 14,75% para 15%. Para 2026, com o dólar a R$ 5,90, o IPCA cede para 4,01% (4,03%) e a Selic baixa para 12,00%. Mas o IPCA de 2027 (3,90%) segue acima da meta de inflação (3,00%).

A questão é que além das possíveis mudanças no cenário externo (a presidente do Banco Central Europeu, Cristine Lagarde, anunciou a disposição do BCE de continuar a cortar os juros para evitar uma recessão (ameaçada pelas políticas de Trump, que quer impor mais compras de gás americano pelos europeus, do contrário aumenta tarifas de importação), fatos recentes como o bônus de Itaipu levaram o mercada rever a inflação de curto prazo (a taxa de dezembro já baixo 0,10 p.p. e a de janeiro é estimada em 0%.

Entretanto, fevereiro tem impacto de reajuste anual das mensalidades e gastos escolares, repique do bônus de Itaipu e possível ajuste no preço de combustíveis. Por isso, o mercado prevê IPCA de 1,33% (1,34%). E a Selic em 13,25% em 29 de janeiro. Mas as projeções dos preços administrados tiveram recuo: de 4,69% para 2025 desde o começo de dezembro, para 4,68% e as respostas dos últimos cinco dias úteis mostraram redução para 4,83% (abaixo da previsão do IPCA (4,96/4,99%).

Cenário pode trazer boas surpresas

Portanto, se os últimos ventos sobre o dólar e tarifas se confirmarem, o cenário inflacionário deste ano pode ser muito mais benigno que o esperado até o Natal e Ano Novo. Com a colheita de grãos entrando no mercado entre o fim deste mês e fevereiro (a antecipação das safras já movimenta os preços para baixo) e o dólar menos pressionado, não seria estranho se o ano trouxesse boas surpresas.

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