O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Ventos mudam nos Estados Unidos

Publicado em 14/01/2025 às 14:41

Alterado em 14/01/2025 às 14:41

Infelizmente, os ventos que estão mudando não são os do Vale de Santa Ana, na Califórnia, que continuam fortes e ampliando os dados dos incêndios em Los Angeles. Mas a biruta mudou ligeiramente na economia, depois do meio-dia, com os dados mais fracos de aumento de preços no PPI (preços ao produtor) em dezembro, que subiram só 0,2% (bem abaixo dos 0,4% esperados pelo mercado). No acumulado de 12 meses a taxa ficou em 3,5%, também abaixo dos 3,8% esperados pelo mercado. Isso aumentou a expectativa sobre a divulgação do CPI (o índice de preços ao consumidor), que pode confirmar a desaceleração da economia.

De outra parte, matéria da agência de notícias Bloomberg dando conta de que a equipe econômica de Trump está propensa a adotar os aumentos tarifários por etapas, para evitar um choque inflacionário na largada do governo (20 de janeiro), se afastou o risco de um aumento dos juros nos Estados Unidos este mês, reforçaram a expectativa de que o Federal Reserve Bank pode reduzir de dois para apenas um o corte de juros este ano (0,25%). O efeito imediato foi uma acomodação do dólar ante as principais moedas.

Às 13 horas (horário de Brasília), o dólar sofria perda ante o euro, que valorizada 0,58%. A libra esterlina, que operara a manhã no terreno negativo, subia 0,07%. O dólar ainda subia 0,24% contra o iene, mas caía 0,37% diante do franco suíço. Contra o dólar canadense tinha queda de 0,17% e uma queda espetacular de 0,95% contra o peso mexicano (os dois países mais ameaçados, depois da China) pelo aumento de tarifas. Por sua vez, o dólar tinha leve queda de 0,01% contra o yuan chinês, subia 0,12% frente ao peso argentino.

Contra o real, experimentava a menor cotação desde dezembro, sendo negociado a R$ 6,0510, depois de ter iniciado o dia cotado a R$ 6,0973, numa queda de 0,73%. O fato demonstra a extrema ligação entre a cotação do dólar e o fluxo de capitais que transitam nas duas mãos em relação ao Brasil conforme o diferencial de juros entre o dólar e o real (“fed funds” X Selic) seja favorável a uma das pontas. Sem aumento nos juros americanos à vista e com o novo salto de 1% na Selic previsto para 29 de janeiro, quando deve chegar a 13,25%, fica evidente o ganho para quem aplica em papéis do Tesouro brasileiro.

Boas novas vêm do campo
O IBGE divulgou hoje a nova estimativa das safras de grãos para 2024/2025, com previsão de uma colheita de 322,6 milhões de toneladas e aumento de 10,2% sobre a safra do ano passado, estimada em 292,7 milhões de t., com queda de 8% frente a 2023. O aumento da produção pode compensar a desaceleração da economia em Serviços (a estimativa da Pesquisa Focus é de que a taxa encolha dos 3,80% de 2024 para 1,90% este ano, recuo de 50% no crescimento) e na Indústria (após crescer 3,8% no ano passado o desempenho deve mostrar avanço de 1,8% em 2025), melhorar a balança comercial e, sobretudo, aliviar a pressão sobre os alimentos.

O grande destaque é a previsão de uma safra de 167,3 milhões de toneladas para a colheita da soja, cuja quebra de produção fez o preço do óleo de soja (turbinado pela alta do dólar no 2º trimestre) subir 29% no ano passado e as exportações do complexo soja encolherem mais de US$ 10 bilhões no ano passado.
As safras estimadas para o milho apontam para uma colheita de 120,6 milhões de t., aumento de 0,4%. Como milho e soja são ingredientes principais das rações animais (aves, suínos, gado leiteiro e gado de corte em confinamento), o aumento da oferta pode, junto com o esfriamento das cotações do dólar, pode ter um impacto benéfico na inflação. As safras de arroz e de café (dois produtos que pressionaram a inflação no ano passado) têm também previsões mais positivas.

O dado impressionante da safra estimada pelo IBGE diz respeito à participação da produção do Centro-Oeste, com praticamente metade da safra do país (49,4%). Mato Grosso lidera a produção de grãos com 31,4% (o que lhe dá vantagem na produção de suínos, aves e engorda de gado, com os subprodutos das lavouras). O Paraná responde por 12,8% da produção e o Rio Grande do Sul vem em terceiro, com 11,8%, à frente dos 11% de Goiás.

Outro dado de destaque é que o Nordeste iguala a produção de grãos do Sudeste (MG, SP e ES), com 8,8%. Basicamente em função da representatividade do MaToPiBa. Excluído o Tocantins (2,6%), líder da produção da região Norte (6,2%), a Bahia lidera com a 3,9% com produção concentrada no Oeste, seguido pelos 2,3% do Maranhão e os 2,0% do Piauí. Apesar de seu tamanho, o Ceará produz apenas 0,2% da safra de grãos, metade dos 0,4% do pequeno Sergipe, o menor estado brasileiro.

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