O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

[email protected]

O OUTRO LADO DA MOEDA

Itaú errou muito em 2024; e para 2025?

Publicado em 21/01/2025 às 23:14

Alterado em 21/01/2025 às 23:14

. OLM

Projeções econômicas são para guardar e conferir depois. Os modelos macroeconômicos de instituições financeiras, institutos de pesquisa e consultorias costumam errar muito porque não conseguem controlar fatores externos (climáticos ou geopolíticos). O Itaú divulgou ontem previsões muito negativas para a economia brasileira em 2025. No ano passado, em janeiro, suas previsões foram todas ultrapassadas pelos fatos climáticos e geopolíticos. O Federal Reserve Bank adiou o início do corte dos juros em maio e depois reduziu o orçamento, o que fortaleceu o dólar contra o real, e o favoritismo de Trump, confirmado na vitória em novembro, fortaleceu o dólar em todo o mundo.

E o primeiro dia útil de mercado nos Estados Unidos após a posse de Trump, com o adiamento das tarifas alfandegárias para fevereiro mostrou o dólar menos valorizado. Resta saber se esse quadro se estenderá para o resto do ano, o que já muda muito das premissas dos modelos.

 


OLM

 

Errou para menos em 2024; para mais em 2025?

Depois de subir 4,83% no ano passado (o Itaú previu 3,6% em janeiro), a inflação medida pelo IPCA deve registrar 5,80% este ano, mesmo com pequena desaceleração do dólar, o banco projeta a taxa de câmbio em R$ 5,90 por dólar em 2025 e 2026 – R$ 5,70 anteriormente). Em função disso, espera uma política monetária contracionista. Ou seja, a Selic deve atingir o patamar de 15,75% ao ano ao final do 1º semestre de 2025 (previa 15,00% no cenário de dezembro de 2024) e permanecer nesse nível até final do ano. Para 2026, projeta queda da taxa de juros para 13,75% ao ano, diminuindo o nível de restrição ao longo do ano. No ano passado previa a Selic em 9% ou menos (deu 112,15).

Os juros elevados devem impactar a economia com mais força a partir do 2º trimestre de 2025 (o 1º trimestre tem impulso da boa safra agrícola). Mas o Itaú alerta que “a dinâmica do real e das expectativas de inflação serão cruciais para determinar o tamanho do ciclo. Caso haja nova rodada de depreciação da moeda e/ou deterioração adicional das expectativas, não é possível descartar uma extensão do ciclo e eventualmente, uma postergação dos cortes em 2026. Em janeiro de 2024, o Itaú previa crescimento do PIB de apenas 1,8% (deu o dobro). E previa déficit fiscal primário (receita menos despesas, sem considerar os juros da dívida pública) de 0,8%. Como os juros cresceram mais no 2º semestre e o PIB acelerou antes as receitas superaram as despesas no fim do ano e o déficit ficou em menos da metade (0,2% do PIB, segundo estimativas preliminares da Fazenda). Mas prevê alta de apenas 2,2% do PIB este ano e de 1,5% em 2026, com o aperto nos juros.

Selic, hoje em 12,25% ao ano, o Itaú espera mais duas altas de 100 p.b. (29 de janeiro e 19 de março), seguidas de duas altas de 75 p.b. nas 3ª e 4ª reuniões deste ano até 15,75% em dezembro.

Inflação em 2023 era vista com uma “dinâmica benigna na margem”. Previa alta na alimentação via preço da carne, mas apontava fundamentos benignos, com ressalva de riscos do El Niño, mas cenário base é de ser moderado (mais fraco do que em 2015). Foi mais fraco, mas não se limitou ao 1º trimestre, devido à estiagem e aos incêndios; os produtos industriais tiveram impacto do câmbio e os serviços (que tinham a desaceleração em dúvida “mesmo com desemprego 8%?”, inverteu com a alta do dólar, apesar da taxa de desemprego ter caído a 6,1%.

Fiscal pessimista sempre:

Para 2024, em janeiro, o Itaú citava “os desafios de sempre” e ainda duvidava: “Cumpre ou altera meta em 2024?”. O banco esperava déficit de 0,8% PIB em 2024 e previa “eventual contingenciamento pode compensar frustração de medidas de arrecadação”. A arrecadação maior (com o crescimento dos estímulos fiscais, como o pagamento de R$ 130 bilhões em precatórios caloteados pelo governo Bolsonaro desde 2021, e mais a antecipação do 13º do INSS para o 1º semestre) fez o PIB crescer muito acima das previsões. Em outubro, o Itaú reduziu a previsão do déficit a 0,7% do PIB e baixou a 0,4% em dezembro. Mas deve dar metade.

Para 2025, o Itaú, por ora, “não esperamos o cumprimento da meta de primário em 2025 (esperamos déficit de 0,7% do PIB, sendo 0,4% para efeitos da meta com exclusão de precatórios), embora reconheçamos que os riscos são de um resultado melhor diante da resiliência da atividade econômica e esforço contínuo do governo na agenda de receitas. E assinala: “Consideramos o cumprimento do limite de despesas, mas o tamanho exato do desafio dependerá principalmente da evolução do número de beneficiários de programas sociais” (ou seja, de uma clivagem que corte o número de beneficiários indevidos no Bolsa Família, no Benefício de Prestação Continuada e no seguro-desemprego).

Deixe seu comentário