O OUTRO LADO DA MOEDA
Dólar a R$ 5,93, menor taxa em 60 dias
Publicado em 22/01/2025 às 15:56
Alterado em 22/01/2025 às 15:56
A decisão do governo Trump, de moderar o ímpeto das medidas tarifárias, adiando a implantação para 1º de fevereiro, com tarifas 25% maiores contra seus parceiros do Nafta (Canadá e México) e deixando para definir os demais atingidos, como China e países europeus e asiáticos como trunfo de negociações bilaterais, trouxe alívio aos mercados de câmbio e acomodação, para baixo, das cotações do dólar. Na gangorra cambial, o real volta a subir em relação ao dólar.
A moeda americana, que chegou a atingir a cotação recorde de R$ 6,3144, em 17 de dezembro, estava sendo negociada ao meio-dia (horário de Brasília), abaixo de R$ 5,94, com cotação de R$ 5,9340 às 12:05, uma queda de 1,45%, quando ensaiou uma recuperação. A moeda que fechou ontem a R$ 5,9445, em baixa de 1,29%, abriu a quarta-feira cotada a R$ 6,0217, atingiu a máxima de R$ 6,0680. Porém, não resistiu, chegando à mínima de R$ 5,9245. Agora, no começo da tarde está oscilando ligeiramente abaixo de R$ 5,9370. Em relação ao pico de 17 de dezembro, a cotação representa uma queda de 5,97%.
Tudo indica, pela acomodação das demais moedas (as exceções são o dólar canadense que cai 0,44% diante do dólar americano, que, por sua vez, baixa 0,28% contra o peso mexicano), que a escalada dos juros no Brasil - o Comitê de Política Monetária elevou a taxa Selic em um ponto em dezembro, para 12,25% ao ano e prometeu duas altas iguais em 29 de janeiro e 29 de março -, com o Copom fazendo um cabo de guerra contra o mercado e vencendo a disputa a uma semana da sua próxima reunião. Como o dólar vem perdendo força no mundo, está custando caro apostar contra o BC, com os juros subindo 1% ao mês num cenário de baixa do dólar.
Cadê a ameaça fiscal?
A queda geral do dólar e que já acumula 4,17% de baixa em um mês, me faz lembrar as justificativas que tanto combati aqui na coluna de que a escalada do dólar (um fenômeno mundial em reação às ameaças tarifárias e inflacionárias de Donald Trump iam atropelar a baixa dos juros americanos pelo Federal Reserve Bank e fortalecer o dólar,) tinham no Brasil um fenômeno extra: o descontrole fiscal apontado pelo mercado. As projeções do mercado apontavam déficit primário de 0,8% a 1,2% do PIB para 2024. Várias casas reduziram o número para 0,4% no fim do ano e ainda assim deve ficar pela metade, ou 1/5 das piores estimativas.
Mas as apostas agora são de fracasso das medidas de ajuste fiscal do governo (corte de despesas combinada com mais tributação sobre atividades e alta rendas que estavam isentas). O Itaú prevê déficit primário (receita menos despesas, sem contra os juros da dívida pública) de mais de 1% do PIB. O que está fora de ordem é o nível de juros (o Itaú prevê 15,75% em dezembro deste ano e 13,75% em dezembro de 2026. Com esses juros, a economia derrapa, o consumo se retrai e a arrecadação será sempre insuficiente para cobrir despesas. E com o PIB menos e os juros maiores, será inevitável uma explosão do endividamento. O que está fora de ordem é o nível previsto para os juros.
A LCA previu 'breve refluxo no câmbio'
Ao anunciar ontem o novo cenário econômico, a LCA Consultores, depois de reafirmar que ”as medidas protecionistas prometidas por Trump, bem como outras iniciativas com potencial inflacionário, serão implementadas de forma parcial e diluída no tempo”, a Consultoria previu que “os sinais de moderação de pressões inflacionárias, no atacado e no varejo, trouxeram algum alívio às taxas de juros dos títulos do Tesouro dos EUA; e levaram os mercados futuros de juros a passarem a precificar probabilidade ligeiramente preponderante a um cenário em que o juro do base do FED sofrerá, em 2025, dois cortes de 25 pontos-base - tal como sinalizado pela mediana dos diretores do FED por ocasião da reunião de dezembro do comitê de política monetária (FOMC)”.
“Sob essa premissa, seguimos projetando algum refluxo, ainda que bastante modesto e irregular, de pressões sobre a nossa taxa de câmbio associadas aos desenvolvimentos externos”. Entretanto, como “os desenvolvimentos externos têm sido a força predominante na formação dos preços dos ativos domésticos: a persistente incerteza no cenário global vem mantendo nossa taxa de câmbio volátil e operando sob pressão”.
A consultoria também põe em dúvida o quadro fiscal que gera “incertezas internas” e também contribuem para limitar qualquer movimento consistente de descompressão cambial; e tornam o cenário inflacionário ainda mais incerto. “Como a desvalorização cambial, ao encarecer a importação de insumos para a produção, exerce pressão sobre os preços dos bens no atacado industrial” isso numa “economia operando com baixo grau de ociosidade de recursos produtivos, acaba por pressionar também a inflação ao consumidor”. Por isso, a LCA elevou a projeção para a alta do IPCA deste ano de 5,0% para 5,4%; e, pela incorporação de uma maior inércia para o ano que vem, elevamos de 4,0% para 4,2% a projeção para a alta do IPCA em 2026”.
Se seguíssimos o PPI...
A Petrobras extrai o petróleo mais leve do pré-sal, que compõe 70% da mistura de petróleos para o refino, a menos de US$ 20 por barril (computando fretes e custos financeiros). Teve condições, portanto, de suportar a escalada do dólar. Para os importadores que compram petróleo a preços do mercado (caso da Acelen-BA) ou dos importados de combustíveis avulsos, é que a situação ficou apertada. Mas com o barril do Brent para entrega em março cotado a menos de US$ 80 e o dólar em baixa, a situação da Petrobras melhorou muito. Para as concorrentes, que se valiam do PPI para ajustar imediatamente os preços domésticos às cotações internacionais ajustadas pelo câmbio a situação era sempre confortável.Mas não para a sociedade brasileira que perdia a vantagem comparativa de ter petróleo farto e a custo mais baixo pagava sempre preços em escalada. Como a gasolina é dos 377 itens pesquisados pelo IBGE com peso mais alta no IPCA (4,95%), qualquer reajuste da gasolina provocava o mesmo efeito do que jogar gasolina na fogueira (da inflação). O abrasileiramento dos preços dos combustíveis está sendo bom para o povo brasileiro. E é recomendável que a Petrobras espere a acomodação do dólar no mundo (que terá reflexos no Brent) para definir o momento certo de ajustar os preços dos combustíveis. Subir gasolina e diesel agora (quando começa a movimentação da safra de grãos) não é recomendável. Trump, certamente, vai mexer seus pauzinhos para baixar o preço do petróleo e dos combustíveis no mundo.