O OUTRO LADO DA MOEDA
Dólar cai a R$ 5,91 antes de Trump em Davos
Publicado em 23/01/2025 às 15:48
A cautela voltou a reinar no mercado de câmbio, com os operadores se desfazendo de apostas agressivas de valorização do dólar depois que o governo Trump recuou de impor altas de tarifas gerais logo em seguida à posse. Por enquanto, só aumentos de 25% para produtos canadenses e mexicanos, a partir de 1º de fevereiro. Por isso, o mercado aguarda com expectativa e em baixa do dólar antes do discurso do presidente americano no Forum Econômico Mundial de Davos, Suíça.
Como o Banco Central aproveitou a fraqueza do mercado ontem para fazer novas apostas de “swaps” do real contra o dólar em cenário de juros em alta (mais duas altas de um ponto em 29 de janeiro e 19 de março), a cotação do dólar voltou a ceder de forma espetacular nesta quinta-feira, com temor do mercado de enfrentar o Banco Central numa queda de braço. Após fechar ontem a R$ 5,9415, com queda de 1,34%, o mercado abriu hoje com a moeda americana cotada a R$ 5,9418, mas as cotações não se sustentaram. Às 12:45 o dólar era negociado abaixo de R$ 5,92, na menor cotação desde 26 de novembro, quando houve uma forte subida do dólar após a eleição de Trump. A cotação era de R$ 5,9180, com baixa de 0,40%.
Eu acho até engraçado porque o cenário inesperado para o dólar – do qual o Banco Central está tirando partido – pode alterar totalmente os cenários pessimistas para 2025. Espero as retratações dos economistas do mercado se Donald Trump anunciar um programa moderado de aumentos tarifárias, precedidos por negociações bilaterais. Os Estados Unidos de Trump anunciaram a saída do Acordo de Paris e da OMS, mas não podem impor baarreiras ao seu bel prazer sem antes negociar na Organização Mundial do Comércio.
Juros altos massacram ações
A gangorra dos juros em 2024, que contrariou todas as previsões do final de 2023 e fechou o ano com a taxa Selic, o piso do mercado financeiro, em 12,25% ao ano, mostrou mais uma vez que os juros altos são fatais para o mercado de renda variável. Num ano em que, segundo os dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), as empresas captaram o valor recorde de R$ 783,4 bilhões no mercado de capitais, com um crescimento de 66,7% sobre 2023, as captações em instrumentos de renda fixa somaram R$ 709,2 bilhões (90,5%) do total e os instrumentos de renda variável captaram R$ 74,2 bilhões, dos quais R$ 25 bilhões foram em operações de “follow on” (continuidade de oferta de ações), que encolheram 20,4% em relação a 2023. E o Ibovespa teve queda de 10,6%.
As apostas no mercado financeiro no final de 2023 pareciam reservar um ano promissor para o mercado de ações. A Selic que estava em 12,25% ao ano até meados de dezembro de 2023 e fecharia o ano em 11,75%, tinha apostas de que fecharia em 9,00% em dezembro e desceria a 8,50% em dezembro de 2025. Entretanto, o Federal Reserve Bank alterou para pior seu plano de voo em maio e o crescente favoritismo de Trump, com promessas (inflacionárias) de barreiras tarifárias. Alteraram completamente o cenário. Para piorar desastres climáticos domésticos (enxurradas no Rio Grande do Sul, estiagem e incêndios no Sudeste e Centro Oeste) e internacionais pressionaram a inflação dos alimentos e o dólar em alta forçou o Banco Central a elevar a Selic para 12,25% em dezembro. As apostas para 2025 estão acima de 15% ao ano.
Isso provocou um movimento recorde de captações em instrumentos de renda fixa. Só em dezembro, as ofertas somaram R$ 99,4 bilhões, o maior resultado mensal de toda a série histórica, iniciada em 2012. As debêntures lideraram as captações em 2024 com R$ 473,7 bilhões, ou 60,47% do total. E boa parte das captações foi para melhorar o perfil de endividamento e para projetos de infraestrutura. O prazo médio das debêntures como um todo atingiu 7,8 anos, sendo de 12,9 anos nos papéis incentivados. No mercado secundário, o volume negociado de debêntures chegou a R$ 707,6 bilhões, o maior patamar da série histórica, com um crescimento de 59,2% em relação a 2023. Os papéis com incentivo fiscal responderam por R$ 278,6 bilhões desse montante, mais do que dobrando (115,8%) o valor registrado no ano anterior.
Os FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) se destacaram com o 2º maior volume anual entre os instrumentos em 20424 (R$ 81,4 bilhões), + 86,1% sobre 2023. As companhias captaram R$ 58,9 bilhões (+ 23,4% sobre 2023 em CRIs (Cerificados de Recebíveis em Imóveis) e os CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) somaram R$ 41,3 bilhões, com queda de 4,7%, refletindo a redução das safras de soja e milho (não compensadas pelas altas da carne e do café). As comerciais tiveram ofertas de R$ 43,6 bilhões, superando em 56,1% o valor de 2023. Os FIIs (Fundos de Investimento Imobiliário) movimentaram R$ 44,3 bilhões, com aumento de 46,1%.