O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

[email protected]

O OUTRO LADO DA MOEDA

Dólar volta a cair e ajuda o Copom

Publicado em 28/01/2025 às 13:44

Alterado em 28/01/2025 às 13:44

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) volta a se reunir hoje à tarde e amanhã, 29 de janeiro. O mercado espera a elevação, por unanimidade, dos oitos diretores e do presidente Gabriel Galípolo, que estreia na função com mais três diretores, da taxa Selic para 13,25% ao ano, entregando a primeira das duas adicionais altas de 100 p.b. que foram sinalizadas no final do ano passado. Comparadas ao que foi apresentado na reunião de dezembro, as projeções de inflação do Copom no cenário de referência (que inclui taxa de câmbio seguindo a paridade do poder de compra e taxa de juros de acordo com a pesquisa Focus) devem subir: de 4,5% para 5,2% para 2025 e de 4,0% para 4,2% no horizonte relevante (que se desloca do 2º para o 3º trimestre de 2026).

Desde a reunião de dezembro, segundo o Itaú, “o Copom enfrentou rodadas de piora nas divulgações semanais da pesquisa Focus para expectativas de inflação, uma composição mais desafiadora para a inflação corrente, e uma taxa de câmbio que segue pressionada (ainda que com algum alívio na margem). Tais fatores, em conjunto com os modelos prospectivos de inflação, poderiam justificar a sinalização de ajustes de mesma magnitude para as próximas duas reuniões”.

Mas o fato novo é que o dólar reverteu a escalada e com a cotação de hoje, às 11:30 horas (R$ 5,8845), acumula nova baixa de 0,15% no dia, quando sobe diante do euro, da libra, do iene, do franco suíço e do dólar canadense e tem pequena baixa (-0,17% ante o peso mexicano). Mas em uma semana o real sobe 2,27% e 5,23% em um mês. Isso é um movimento importante para definir o reajuste dos combustíveis – sobretudo diesel e gasolina, no momento em que, tanto o dólar quanto as cotações do óleo tipo Brent estão em baixa. O diesel, que é o principal produto vendido no país, precisa ter o preço definido antes da movimentação das safras de grãos, que começa este mês, para evitar maior desgaste para o governo.

Quando vigorava o PPI, sistema de paridade dos preços domésticos à cotação internacional ajustada pela taxa de câmbio, uma alta em maio de 2018, no pico da safra, revoltou os caminhoneiros que fizeram greve de duas a três semanas. Agora, com o “abrasileiramento” dos preços, a Petrobras está se valendo do baixo custo do petróleo do pré-sal (pouco mais de US$ 20) para manter os preços estáveis por mais tempo (o petróleo do pré-sal responde por 70% do petróleo refinado), evitando instabilidades que tanto turbinam a inflação, como desgastam a popularidade dos governos.

De qualquer forma, mesmo com o alívio no câmbio, o Itaú acredita que “a política monetária mais restritiva deve impactar a economia com mais força a partir do 2º trimestre. Diante de tal risco, em meio a elevado grau de incerteza, avaliamos que a reação mais provável da autoridade monetária seja não indicar a magnitude dos movimentos para reuniões além da próxima”. Ou seja, o “foward guidance” está sujeito às chuvas e tempestades desencadeadas por Trump.

As manchetes exageram inflação e juros

Caro leitor, quero me desculpar por um grave erro de digitação na coluna de ontem. Em vez de teclar o dólar a R$ 5,9090, o movimento “comeu” o primeiro 9 e a cotação publicada foi de R$ 5,090(antes fosse). Com o erro, exagerei na baixa do dólar em 40 dias. Fui alertado, quase meia noite por um irmão que já atuou no mercado financeiro. Foi corrigido. Mas renovo as desculpas. No começo da carreira (fevereiro de 1974, quando vigorava o regime das minidesvalorizações cambiais mensais), por um lapso, troquei no velho Jornal do Brasil a nova cotação do dólar em cruzeiros e digitei a taxa do mercado a termo (como as minidesvalorizações eram previsíveis “antecipei” em um mês a taxa do dólar). Mas a credibilidade do JB na Economia era enorme (batia a da Gazeta Mercantil) e o mercado de câmbio ficou parado praticamente na parte da manhã. Felizmente, ontem, o mercado já estava fechado e as informações instantâneas revelavam a cotação real de fechamento.

Feita a “mea culpa”, aproveito para criticar a preferência das editorias de economia dos jornais e sites em entrevistar gestores de recursos. Estes estão sempre apostando em inflação e juros maiores e acabam gerando a síndrome das projeções autorrealizáveis. Há algumas semanas, o “Valor Econômico” chegou a entrevistar gestor que, no auge da escalada do dólar, chegou a prever a Selic em 17% este ano. Hoje, o mesmo jornal publica enquete com gestores e consultorias: a maioria aposta em Selic a 15,00% em dezembro (o Bradesco que tem o novo diretor de Política Monetária prevê 14,75%, mas o Itaú prevê 15,75% junto com sete instituições). A maior e solitária previsão é de 16,25%. Quatro instituições preveem 16,00%.

Mas o mesmo “Valor” traz hoje outra manchete “informando” (?) que “os preços da carne e do café podem subir 20% este ano”. No ano passado, as carnes, que têm o maior peso na alimentação, subiram 20% e o café subiu 39%, com a seca no Vietnã (2º produtor mundial e líder no café robusta) e na Indonésia. Fui pesquisar a provável origem da notícia. O melhor “oráculo” é o das respectivas cotações nos mercados futuros. Pois a saca de café, no contrato C da Bolsa de Mercadorias de Nova Iorque, está sendo negociada à vista por US$ 361. Mas a cotação negociada para entrega em dezembro de 2025 é de apenas US$ 245, uma baixa de 32%. Já o boi gordo, estava sendo negociado à vista nos Estados Unidos a US$ 201, mas os contratos para entrega em dezembro eram negociados a US$ 196, com uma queda de 2,48%. Como as projeções do dólar para o fim do ano ficaram estáveis em R$ 6,00, não há justificativa – além da manipulação de mercado – para previsões tão altistas.

Mas o pior é que tais versões colam e formam expectativas.

Deixe seu comentário