
O OUTRO LADO DA MOEDA
Queda de serviços leva PIB a 3,4% em 2024
Publicado em 12/02/2025 às 14:22
Alterado em 12/02/2025 às 14:26
O Departamento de Estudos e Pesquisas Econômicas do Bradesco analisou a queda real de 0,5% na receita dos serviços em dezembro, divulgada esta amanhã pelo IBGE, e considerou que o resultado, com crescimento de 2,4% com relação a dezembro de 2023, confirma a desaceleração da atividade. A queda nos serviços foi acompanhada por três das cinco atividades investigadas, com destaque para a queda de outros serviços, -4,2% no mês, e -11,2% no ano contra ano. Os serviços prestados às famílias mostraram altas de 0,8% no mês e 2,2% no ano contra ano. Já os Serviços de transporte aéreo voltaram a mostrar força, crescendo 7% no mês, com o movimento sazonal de fim de ano.
Ao reponderar os números da Pesquisa Mensal de Serviços com os pesos do PIB, o Bradesco encontrou uma queda de 1,1% no mês. A série foi revisada para baixo. Realizando o mesmo exercício, o Depec encontrou uma queda de 1,9% para o mês de novembro agora. Para o Bradesco, “a surpresa baixista foi disseminada no dado de dezembro e reforça a leitura de desaceleração à frente da economia brasileira. A revisão baixista da série também segue essa direção. A projeção é que o PIB tenha crescido 3,4% em 2024 e, para este ano, o avanço deve ser de 1,9%.
LCA vê pressões na inflação
Não foi só o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que, ao participar em “live” conjunta do Cebri e da Casa das Garças, só faltou usar o famoso charuto para parafrasear Winston Churchill, quando assumiu o cargo de primeiro-ministro durante a 2ª Guerra e disse que “não podia prometer nada além de sangue, suor e lágrimas”. Galípolo disse que “no curto prazo, é lógico” que a sociedade, empresas e famílias devem passar por “momento desconfortável”, quando a inflação deve seguir em patamar desconfortável, fora da meta, “repercutindo todos os eventos do passado e você espera que a política monetária vá fazendo efeito gradativamente e apresentando um processo de desaceleração”.
Com a credencial de ter cravado a variação de =0,16% para o IPCA de janeiro, a LCA Consultores, que divulgou ontem a atualização do cenário de conjuntura, anunciou nesta quarta-feira, sua previsão para a inflação de fevereiro (1,33%), março (0,56%) e de abril (0,47%). Como a variação do IPCA em 12 meses atingiu 4,56%, se as projeções estiverem corretas, considerando as taxas respectivas dos mesmos meses do ano passado: 0,83%, 0,16% e 0,38%, a inflação em 12 meses marcharia para 5,08% este mês, para 5,45% em março e 5,60% em abril. Ou seja, mais de um ponto acima do teto da meta de inflação (3,00% + 1,50% de tolerância = 4,50%).
A LCA ainda projeta alta de 0,69% em alimentos e bebidas este mês, nova alta em março (0,79%) e desaceleração em abril para 0,65%. A Alimentação em domicílio subiria 0,75% este mês, 0,84% em março e 0,72% em abril. Mas a pressão no orçamento doméstico viria em Habitação, pelo repique do bônus de Itaipu: depois de ter contribuído para queda de 0,56% em Habitação em dezembro e -3,08% em janeiro, o repique vai contribuir para uma alta estimada em 4,28% em Habitação, nos cálculos da LCA.
Outros grandes impactos viriam de Transportes (0,71% em fevereiro) e Educação (5,16% pelo impacto das matrículas e compra de material educativo. Vale notar que a LCA prevê pressões em Saúde e Cuidados Pessoais em abril. Com os impactos previstos para este mês, os preços monitorados podem subir 3,20%, contra 1,73% dos preços livros e influenciar alta de 1,00% em serviços. Mas até abril os serviços tendem a ter aumento inferior a 0,40% e os demais na faixa inferior a 0,50%.
OLM
Trump insiste em juro baixo apesar da alta da inflação
Antes mesmo do tarifaço da administração Trump pressionar os preços domésticos, a inflação ao consumidor nos Estados Unidos em janeiro surpreendeu com o aumento de 0,5%, acima dos 0,3% esperados pelos analistas, que vêm motivos para o Federal Reserve Bank redobrar a cautela com a política monetária. Mas ainda assim, ignorando os fatos e os fundamentos econômicos, o presidente Donald Trump, agindo mais como investidor imobiliário que prefere juros baixos para valorizar o patrimônio, insistiu que os aumentos das tarifas “podem andar de mãos dadas com a baixa dos juros”. O Bradesco acha que o Fed “vai esperar para ver” o que fazer.
Mas os mercados financeiros de todo o mundo não pensaram como Trump. Desde as 11 horas (horário de Brasília), quando foram divulgados os dados nos EUA, o dólar começou a subir ante as principais moedas. O real seguiu a manada. Depois de abrir a R$ 5,7675, as cotações subiram até o meio-dia, mesmo com o anúncio do Banco Central de rolagem de 15.000 contratos de “swap” cambial que venceriam em 5 de março. Não deu para o mercado fazer um carnaval e as cotações estavam de R$ 5,7655 às 13:30, com alta de 0,03%.
LCA vê margem estreita no câmbio
Para a LCA, o espaço para que o câmbio doméstico continue a se valorizar “parece limitado”. Primeiro, porque continuamos a avaliar que o dólar seguirá fortalecido nos mercados mundiais de câmbio. Depois, porque o cenário fiscal doméstico continua (e tende a seguir) bastante anuviado, num contexto em que o resultado orçamentário não deverá melhorar a ponto de estabilizar a dívida/PIB nos próximos anos.
As elevadas taxas de juros de longo prazo e a piora das expectativas de inflação de longo prazo podem ser vistas como sinais de que os mercados continuam céticos em relação ao cenário para as contas públicas. Na ausência de um alívio cambial mais consistente, a inflação deverá registrar descompressão lenta e irregular, com a contribuição de uma moderação do crescimento induzida por uma política monetária que permanecerá restritiva por período prolongado.
Outro fator que contribui para uma revalorização (parcial) de nossa moeda é o aumento do diferencial de juros doméstico-externo, que instiga o apetite de investidores estrangeiros por aplicações na renda fixa brasileira. O espaço para que o câmbio doméstico continue a se valorizar, no entanto, nos parece limitado. Primeiro, porque continuamos a avaliar que o dólar seguirá fortalecido nos mercados mundiais de câmbio - dada a perspectiva de que a taxa de juros básica será reduzida de maneira mais lenta nos EUA do que em outras economias avançadas.
Outro sinal de ceticismo com o cenário fiscal - e com a evolução da política econômica em geral - é a deterioração das expectativas de inflação para prazos mais longos. As projeções de curto prazo para a inflação vêm sendo substancialmente elevadas, em resposta à forte depreciação cambial observada na segunda metade do ano passado, que tem mantido a inflação e as principais medidas de núcleo correndo em patamares claramente incompatíveis com as metas.
Mas as projeções para prazos mais longos também vêm se deteriorando, em que pese o forte aperto de condições monetárias. Essa deterioração para prazos mais longos pode estar sendo influenciada pela piora das expectativas inflacionárias de curto prazo; mas também reflete a percepção de maior risco fiscal e, possivelmente, uma sensação de que o Banco Central poderá vir a mirar uma inflação um degrau acima da meta de 3%.
Nessas circunstâncias, continuamos a avaliar que uma descompressão cambial mais consistente - seja por fatores externos e/ou internos - parece guardar probabilidade reduzida, ao menos para este ano. Com isso, a inflação deverá registrar descompressão lenta e irregular, contando com a contribuição de uma moderação do crescimento induzida por uma política monetária que permanecerá restritiva por período prolongado.