O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

gilberto.cortes@jb.com.br

O OUTRO LADO DA MOEDA

Trump ajuda especulador no câmbio

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Publicado em 06/03/2025 às 15:02

Alterado em 06/03/2025 às 17:33

Bolsonaro Agência Brasil

As decisões do presidente americano Donald Trump, de anunciar a vigência de novas tarifas comerciais a cada início de mês – decisão posteriormente adiada por mais um mês para abrir espaço a negociações bilaterais – têm ajudado (e muito) aos especuladores nos mercados futuros de dólar – no Brasil e no exterior. Pelo menos, no Brasil, os contratos de câmbio têm o último dia útil de negociação no fim de cada mês, com a liquidação financeira no primeiro dia útil seguinte.

Assim em fins de janeiro houve grande movimento especulativo na B3, que foi ainda mais intenso no vencimento de 28 de fevereiro (uma sexta-feira), pois a liquidação financeira se daria na tarde da Quarta-Feira de Cinzas, dia 5 de março, devido aos feriados de Carnaval. Na quinta e sexta-feira passada, houve pressão altista, impactada pela nova ameaça de tributação sobre as importações da China e União Europeia. ´

Mas, com novo recuo de Trump, o dólar desabou ontem e continuou em leve queda hoje até às 11 horas. Depois de abrir a R$ 5,7395, as cotações subiram para R$ 5,7550, com alta de 0,05%, em meio à baixa quase geral do dólar, que viu o euro subir 0,36%, a libra 0,05%, o iene avançar 0,93% e o franco suíço, 0,81%. O peso mexicano também valorizou 0,48% com as idas e vindas nas determinações de Trump. Pelo visto, o Banco Central terá de fazer estratégia especial no próximo vencimento, em 31 de março, uma segunda-feira. O que me chama a atenção é a imprensa especializada não fazer ligação entre as altas súbitas e os contratos futuros de dólar.

Um café bem amargo

Não é só para os consumidores brasileiros que o café anda tão amargo pela alta de mais de 70% nos últimos 12 meses. Os grupos exportadores de café também estão sendo tragados pelas altas súbitas que exigem chamadas de margem nos contratos futuros. Altas súbitas em outras crises tragaram grupos de papel e celulose como o Votorantim e a Aracruz, além da Sadia, na crise financeira mundial de agosto/setembro de 2008.

Agora, a vítima que pediu recuperação judicial para reestruturar uma dívida de R$ 2,13 bilhões foi o grupo mineiro Montesanto Tavares (GMT), um dos maiores exportadores de café arábica do Brasil. O pedido de RJ na 2ª Vara Empresarial da Comarca de Belo Horizonte (MG) e inclui as empresas Atlântica Exportação e Importação, Cafebras Comércio de Cafés do Brasil, Montesanto Tavares Group Participações e Companhia Mineira de Investimento em Cafés. O GMT detém cerca de 8% das exportações brasileiras de café arábica e atua em diversos segmentos da produção à comercialização, incluindo contratos futuros nas bolsas de mercadorias de futuros.

As dificuldades financeiras do grupo, causadas pela volatilidade no mercado de café se agravaram com a escalada do dólar desde setembro. O grupo tento renegociar dívidas em novembro e dezembro, quando obteve uma proteção temporária contra execuções judiciais por 60 dias, concedida pelo juiz Murilo Silvio de Abreu, da 2ª Vara Empresarial de Belo Horizonte. Mas a medida não se estendeu às dívidas relacionadas a contratos de adiamento de câmbio, garantias sobre estoques e instrumentos financeiros de proteção contra oscilações de preços, que continuaram passíveis de cobrança. O pedido de RJ foi feito em 25 de fevereiro de 2025.

O GMT atribui a crise financeira à combinação de fatores como a alta expressiva nos preços do café, que acumula valorização superior a 120% nos últimos 12 meses, e a desvalorização do real frente ao dólar, o que elevou os custos operacionais e as exigências de depósitos adicionais para cobrir oscilações no mercado futuro. A quebra da safra de 2021/22 também foi citada como um fator crucial, forçando a empresa a comprar café a preços elevados para honrar contratos. Os principais credores do GMT são Banco do Brasil, Santander, Safra, Bradesco, BTG Pactual, Itaú e Banco do Nordeste. A Atlântica Exportação e Importação acumula dívidas de R$ 894 milhões, enquanto a Cafebras deve R$ 527 milhões. No total, o passivo declarado na petição judicial é de R$ 2.128.915.129,41.

Receita separa o joio no PIX

Acertadíssima a decisão da Receita Federal de excluir do cadastro do PIX pessoas físicas e jurídicas em dívidas pendentes com o Fisco. Com as facilidades de transações financeiras em segundos, o PIX facilita a vida do setor de comércio e serviços que melhora sua posição contra o sistema financeiro em grandes feriados, como o do Carnaval. Antes do PIX, os recebimentos a partir das 16 horas da sexta-feira (com exceção de bancos instalados em shoppings, que aceitavam depósitos por mais duas ou três horas, só poderiam ter créditos a partir das 12 horas de quarta-feira. Se tivessem em débito nos bancos, os juros seriam elevados nos feriados. Agora, as perdas são evitadas.

Mas as facilidades do PIX se prestavam a outros meliantes e transações entre “laranjas” e a evasão de divisas nas transações com o exterior (caso dos sites de apostas registrados em paraísos fiscais). A Receita fechou uma fonte de evasão, mas estava redondamente certa ao baixar a instrução em setembro do ano passado para que instituições de pagamento e cartões de crédito prestassem informações sobre transações acima de R$ 5.000. A pressão dos “lobbies” do setor cítrico (que abriga laranjeiros e produtores de limão físico e fantasmas que se passam por empresários do agronegócio, falou mais alto e o governo recuou da medida. Ainda está em tempo.

Acabou

Expirou há poucos minutos o prazo para o ex-presidente Jair Bolsonaro apresentar sua defesa perante o relator do inquérito do golpe, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.

É bom lembrar que em setembro de 2021, Bolsonaro bradou de um palanque da Avenida Paulista. “Acabou, porra! A partir de agora não acato mais ordens ou decisões de Alexandre de Moraes”.

No dia seguinte, pediu ajuda ao ex-presidente Michel Temer, que indicara Moraes ao STF, para escreverem a quatro mãos uma carta de desculpas ao ministro, seguida de um telefonema.

Não se sabe agora se Temer foi acionado para pedir clemência a Alexandre de Moraes.

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