O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

gilberto.cortes@jb.com.br

O OUTRO LADO DA MOEDA

Dólar cai com a maior diferença de juros

Publicado em 21/03/2025 às 15:15

Alterado em 21/03/2025 às 15:15

A diferença dos pisos de juros entre o Federal Reserve Bank e o Banco Central explica boa parte da reversão do fluxo de dólares ao Brasil – e os altos e baixos nas cotações da moeda norte americana, desde o 2º semestre do ano passado. Com a decisão do Fed de manter os juros nos EUA entre 4,25% e 4,50% ao ano e a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) de elevar a Selic para 14,25% ao ano esta semana, a diferença atingiu o recorde de 9,75 pontos percentuais – a maior em dez anos.

Junto com as ameaças de aumento de tarifas pelo candidato Donald Trump, medida inflacionária, que explica por que o dólar começou a subir em 18 de setembro, quando o diferencial ficou em apenas cinco pontos percentuais (nesta data o Fed reduziu os juros de 5,25%-5,50% para 4,75%-5,00%). Foi o menor diferencial e o auge da cotação, que começou a cair em 18 de dezembro, quando o diferencial se alargou para 7,75%, quando o Fed fez a última baixa de juros para a faixa de 4,25%-4,50% e o Copom já tinha elevado a Selic a 12,25% em 11 de dezembro.

Como o Fed manteve a taxa inalterada no intervalo de 4,35%-4,50% e a Selic subiu esta semana para 14,25% ao ano, o diferencial atingiu o recorde de 9,75 pontos percentuais. Não admira que o dólar que tenha alcançado seu pico no Brasil em 17 de dezembro de 2024, quando chegou a ser negociado a R$ 6,3144 e caiu no dia seguinte quando o Fed reduziu pela última vez os juros em 0,25 ponto percentual para a atual faixa de 4,25%-4,50%. Aí foi a vez do Copom alargar a diferença e o dólar cair.

O que explica a redução de US$ 35,4 bilhões nas apostas do dólar contra o real nos mercados de derivativos desde dezembro. Se o diferencial de juros passou a ser um atrativo para “turismo” de capitais especulativos no Brasil (por parte de investidores estrangeiros - PFs e fundos de investimento- e de brasileiros com fundos em paraísos fiscais “off-shores”), não teria sentido manter apostas contra o real.

Mesmo com a recuperação do dólar esta semana nos mercados de câmbio – a moeda dos EUA sobe 0,38% contra o euro e 0,545 contra a libra esterlina às 13 horas (horário de Brasília deste sexta-feira), o real assiste a uma alta de 0,74% do dólar, cotado a R$ 5,7235, mas acumula ganho na semana (-0,31% para o dólar) e no mês (queda de 0,20% do dólar).

A tabela abaixo indica que toda a vez que o diferencial de juros entre os dois países ficou abaixo de sete pontos percentuais, dólar subiu no Brasil, com apostas do mercado financeiro contra o real.


Qual a dúvida sobre o fiscal?

O Congresso aprovou ontem finalmente, com três meses de atraso o Orçamento Geral da União de 2025. A Câmara e Senado entraram em recesso em 20 de dezembro, sem concluir a votação do OGU. A nova proposta foi aprovada depois de o governo (em negociação da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, incluir no OGU deste ano mais de R$ 11 bilhões em emendas parlamentares represadas no ano passado. (ao que parece, o fenômeno vai se repetir para 2026), porque, mesmo sem cortes nas emendas do Congresso, o OGU foi aprovado com previsão de R$ 15 bilhões de superávit primário (receitas menos despesas, sem contar os juros da dívida).

As grandes instituições financeiras ainda não atualizaram o cenário com o novo OGU. Até a semana passada havia muitas dúvidas e estimativas bem piores no resultado primário. O Bradesco, entre os mais otimistas, previa déficit primário de R$ 58,6 bilhões (0,4% do PIB). O Santander previa déficit de R$ 80 bilhões e o Itaú estimava o déficit em 0,7%, o que aproximaria o valor a R$ 100 bilhões.

Vale lembrar, como chamou a atenção o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista ontem à GloboNews, que o mercado estimava déficit de 0,9% do PIB em 2024, antes da tragédia do Rio Grande do Sul consumir muitas verbas públicas. Com a contabilização dos gastos no RS, o déficit seria de 0,4% do PIB; sem ele, de apenas 0,1% do PIB. Um erro abismal.

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