O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

gilberto.cortes@jb.com.br

O OUTRO LADO DA MOEDA

Uma semana de expectativas

Publicado em 24/03/2025 às 16:20

Com a viagem do presidente Lula ao Japão e ao Vietnã, acompanhado dos presidentes das duas casas do Congresso e lideranças políticas, enquanto o Supremo Tribunal Federal instala amanhã o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete altos ex-funcionários do governo na área de segurança e forças armadas, o mercado financeiro aguarda com expectativa os dados que serão divulgados pelo Banco Central e pelo IBGE.

O Banco Central divulga amanhã a íntegra da Ata da última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) elevou, em 19 de março, a taxa Selic para 14,25%, seguindo a orientação de dezembro. Mas o comunicado trouxe pequenas alterações de redação, considerado “marginalmente mais “hawkish” em comparação com a precificação de mercado”, pelo Santander, que entender ter o Copom suavizado ligeiramente sua visão sobre a atividade global e doméstica, mas os riscos de inflação permanecem inclinados para cima, de modo que a continuação do ajuste deve prosseguir.

Para o departamento econômico do Santander, chefiado pela economista Ana Paula Vescovi, ex-secretária do Tesouro no governo Temer, “ao mencionar as defasagens do ciclo de aperto em curso, o BCB abre a possibilidade de encerrá-lo já em maio. Dito isso, como as expectativas de inflação do mercado e do BCB ainda devem permanecer bem acima da meta, ainda prevemos outra alta da taxa Selic em junho”. Na verdade, como o Santander previa que a taxa Selic atingiria 15,50% e agora já admite revisão na previsão, pois “o cenário base do BCB parece ser mais +50 bps em maio e uma porta aberta para junho”.

Se a leitura das entrelinhas da Ata não for suficiente, na quinta-feira, 27 de março, o Banco Central divulga as estimativas trimestrais do antigo “Relatório Trimestral de Inflação”, renomeado na gestão de Gabriel Galípolo como “Relatório de Política Monetária”. Já não era sem tempo, tantos eram os erros de avaliação do RTI em matéria de inflação, PIB, contas externas e, consequentemente, do cenário de atuação da política monetária.

O próprio Galípolo estará presente à apresentação, ao lado do diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, responsável pelo RTI desde 2022, quando o apresentava ao lado do ex-presidente Roberto Campos Neto.

Inflação cedendo?

Na mesma quinta-feira, mas cedo, o IBGE anuncia o resultado do IPCA-15 de março, que é uma prévia da inflação cheia do IPCA de março. Em palestra hoje de manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, previu boas surpresas da inflação. O último IPCA-15, de fevereiro, teve alta de 1,23%, por forte influência do rebate do bônus de Itaipu na energia elétrica residencial e do aumento anual dos custos da educação. A pesquisa Focus, colhida até sexta-feira junto a 150 instituições financeiras, consultorias e institutos de pesquisa, e divulgada hoje pelo Banco Central, apontou a mediana de 0,57% a 0,58% (respostas dos últimos dias úteis). O Bradesco prevê 0,70% e a LCA Consultores, 0,74%.

Aguarda-se, com expectativa, os primeiros sinais de desaceleração dos preços de produtos agrícolas com o quase encerramento da colheita de soja no Centro e o encerramento do plantio de milho para a 2ª safra (de inverno – a maior do ano). As pressões sobre a carne estão se revertendo (acompanhando a queda do dólar – negociado depois das 13 horas a R$ 5,7310, alta de 0,05%), mas o café (por influência da conjuntura internacional, quebra de safras do Vietnã (2º produtor) e da Indonésia (4º), que pressiona os preços mundiais, liderados pelos Estados Unidos (maior importador), segue sendo fator de preocupação.

Os EUA são ainda causadores da disparada dos preços dos ovos de galinha, pois a gripe aviária dizimou boa parte de seu plantel de poedeiras e afetou a criação de perus, patos e marrecos. Para suprir a demanda, os EUA estão mudando as regras para comércio doméstico e de importação de ovos. Empresas brasileiras, como Granja Faria e a JBS Friboi, que comprou a Ovos Mantiqueira (MG) ano passado, estão vendendo parte da produção para lá.

A força do emprego

Na sexta-feira, 28 de março, o IBGE divulga a pesquisa de emprego referente ao trimestre encerrado em fevereiro da PNAD Contínua, enquanto o Ministério do Trabalho também revela o balanço do Caged em fevereiro, com o saldo entre admissões e demissões com carteira assinada. O mercado financeiro aguarda o esfriamento do mercado de trabalho para avaliar quando o Banco Central começará a estancar o aperto monetário.

Outro dado a ser conhecido esta semana é o resultado da arrecadação federal de impostos em janeiro.

PIB menor impacta primário

No geral, os números previstos na pesquisa Focus não mudaram para 2025: o IPCA segue acima do teto da meta de inflação (4,50%), com 5,65% (5,66% nos últimos cinco dias) e a Selic terminando em 15% e em 12,50% em 2026. A maior novidade foi a baixa na projeção do dólar em dezembro deste ano (de R$ 5,98 para R$ 5,95 e as respostas dos últimos cinco dias úteis apontam para R$ 5,90.

Mas os juros altos levaram o mercado a prever crescimento menor do PIB (1,98% este ano, na mediana e 2,00% nas respostas dos últimos cinco dias úteis, contra 3,4% no ano passado. Com juros mais altos travando a economia, o mercado estima que o déficit primário (receitas menos despesas, sem contar os juros da dívida) vai cair ligeiramente este ano (de 0,60% para 0,57% do PIB), bem acima da previsão do Orçamento Geral da União (superávit de R$ 15 bilhões) e aumentar em 2026, quando o crescimento de apenas 1,60% em 2026 (1,68% nas respostas dos últimos cinco dias), fará o déficit primário subir de 0,65% para 0,66% e 0,68% na previsão dos últimos cinco dias úteis.

Como se percebe, Haddad terá de gastar muita saliva para mudar a visão do mercado financeiro.

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