O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

gilberto.cortes@jb.com.br

O OUTRO LADO DA MOEDA

Ata: Bradesco vê Selic em 15,25%

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Publicado em 25/03/2025 às 14:17

Alterado em 25/03/2025 às 14:21

As análises das Atas do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) feitas pelo Bradesco passaram a ganhar maior importância desde o momento que seu ex-diretor Tesoureiro, Nilton Davi, foi aprovado como novo diretor de Política Monetária (Dipom), no lugar do atual presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. Até então, as análises mais pertinentes eram as do Itaú, de onde vieram o antecessor de Galípolo, Bruno Serra, e o diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, além do ex-diretor do BC Mário Mesquita.

Por isso, chama a atenção a visão do Bradesco, que manteve até análise do dia 13 de março a previsão de que a Selic (elevada pelo Copom a 14,25% em 19 de março) fecharia o ano em 14,75%, a interpretação de que a “ata é consistente com um Copom comprometido com a continuidade do ciclo de aperto. Dada a ausência de contrapontos relevantes e a preocupação com os riscos inflacionários altistas, entendemos que um juro terminal de 15,25% é compatível com a comunicação atual”.

A íntegra da análise do Bradesco:

'Ata do Copom reforça tom cauteloso do comunicado'

“A ata do Copom reforçou o tom “hawkish” do comunicado, sem apresentar contrapontos relevantes à continuidade do aperto monetário. Expectativas desancoradas, repasse cambial, serviços ainda pressionados e hiato positivo sustentam o cenário adverso para o Copom. O Comitê reafirmou a redução de magnitude no próximo ajuste de juros, explicitando que esse ciclo não acabou.

“Na ata, o Copom mantém trecho de que as expectativas seguem desancoradas, elevando-se novamente desde a última reunião. As expectativas de inflação do Focus subiram 0,15 pontos em 2025 (5,65%) e 0,28 pontos para 2026 (4,5%). As expectativas para 2027 e 2028 seguem acima da meta.

“Apesar da ata reconhecer sinais incipientes de moderação da atividade, o Comitê lista três fatores de cautela: revisões estatísticas, dados correntes mistos e incertezas futuras (por exemplo, o PIB da agricultura e seus impactos). Não há menção a choques de oferta como outrora, nem contraponto relevante à visão de hiato positivo”, diz o Bradesco.

Para o Bradesco, o Copom vê que “o crédito do Sistema Financeiro Nacional tem dado sinais de desaceleração/estabilização e o Copom entende que esse movimento está em linha com o cenário base. Já o crédito ampliado, em especial via mercado de capitais, deve continuar apresentando dinamismo segundo a ata."

A pressão do câmbio

O Bradesco chama a atenção para o fato de que “a ata enxerga que a alta do câmbio no fim do ano passado já pressiona preços do atacado e haverá repasse ao varejo em breve. Alimentos continuam elevados e com efeitos inerciais. A preocupação com a inflação corrente segue presente, sem sinal de melhora na avaliação do Banco Central”.

Em conclusão, o Bradesco considera que a “ata é consistente com um Copom comprometido com a continuidade do ciclo de aperto. Dada a ausência de contrapontos relevantes e a preocupação com os riscos inflacionários altistas, entendemos que um juro terminal de 15,25% é compatível com a comunicação atual”. Ou seja, se o nível de alta em 9 de maio cair para 0,75% ou 0,50%, supõe-se mais duas altas até 15,25% ao ano em 18 de junho e 30 de julho.

Dólar cai abaixo de R$ 5,69

No dia de divulgação da Ata do Copom, o dólar tem forte queda no mundo, em reação às notícias de enfraquecimento da economia americana, como reflexo dos problemas na interrupção das cadeias produtivas, dependentes de bens importados de países sob taxação (Canadá, México, China e membros da União Europeia, e o Brasil, no caso do aço e do alumínio).

Ao meio-dia o euro registrava alta de 0,12% frente ao dólar, a libra esterlina subia +0,19%, o dólar caía 0,61% frente ao iene e -0,32% diante do franco suíço. E, ao ser negociado a R$ 5,6820, o dólar registrava queda de 1,43% diante do real.

Desde o recorde de R$ 6,3144, em 18 de dezembro, o dólar já caiu mais de 10%. É um peso importante para esfriar a fervura do ajuste dos preços. A entrada da safra agrícola e a estabilidade dos preços dos combustíveis podem contribuir para esfriar as pressões inflacionárias temidas pelo Banco Central e pelo mercado no segmento de serviços.

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