O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

gilberto.cortes@jb.com.br

O OUTRO LADO DA MOEDA

Poeira começa a assentar nos mercados

Publicado em 08/04/2025 às 14:47

Alterado em 08/04/2025 às 14:47

Após o pânico desde a semana passada, com a escalada do tarifaço, a poeira começou a assentar nos mercados de câmbio, ações, commodities e títulos, embora ainda permaneça a dúvida se China e Estados Unidos escalarão ainda mais a guerra tarifária (a resposta será logo mais à tarde). Nos mercados de câmbio o dólar ficou mais fortalecido ante o euro, iene e moedas emergentes. O dólar subia 1,17% ante o real, cotado a R$ 5,99, às 13:20. Destaque foi a desvalorização do yuane chinês ante o dólar, que subia 0,42%.

Os mercados de ações reagiram em Nova Iorque. Depois de cair até 21% na parte da manhã, o índice S&P VIX (ações de alta tecnologia) reduziu a baixa a 11% após às 13 horas (horário de Brasília) e o índice de ações tradicionais, como o S&P 500, subia 1,77%. Mas o Ibovespa registrava queda de 0,12% na B3.

E o ouro voltou a subir 1,24%, enquanto a alta da prata, que escalara mais de 3% na véspera, ficou em 1,22%. O petróleo do tipo Brent tinha alta superior a 0,50%. Na cesta de commodities exportadas pelo Brasil, o café estava em baixa de 0,48% em Nova Iorque, a soja em alta de 1,74% em Chicago. Mas o suco de laranja tinha alta de 1,57% em nova Iorque e o Boi Gordo subia 0,54%, em dólar.

Itaú duvida do cumprimento da meta fiscal

Ao analisar o déficit primário consolidado do setor público (receitas menos despesas, sem considerar os juros da dívida pública) de R$18,973 bilhões em fevereiro, o Itaú, que esperava déficit de R$ 19,9 bilhões, considera difícil o “o cumprimento da meta de resultado primário de -0,6% do PIB neste ano (considerando abatimentos e o limite inferior da meta oficial de 0%), embora reconheçamos que os riscos são de um resultado melhor do que o que estimamos atualmente, diante do esforço contínuo do governo na agenda de receitas.

Para o Itaú, é “importante que o governo anuncie uma contenção de gastos discricionários significativa, da ordem de R$ 35 bilhões, além de incluir, nos limites das regras fiscais, as despesas atualmente executadas fora do orçamento. Ademais, será importante a confirmação da meta de superávit primário de 0,25% na PLDO de 2026, a ser enviada na próxima semana. Essas iniciativas poderiam amenizar, ao menos em parte, os riscos de perda de credibilidade do arcabouço como âncora fiscal”.

Lembra o Itaú que o governo se comprometeu a enviar ao Congresso, até 15 de abril o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026, junto com o projeto de isenção do IR até R$ 5 mil mensais, quando deve reafirmar a meta de superávit primário de 0,25% do PIB para o ano que vem. Mas o banco assinala que “propostas alternativas para modificar começam a surgir na Câmara e discussões devem se intensificar em abril. Mudanças na forma de compensação serão o maior ponto de debate”.

Outras propostas que tomarão conta do mês são i) Comitê Gestor da Reforma Tributária e indicação de membros; ii) Gás para Todos; iii) Sanção do Orçamento 2025.

No lado fiscal, o principal destaque do mês será o envio do PLDO de 2026 até o dia 15 e a expectativa é de manutenção da meta de resultado primário de 0,25% do PIB para o ano que vem. Em abril de 2024, a redução da meta de resultado primário dos anos subsequentes (2025 de 0,5% para 0,0%% e 2026 de 1,0% para 0,25%) gerou significativa deterioração das condições financeiras e aumento da percepção de risco fiscal, sinalizando uma estabilização mais longínqua da dívida.

O Itaú espera “que o governo não postergue novamente a trajetória de consolidação fiscal e reafirme as metas estabelecidas no ano passado (2026 0,25%, 2027 0,5% e 2028 1,0%). Vale ressaltar que a meta para 2026 exclui 0,4% do PIB em pagamento de precatórios, conforme acordo no STF”, diz.

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