
O OUTRO LADO DA MOEDA
Brent cai abaixo de US$ 60 o barril
Publicado em 09/04/2025 às 17:46
Alterado em 09/04/2025 às 17:46
Os mercados começam a reagir à escalada da guerra tarifária entre Estados Unidos e China, com a imposição de taxação de 104% sobre os produtos “made in China” nos EUA. O efeito imediato foi uma queda do dólar frente ao euro, ao iene, ao dólar australiano, e ao canadense e alta do ouro (+3,15%), alta de 0,86% do dólar frente ao real (novamente acima de R$ 6,0580).
Mas a boa notícia (em termos de inflação) é que o preço do barril do petróleo tipo Brent caiu abaixo de US$ 60, sendo cotado às 12 horas (horário de Brasília) a US$ 59,50, baixa de 5,18%. A notícia pode desagradar aos acionistas da Petrobras que ajuda a neutralizar a alta do dólar e pode levar a estatal a baixar a gasolina este mês, se a poeira assentar, ajudando o combate à inflação. Para a Petrobras, que extrai do pré-sal 72% do óleo usado em suas refinarias, com custo em torno de US$ 20 por barril, incluindo fretes, a baixa geral não afeta tanto o seu preço de realização no refino.
A baixa da gasolina pode ser o empurrão que faltava para o recuo dos preços dos alimentos e dos serviços, levando o Banco Central a pensar em pausar a alta dos juros antes de 15% ao ano. Antes do choque tarifário, não se esperava tão cedo baixa de juros. Agora já entra no cenário de 2025.
Choque tarifário turbina incerteza global
A LCA Consultores atualizou ontem à noite seu cenário econômico com a nova escalada tarifária do governo Trump, “frustrando – ao menos por ora – dramaticamente a expectativa de implementação seletiva de tarifas de importação”.
Para a consultoria, “as tarifas anunciadas foram: (a) generalizadas, em termos de abrangência geográfica e do escopo de produtos atingidos; (b) muito mais elevadas do que se cogitava; e (c) definidas de forma incoerente com qualquer estimativa de reciprocidade tarifária entre parceiros comerciais”.
“Os EUA já explicitaram que usarão as novas tarifas como arma para obter concessões em negociações bilaterais. Muitas economias, em especial de menor porte, tenderão a ceder a boa parte dos pleitos dos EUA, de modo que muitas das tarifas recém-anunciadas acabarão sendo substancialmente reduzidas”.
“Mas as negociações com parceiros de maior porte econômico e/ou menor alinhamento geopolítico tenderão a ser muito difíceis. Assim, o aumento abrangente, expressivo e arbitrário de tarifas adotado pelos EUA tende a deflagrar ondas de retaliação, configurando uma guerra tarifária - sobretudo, mas não apenas, com a China”.
“Diante do aumento significativo da incerteza global, estamos elaborando revisões nas projeções internacionais de nosso cenário. É possível adiantar que a guerra tarifária constitui, para os EUA, um choque negativo de oferta - e deverá resultar em revisões para cima na inflação e para baixo no crescimento do PIB”.
Brasil terá choque desinflacionário
Assim, a princípio, avaliamos que o choque tarifário tende a trazer efeito líquido algo desinflacionário para o Brasil, facilitando o desafio do Banco Central de trazer a inflação e as expectativas para mais perto da meta.
Porém, o aumento da aversão global ao risco suscitado pela guerra comercial pode tornar o câmbio doméstico mais volátil e potencialmente mais desvalorizado, o que mitigaria (ou até anularia) o efeito desinflacionário do recuo das commodities e da desaceleração da demanda global.
Outro risco na mesma direção seria o governo brasileiro reforçar ainda mais as medidas de estímulo fiscal diante da ameaça de um esfriamento econômico induzido pela guerra tarifária global. Isso poderia piorar a percepção de risco fiscal no Brasil, reforçando pressões sobre o câmbio e a inflação.
Assim, o viés de baixa que a guerra comercial global tende a exercer sobre as projeções de atividade, inflação e juros para a economia brasileira nos parece, em princípio, menor do que o viés que ela impõe sobre as projeções para variáveis internacionais.
Para a maioria das demais economias, incluindo o Brasil, avaliamos que a guerra tarifária tende a ser, ao contrário, um choque positivo de oferta, pois deve esfriar o comércio mundial e, portanto, gerar um excedente de produtos comercializáveis, com impacto de baixa sobre os preços internacionais das commodities.
Ao lado disso, a guerra tarifária tende a contribuir para uma desaceleração global da atividade econômica, constituindo-se num choque negativo de demanda.
Pré hecatombe externa, comércio cresce 0,5% em fevereiro
Antes dos tarifaços de Trump deflagrarem a guerra comercial, espalhando incertezas na economia mundial, o mercado brasileiro mostrava força pelo segundo mês seguido em 2025, com crescimento de 0,5% no volume de vendas do comércio em fevereiro, após alta de 0,2% em janeiro. No comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e material de construção, o volume de vendas variou 0,4% na série com ajuste sazonal. O Itaú chamou a atenção para o fato de que os bens mais sensíveis à renda (novo salário-mínimo) cresceram mais do que aos dependentes do crédito.
Mas, depois do terremoto, seguido de tsunami, no comércio mundial, até o passado se torna incerto. O virtual fechamento do mercado americano aos produtos chineses pode gerar uma enxurrada de ofertas de “negócios da China” no Brasil, que pode interferir nos negócios do varejo. A conferir.
As lojas Havan, por exemplo, serão um bom exemplo, pois se trata do maior importador no Brasil de artigos “made in China” e de asiáticos taxados.